Os pendurados

Felizmente os condutores pendurados andam muito devagar e notam-se à distância. Mal vejo uma daquelas cabeças enormes pairando sobre um volante, fujo.

É preciso cuidado com os condutores pendurados. Estão por toda a parte, cada parceiro pendurado no volante, tentando espreitar a estrada que está à beira dos pneus da frente.

Serão amigos dos insectos, temendo atropelar rastejantes? Alguma coisa há-de ser responsável pela expressão angustiada que trazem sempre. No Natal faz muito medo cruzarmo-nos com um pendurado. Não olham para a esquerda nem para a direita. Não olham para trás. E, sobretudo, não olham para o que está a mais de 2 metros de distância.

Muitas vezes são pessoas pequenas, do tamanho de crianças de 6 anos, que se vêem aflitas para chegar ao gigantesco volante desde que deixaram de imprimir as listas telefónicas.

Estarão de pé? Possivelmente. Isso explicaria porque é que os braços, qual patas de aranhiço, se abraçam à volta do volante.

Não têm medo? Penduram a cabeça tão perto do pára-brisas que bastaria uma breve travagem para bater no vidro com os cornos. Fica-se com a impressão que só não espalmam os rostos contra o vidro, como um petiz faminto contra a montra duma pastelaria, por não ser fisicamente possível, dada a interposição do volante onde se penduram faute de mieux.

Felizmente os pendurados andam muito devagar e notam-se à distância. Mal vejo uma daquelas cabeças enormes pairando sobre um volante, fixando a interface entre o fim do capot e o princípio do asfalto, fujo para o outro lado da estrada ou, quando posso, estaciono e espero que ele passe. Aceno com a cabeça. Sim, estamos ambos aterrorizados 

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