Primeiro objecto interestelar que observámos tem um casaco que o protegeu do Sol

Em Setembro, o Oumuamua passou perto do Sol. E, se o seu interior gelado não vaporizou, tudo se deve a um revestimento que tem à superfície.

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Ilustração do Oumuamua, que em Setembro esteve a uns 37 milhões de quilómetros do Sol ESO/M. KORNMESSER

Este ano, o Oumuamua (nome havaiano para “mensageiro”) tornou-se o primeiro objecto interestelar que detectámos. Já sabíamos que era alongado, com a forma de um charuto. Agora, uma equipa de cientistas, onde está o português Pedro Lacerda (da Queen's University em Belfast, no Reino Unido), traz-nos mais uma novidade: o Oumuamua tem um revestimento rico em isolantes orgânicos à superfície. É como um casaco que terá protegido o seu interior de água congelada da vaporização quando passou perto do Sol.

Em Outubro, um telescópio detectou um ponto ténue de luz a deslocar-se no céu. Na altura, até parecia ser um asteróide típico, mas vários telescópios continuaram a seguir o seu rasto. Percebeu-se então que vinha de fora do nosso sistema solar, graças a cálculos mais rigorosos da sua órbita, e acabou por ser classificado como um asteróide interestelar. Estima-se que tenha pelo menos 400 metros de comprimento, será denso, não terá quantidades significativas de água ou gelo e, possivelmente, será rochoso ou com conteúdo metálico. É ainda avermelhado por ter sido bombardeado por raios cósmicos durante milhões de anos.

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O ponto azul é o Oumuamua A. Fitzsimmons/QUB Isaac Newton Group

Uma equipa de cientistas mediu agora a forma como o Oumuamua reflecte a luz solar e descobriu que é semelhante a outros objectos gelados com uma crosta seca, como refere um artigo publicado na revista científica Nature Astronomy esta segunda-feira. Mais uma vez, entram em cena os raios cósmicos: a exposição a estes raios originou a criação do revestimento (ou casaco) do asteróide rico em isolantes orgânicos na superfície. O estudo sugere ainda que o casaco terá protegido o seu interior gelado da vaporização quando passou perto no Sol (a uns 37 milhões de quilómetros) em Setembro.

“Descobrimos que a superfície do Oumuamua é semelhante à dos pequenos corpos do nosso sistema solar que estão cobertos por gelos ricos em carbono, cuja estrutura sofre modificações pela exposição aos raios cósmicos”, diz em comunicado Alan Fitzsimmons, da Queen's University em Belfast e principal autor do artigo. “Também descobrimos que o revestimento de meio metro de espessura rico em materiais orgânicos pode ter protegido da vaporização o interior do objecto, rico em água e parecido com o de um cometa, quando foi aquecido pelo Sol, apesar de esse aquecimento ter passado os 300 graus Celsius.”

A investigação sobre o Oumuamua vai continuar e mais novidades nos irão surpreender. Agora ficámos a saber que “veste” um casaco. 

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