Fabricantes de chocolate inovam para atrair consumidores conscientes

Consumidores procuram cada vez mais barras de chocolate premium saudáveis.

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Barras com 75% de cacau, vegans, com quinoa ou chocolate de rubi... Os maiores fabricantes de chocolate do mundo andam à procura de maneiras de manter os consumidores interessados, quando estes estão cada vez mais conscientes da sua saúde e bem-estar.

As vendas de tabletes de chocolate de leite estagnaram porque os consumidores começaram a preocupar-se com questões como a obesidade e as doenças cardíacas, levando-os a alterar, por exemplo, os lanches, ao retirar o açúcar e a gordura. Assim, empresas como a Nestlé, Mars ou a Mondelez International estão a reformular os chocolates que chegam ao mercado de massas, para criar uma imagem mais saudável ou vender uma experiência premium mais cara.

Barras de chocolate escuro mais suaves, barras de proteína com chocolate, chocolate sem açúcar e chocolate de origem única são as resposta à procura dos consumidores por chocolates mais saudáveis e de melhor qualidade, dizem as empresas.

No entanto, os críticos desta indústria dizem que os novos produtos são truques para aumentar as vendas, dando uma sensação premium ou um "ar saudável" para tabletes que ainda têm altos teores de açúcar e gordura.

O volume de vendas de produtos de pastelaria, em todo o mundo, aumentou apenas 0,5% em 2016-17, depois de cair durante dois anos, de acordo com a Euromonitor International, uma empresa de pesquisa. "Vai ser muito difícil persuadir os consumidores a comprar mais chocolate", diz Wiebke Schoon, analista de alimentos da Euromonitor.

"Mas eles estão disponíveis para serem convencidos a ter melhor chocolate e a gastar mais dinheiro com isso", acrescenta. No último ano, o valor das vendas subiu 3,6%, também de acordo com a Euromonitor, sugerindo que os consumidores podem estar preparados para pagar mais pelo chocolate que eles acreditam ser mais saudável ou de melhor qualidade.

"Os ingredientes naturais e de origem local estão e continuarão a estar no cerne do que as pessoas procuram", declara Sandra Martinez, chefe global de chocolate e confeitaria da Nestlé. O gigante suíço da alimentação, que vende 8,8 mil milhões de produtos de confeitaria por ano, procurou transformar a tablete de Kit Kat num produto de luxo e personalizado, com um preço premium. Em Portugal já há o Kit Kat com sabor a laranja, mas em lojas japonesas há mais de dez sabores, incluindo chá matcha, xarope de morango e cítricos japoneses. Por lá, também é possível comprar estas tabletes feitas com chocolate premium e imprimir uma mensagem quer nas barras, quer nas embalagens.

"É engraçado ter o nosso nome em produtos de confeitaria", confessa Shiho Sudo, de 20 anos, numa loja Kit Kat, em Tóquio, segurando um trio de bolachas de chocolate branco com o nome e a data de aniversário impresso em letras douradas. "Este é um presente especial para mim."

Produtos mais atraentes

A Nestlé diz que as boutiques no Japão são um sucesso, estão a ser implementadas outras por toda a Ásia e na Europa estão a ser testadas versões pop-up na Europa, com vistas a torná-las permanentes.

Rival Mondelez, que possui marcas bem conhecidas como Cadbury Dairy Milk, Cote d'Or, Milka e Toblerone, também quer tornar os produtos convencionais atraentes para consumidores mais exigentes. E estar a tentar alargar o apelo da sua marca de chocolate preto premium Black & Black expandindo-se nos EUA e lançando uma edição Velvet na Grã-Bretanha, que oferece aos consumidores um sabor mais suave e menos amargo. 

Embora as dúvidas subsistam sobre se o chocolate escuro tem benefícios para a saúde, a percepção de que é mais saudável do que o chocolate de leite provocou um aumento de 31% nos lançamentos de produtos de chocolate escuro nos últimos quatro anos, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Mintel.

Em países como a Austrália e a Rússia, a Mondelez começou a comercializar versões da Cadbury e Milka com o rótulo que diz "dark milk". Por seu lado, a Mars – que é líder de marcado, segundo a Euromonitor – lançou, este ano, o Dove Peanut Butter & Dark Chocolate Promises, bem como Twix Dark na América do Norte.

Bolachas e cereais saudáveis

As grandes empresas também estão a aventurar-se na produção de barras para lanches e cereais, incluindo-lhes chocolate, procurando assim aproveitar a crescente procurar global por snacks mais saudáveis.

De acordo com a Euromonitor, o volume de vendas de snacks aumentou em média 2,6% ao ano, nos últimos cinco anos, e deverá crescer 2,4% ao ano.

A alemã Ritter Sport, por exemplo, lançou um chocolate vegan com grãos como quinoa e amaranto e está a trabalhar numa barra de chocolate de "leite" vegan, usando um substituto de produtos lácteos.

Emma Calvert, directora de política alimentar do grupo de segurança da Organização Europeia do Consumidor, está céptica com a alegada preocupação dos principais fabricantes de chocolate com a saúde dos consumidores. "Para nós, esta é uma ferramenta de marketing, em vez de qualquer estratégia para realmente ajudar a melhorar a saúde dos consumidores", considera.

"Eles podem usar o óleo de coco para substituir a gordura ou agave em vez de açúcar", continua Calvert. "Mas ainda é um tipo de açúcar e contribui para o excesso de calorias. É uma maneira de dar um ar saudável a produtos que realmente não deveriam ter essa aura."

Chocolate de rubi

Alguns fabricantes de nicho estão focados numa combinação de luxo com saúde. No Rabot 1745, em Londres, um café, restaurante e loja pertencentes ao Hotel Chocolat, tabletes com grãos de cacau, colhidos numa plantação em Santa Lúcia, são vendidas ao lado de outras com chocolate sem açúcar, ou com 65% de chocolate feito com leite de búfalo.

Angus Thirlwell, co-fundador e CEO da Hotel Chocolat, uma empresa britânica com mais de 70 lojas naquele país, espera que diferentes tipos de grãos de cacau conquistem o mesmo valor premium associado a certos grãos de café ou mesmo a uvas. "O mundo do vinho conseguiu um equilíbrio muito melhor entre as uvas maduras e o valor agregado do produto final", informa, acrescentando que "o chocolate perdeu o caminho, mas está a encontrá-lo novamente".

Enquanto empresas como a Hotel Chocolat usa grãos com sabores distintos do Equador ou do Brasil, a maior parte da indústria utiliza cacau processado em massa na Costa do Marfim e no Gana, os dois principais produtores mundiais. Os grãos são geralmente misturados, sem ter em conta que o cacau de diferentes árvores ou plantações produz gostos, texturas e até cores variadas.

Mas também isso pode estar a mudar. Barry Callebaut, o principal fornecedor mundial de produtos de chocolate, revelou um novo tipo de chocolate este ano com uma tonalidade rosa e sabor frutado: chocolate rubi.

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