Ana Gomes lamenta "mutismo total" de Moçambique no desaparecimento de português

O cidadão português, de 49 anos, é pai de dois filhos que estiveram entre a meia centena de pessoas presentes numa vigília em frente à embaixada de Moçambique, em Lisboa.

Foto

A eurodeputada Ana Gomes lamentou nesta sexta-feira "o mutismo total" por parte de Moçambique quanto ao desaparecimento de um empresário português, raptado em Sofala em Julho de 2016, por elementos de forças de segurança moçambicanas, de acordo com testemunhas.

"É verdade que é um desaparecimento muito estranho, um desaparecimento forçado, sem que a família tenha quaisquer notícias, mas ainda mais estranho é a ausência de notícias por parte das autoridades moçambicanas", declarou à Lusa a eurodeputada, que participou nesta sexta-feira numa vigília em frente à embaixada de Moçambique, em Lisboa, conjuntamente com a família e amigos do empresário Américo Sebastião.

Ana Gomes sublinhou que "há um bloqueio por parte das autoridades moçambicanas, o que torna muito mais estranho o desaparecimento" de Américo Sebastião.

O cidadão português, de 49 anos, é pai de dois filhos que estiveram entre a meia centena de pessoas presentes na vigília, que, segundo a mulher do empresário, Salomé Sebastião, visou "obter respostas" e "pedir cooperação efectiva das autoridades moçambicanas"

Salientando que "há indicação de que poderiam ter sido forças governamentais que o teriam raptado", embora tenha ressalvado que "não está confirmado", a eurodeputada lembrou que "houve outros casos de desaparecimentos de cidadãos portugueses em que as autoridades moçambicanas aceitaram a ajuda, por exemplo da Polícia Judiciária portuguesa".

"Não é normal que não queiram cooperar com a família", afirmou Ana Gomes, que expôs o caso a Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança.

"Mogherini respondeu que estava preocupada, o que mostra que a situação em Moçambique está a ficar complicada do ponto de vista da segurança", disse a eurodeputada, lembrando que a família do empresário "tem tido o apoio do Governo e das autoridades portugueses" e destacando que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, "tem-se interessado pelo caso".

Ana Gomes revelou ainda desconhecer-se a motivação que levou ao alegado rapto e ao desaparecimento, acentuando que Américo Sebastião "tem sócios bem relacionados" em Moçambique, "um deles é deputado da Frelimo" (Frente de Libertação de Moçambique).

A mulher de Américo Sebastião disse que espera "um empenho completo e total de todas as autoridades que possam resolver, nomeadamente as moçambicanas, que acelerem o processo".

"Nenhum dado novo"

Salomé Sebastião apelou ao Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, para que "se envolva pessoalmente no caso, faça o máximo e dê celeridade às investigações".

Américo Sebastião foi raptado numa estação de abastecimento de combustíveis em 29 de Julho do ano passado, em Nhamapadza, distrito de Maringué, província de Sofala, no centro do Moçambique.

Segundo a família, os raptores usaram os cartões de débito e crédito para levantarem "4000 euros", não conseguindo mais porque as contas foram bloqueadas logo que foi constatado o desaparecimento.

Em Maio, o ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos de Moçambique, Isac Chande, em resposta a uma pergunta de um deputado do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, da oposição), disse que estavam a decorrer "diligências investigativas pertinentes para o esclarecimento do caso".

"Devido à relevância do caso e às dificuldades de efectuar diligências na região, por ser palco de instabilidade político-militar, o Ministério Público ordenou a remessa dos autos à Direcção Provincial de Investigação Criminal de Sofala, para procedimentos subsequentes", acrescentou Chande.

Fonte do gabinete do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, comunicou hoje à Lusa que não existe "nenhum dado novo", estando as autoridades portuguesas a aguardar "os desenvolvimentos da investigação judicial em curso em Moçambique, conduzidas pelas respectivas autoridades".

Sugerir correcção
Comentar