Lançada petição contra gestão privada no teatro Maria Matos

O ex-director Mark Deputter, o programador Sérgio Hydalgo, o coreógrafo Bruno Cochat e o encenador e dramaturgo Ricardo Neves Neves contam-se entre as personalidades que já assinaram a petição.

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Nuno Ferreira Santos

Perto de 200 pessoas já assinaram uma petição que está a circular na Internet, contra a entrega a privados da gestão do Teatro Municipal Maria Matos, e a reclamar que este continue a ter gestão pública.

A petição surgiu esta tarde, na sequência de uma entrevista ao PÚBLICO da vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, na qual Catarina Vaz Pinto anunciou a intenção de a autarquia entregar a gestão do Teatro Municipal Maria Matos a gestão privada.

O ex-director do teatro Mark Deputter, o programador Sérgio Hydalgo, o coreógrafo Bruno Cochat e o encenador e dramaturgo Ricardo Neves Neves contam-se entre as personalidades que já assinaram a petição, que reuniu 198 assinaturas até às 18h30, em cerca de três horas, e que questiona a entrega à gestão privada daquele espaço municipal onde, nos últimos dez anos, se fez um investimento público continuado e onde se realizaram obras de requalificação do espaço.

"A entrega do Teatro Maria Matos à gestão privada não só anula todo este trabalho e investimento público, como oferece os seus frutos de mão beijada à entidade à qual vier a ser concessionado, pondo em causa a vocação pública que este equipamento conquistou, e empobrecendo a cidade e o território onde se insere", lê-se no texto de introdução à petição.

Os assinantes da petição reclamam ainda um "maior debate público e maior investimento público na cultura", e sublinham que "não se pode perder mais nenhum equipamento cultural municipal".

Entretanto, o vereador do Bloco de Esquerda na autarquia de Lisboa, Ricardo Robles, disse estar contra a entrega do teatro à gestão privada, considerando tratar-se de "um caminho errado".

"Não estamos disponíveis para [discutir] o modelo que foi apresentado para o Maria Matos, um modelo de privatização, a entrega a produtoras culturais da gestão do teatro. Achamos que esse é um caminho errado", afirmou na quarta-feira o vereador, à agência Lusa.

A vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa (PS), Catarina Vaz Pinto, anunciou, em entrevista ao PÚBLICO, um novo projecto de gestão dos teatros da autarquia, que tem por objectivo resgatar lugares associados à cultura e diversificar a oferta cultural da cidade.

O plano abrange 11 teatros, dois dos quais – São Luiz e Maria Matos – estão sob gestão da Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC). Em declarações à Lusa, Catarina Vaz Pinto explicou que o novo plano contempla que apenas o Teatro Maria Matos seja gerido por uma entidade externa.

O Bloco de Esquerda, por considerar que "os equipamentos culturais da cidade, em particular os teatros, são instrumentos da política cultural e de serviço público", considera "errada essa solução".

Ricardo Robles defendeu a possibilidade de a Câmara "fazer concursos públicos que permitam atribuir a direcção artística e a programação cultural, mantendo a gestão municipal dos teatros".

"Isso é uma prática comum e que estamos disponíveis para discutir, não o modelo que foi apresentado e que replica o que foi realizado no Capitólio, que foi entregue a uma produtora, a Sons em Trânsito, e com o qual nós discordamos", afirmou.

Na terça-feira, também os comunistas na Câmara de Lisboa questionaram a decisão da autarquia, saindo em defesa da manutenção da gestão pública daquela sala de espectáculos, na avenida Frei Miguel Contreiras, à avenida de Roma.

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