Maior accionista dos CTT garante que “sacrifício será limitado”

Manuel Champalimaud, o maior accionista dos CTT, diz que a empresa tem de reduzir os custos “nas áreas que estão em queda”. E na véspera da greve fala em “carinho” pelos trabalhadores.

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Francisco Lacerda já foi chamado ao Parlamento para explicar o plano que prevê centenas de saídas nos Correios Nuno Ferreira Santos

Para Manuel Champalimaud, não há dúvidas: os CTT “têm de acompanhar a evolução do mercado, ser mais competitivos e ganhar eficiência, reduzindo os custos nas áreas que estão em queda e investindo nas áreas de maior desenvolvimento”.

Numa referência ao plano de reestruturação apresentado ontem, e que implica a redução de postos de trabalho, o empresário e maior accionista dos CTT (com 10,46%) diz estar “consciente que este sacrifício será limitado e deve-se apenas à sustentabilidade da empresa”, afirmando ter o “maior carinho e respeito pelos colaboradores”.

Através de um depoimento escrito enviado ao PÚBLICO, Manuel Champalimaud sustenta que, “se a decisão do Governo for acabar com esta concessão [dos CTT, tal como já defendeu o Bloco de Esquerda] nessa altura entra a concorrência estrangeira, a marca depressa desaparecerá e o quadro de pessoal aí sim, será muito sacrificado”.

Ao mesmo tempo, o fundador da Gestmin, holding familiar através da qual foi comprando acções dos Correios, afirma-se “convicto do papel fundamental dos CTT para Portugal”. Os CTT, diz, são uma das “principais marcas nacionais e estamos empenhados em defender o valor da marca e a sua importância para Portugal”.

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Sobre os problemas que se verificam em termos de serviços, diz que num grupo que conta com “cerca de 12 mil funcionários e milhões de entregas por mês é impossível que não se registem algumas queixas e atrasos”. “Estes constrangimentos”, defende, devem-se “ao funcionamento da ‘máquina’ e não ao facto de os CTT serem geridos pelo Estado ou por privados”.

Depois da REN, os CTT

Filho de António Champalimaud, Manuel Champalimaud criou a Gestmin em 2004, investindo em diversos sectores (nomeadamente através de aquisições), que actualmente vão da energia à indústria dos moldes e plásticos, passando pelo turismo, agro-indústria e logística alimentar. No caso da energia, o grupo detém a OZ, onde tem estado activo em termos compras: no início do ano negociou com a Teixeira Duarte a posição que o grupo de construção detinha na Digal/TDArcol, o que lhe permitiu reforçar no negócio do gás propano canalizado.

O grupo também já foi o terceiro maior accionista da REN, empresa de transporte de electricidade e de gás, depois dos chineses da State Grid e a Oman Oil, com 6%. Em 2016, no entanto, a Gestmin, da qual Manuel Champalimaud é presidente do conselho de administração, cabendo a liderança executiva a João Bento (ex-Efacec, entrou para o grupo no final de 2015), começou um processo rápido de desinvestimento na REN: em Maio já só tinha 2,69%, e no final de Julho desceu para 1,92%, deixando de ter uma participação qualificada (hoje ainda terá capital da empresa, mas sem que fosse possível quantificar).

Em paralelo, a Gestmin foi tomando posições nos CTT, tendo Manuel Champalimaud dado o primeiro passo visível em Agosto de 2015, quando superou os 2% (2,04% por via do grupo e 0,02% a título pessoal). Em Novembro, mês em que a empresa anunciou o início de actividade do Banco CTT, o grupo de Champalimaud subiu para 5,2%. Já em Março deste ano, a Gestmin anunciou um grande reforço, chegando aos 10,24%, incluindo-se aqui a participação pessoal de Manuel Champalimaud e pequenas posições de administradores ligados à empresa, como a de João Bento. No caso de Champalimaud, detinha então 284.885 acções.

A posição da Gestmin torna-se ainda mais relevante se tivermos em conta que o segundo maior accionista, a Wilmington Capital, tem 5%, e que existem apenas outros cinco investidores com participações qualificadas (entre 2% e 3%), completando-se o leque com muitos pequenos accionistas. 

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Esta quarta-feira de manhã, numa análise enviada aos seus clientes e citada pela Reuters, o BPI mudou a sua recomendação face aos títulos dos CTT de underperform para buy, na sequência do plano de reestruturação, afirmando que vê o operador postal como um “alvo atractivo de aquisição”. Isto porque o valor dos títulos, que caiu de forma acentuada após a empresa ter anunciado no final de Outubro resultados trimestrais abaixo das expectativas e uma descida do dividendo, está 37% abaixo do preço da Oferta Pública de Venda inicial (entrou na bolsa em Dezembro de 2014 a 5,52 euros por acção) e 61% abaixo do máximo histórico de Abril de 2015. Ao mesmo tempo, diz o BPI, não há domínio accionista e a empresa tem a “posição 'invejável' de ser o operador postal incumbente”.

Para já, o mercado reagiu de forma positiva ao plano da gestão liderada por Francisco de Lacerda, com os títulos a subirem esta quarta-feira 4,61% para 3,65 euros (dia em que o PSI 20 fechou em perda ligeira), depois de terem chegado a subir 8% ao início da manhã. José Novo, operador de mercado da Orey iTrade, afirmou à Reuters que o mercado acabou por gostar do “aliviar de despesa anunciado pelo operador” e que o facto “de manter o dividendo [relativo a 2017 e a pagar no ano que vem, no valor de 0,38 euros]] foi muito importante". Mesmo assim, o valor de fecho desta quarta-feira ainda está 27% abaixo do valor do final de Outubro. 

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