Autoeuropa a caminho de nova greve

Trabalhadores aprovaram paragem a 2 e 3 de Fevereiro, mas convocação depende dos sindicatos. Para já, Sindel e Site-Sul não avançam.

Empresa poderá parar nos dias 2 e 3 de Fevereiro
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Empresa poderá parar nos dias 2 e 3 de Fevereiro Daniel Rocha
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Fernando Gonçalves, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa Manuel de Almeida/Lusa

A Autoeuropa pode vir a confrontar-se com uma nova greve, depois de os trabalhadores da fábrica da Volkswagen (VW) terem aprovado nos plenários uma proposta nesse sentido apresentada por um trabalhador, segundo confirmou ao PÚBLICO o coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT), Fernando Gonçalves.  

No entanto, para que tal se concretize, será necessário que a greve seja convocada pelos sindicatos, como o Site-Sul (afecto à CGTP e que está representado na Comissão de Trabalhadores) ou o Sindel (ligado à UGT).

“São os sindicatos que determinam agora se há ou não greve”, concretizou o responsável da CT, em declarações ao Dinheiro Vivo, que avançou com a notícia. A confirmar-se a greve, esta irá ocorrer a 2 e 3 de Fevereiro, período em que começam a vigorar as regras do novo modelo laboral, aplicado de forma unilateral pela administração após o chumbo de dois pré-acordos ligados ao novo esquema de trabalho previsto para responder às encomendas do modelo T-Roc.

Por parte do Sindel, um dos seus responsáveis, Isidoro Barradas, afirmou ao PÚBLICO que a convocação de uma greve (com a consequente entrega de um pré-aviso no Ministério do Trabalho) é algo que, neste momento, não faz parte dos planos do sindicato.

Já da parte do Site-sul, um dos seus dirigentes, Eduardo Florindo, esclareceu ao PÚBLICO que é preciso dar ainda alguns passos até que seja tomada uma decisão.

Primeiro, disse, o sindicato ainda não conhece a proposta votada em plenário. Depois, referiu que há uma reunião com a CT agendada para esta sexta-feira, seguindo-se outra com a administração da Autoeuropa no dia 9 de Janeiro. Até essa data, disse este responsável sindical, não haverá nenhuma decisão.

No entanto, "se a administração mantiver a sua proposta inalterada", o Site-Sul irá "reunir-se com os trabalhadores" para então se decidir "se há ou não há greve" e "se é de dois dias ou não". "Não vamos avançar com nenhum pré-aviso de greve sem falar com os trabalhadores", sublinhou Eduardo Florindo.

Os plenários – realizaram-se seis entre quarta-feira e a madrugada desta quinta-feira, em substituição de um plenário geral-- tinham sido convocados pela CT em reacção à posição da gestão liderada por Miguel Sanches.

A fábrica de Palmela já teve uma greve a 30 de Agosto, convocada então pelo Site-sul, e na sequência do primeiro pré-acordo negociado entre a administração e a anterior CT, que já estava então demissionária. Posteriormente, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, afirmou que a estratégia do Site-Sul tinha sido de “uma enorme irresponsabilidade”.

A hipótese de uma nova greve tem estado a pairar no ar desde 12 Dezembro, dia em que a administração anunciou que ia aplicar o novo modelo de trabalho entre o início de Fevereiro e Agosto. “O período após Agosto vai ser discutido com a Comissão de Trabalhadores”, afirmou então a administração, que tem negociado apenas com a CT. 

"Eles [a administração da Autoeuropa] assistiram a todos os plenários, perceberam bem qual foi o feedback dos trabalhadores. É bom que reflictam sobre aquilo que se está a passar e é bom que tomem uma posição diferente da que estão a tomar agora", acrescentou Fernando Gonçalves à Lusa, afirmando ainda convicto de que há um “sentimento de revolta" dos trabalhadores, "devido a um acumular de situações ao longo dos últimos anos".

Na passada sexta-feira, a direcção e os representantes da Autoeuropa estiveram reunidos com o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, mas as posições pareciam irredutíveis, com a CT a remeter para o plenário que se ia realizar e a gestão a dizer que o que poderia mudar era o modelo de trabalho do segundo semestre do ano que vem. No entanto, ficou acordado que iria haver novo encontro entre as duas partes da fábrica nesta segunda-feira.

Hoje, em declarações à Lusa, o coordenador da CT afirmou que quando chegou a essa reunião, a administração comunicou “que não havia nada para decidir, que iam impor o horário anunciado". Está prevista uma nova reunião para o dia 5 de Janeiro. Na próxima semana a fábrica estará parada, devido, conforme já informou a empresa, “à quebra no fornecimento de peças críticas para o processo produtivo”.

Em paralelo às movimentações ligadas ao novo modelo de trabalho, há também questões ligadas ao acordo laboral, com a CT a preparar o seu caderno reivindicativo. Os representantes dos trabalhadores defendem medidas como, segundo disse o responsável da CT à Lusa, “prémios por objectivos, progressão nas carreiras, seguro de saúde, apoio escolar, bem como uma proposta de aumentos salariais de 6,5% em 2018", reunidas num documento com 24 pontos.

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