Em Copenhaga, com bloggers de viagem em modo visita guiada

Tudo o que um blogger de viagens não faz, fizeram em Copenhaga os vencedores dos Bloggers’ Open World Awards 2017: sair em grupo num passeio com cicerones. Do coração da cidade até ao incontornável Nyhavn, houve tempo para ver casamentos, sentar em cafés e tirar fotos. Porque mesmo não estando em “trabalho” há coisas inescapáveis em qualquer lado do mundo.

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Carlos Ferro

Copenhaga já se veste de Natal à entrada da segunda metade de Novembro. Voltamos à cidade um ano depois e, nesse aspecto natalício, pouco mudou: as mesmas iluminações com corações na Strøget (com 1,1 quilómetros, é uma das mais longas ruas comerciais pedonais da Europa), os mesmos mercados de Natal nas mesmas praças, a mesma “inconveniência” de ter o cenário (icónico) de Nyhavn manchado pelas barracas de madeira brancas. Mas os déjà vu na capital dinamarquesa terminam aí. Afinal, estamos aqui com os quatro bloggers de viagem portugueses, que, segundo a momondo, mais “entusiasmam e inspiram os portugueses a viajar mais e de mente aberta”. E eles estão aqui por causa da momondo: vêm visitar o quartel-general do motor de pesquisa de viagens para um workshop de marketing digital. Este foi parte do prémio da competição Bloggers’ Open World Awards (BOWA) 2017 atribuído aos vencedores de cada categoria a concurso: Open World, blogue, fotografia e vídeo. E “foi o melhor prémio que podiam dar”, a opinião é comum, “dar-nos ferramentas para melhorarmos”. “Não tem preço.” Por isso, vêm todos em modo aprendizagem, digamos, não em modo viagem-viagem. E é assim que acabamos a ter uma experiência rara — “Estamos a fazer tudo o que um blogger de viagens não faz: sair em grupo”, brinca Gabriel Soeiro Mendes, autor do blogue Uma Foto, Uma História, vencedor na categoria mais importante, Open World, e, portanto, aquele que mais contribuiu para “um mundo mais aberto”.

Depois de um dia e meio de sessões com especialistas da momondo, mas também da Google e Facebook, uma tarde para explorar Copenhaga. Pois, que fazer? O grupo deixa-se estar nas mãos da momondo, não com a app de viagens “momondo places”, mas com “guias” personalizados, o português Fábio Pereira, a viver em Copenhaga há 10 anos, a trabalhar na empresa há cinco e mentor dos BOWA, e Kalimaya Krabbe, nativa da cidade — “as pessoas que trabalham na momondo estão sempre a viajar, têm o ‘bichinho’ das viagens”, diz Fábio. O início será nas nuvens, o final à beira-água — do coração da cidade (a torre da câmara municipal) ao seu postal (Nyhavn). “Se venho a Copenhaga e não publico uma fotografia de Nyhavn vão dizer que não estive aqui”, ironiza Carlos Ferro, o autor de The World Backpacker (vencedor na categoria de blogue de fotografia), na sequência de uma reflexão de Filipe Morato Gomes, autor do blogue Alma de Viajante (vencedor na categoria de blogue) e o único viajante e blogger profissional do grupo: “Penso que o facto de quereres partilhar influencia a forma de viajar. Sinto-me mais limitado, condicionado.”

Por esta tarde, estão todos disponíveis para serem condicionados, até porque prolongaram a estadia em Copenhaga para o fim-de-semana — a excepção é Carlos, que, já conhecendo a cidade, aproveitou o preço baixo das passagens e voará para Estocolmo, “mais uma bandeirinha”, brinca. Guilherme Melo Ribeiro, autor de Human Eyes (vencedor na categoria de blogue de vídeo) saberá horas mais tarde que o fim-de-semana terá de ser em Londres, afinal, por trabalho. Gabriel e Filipe (que também já conhece a cidade) têm planos mais ou menos definidos: o primeiro já se informou e escolheu um bairro, longe do centro, habitado por imigrantes, é por lá que vai andar; o segundo ficará em casa de um amigo e, com ele, espera descobrir locais menos óbvios.

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Gabriel Soeiro Mendes

É quando chegamos a Amagertorv, onde convergem as duas principais ruas comerciais de uma cidade onde o comércio de rua ainda é predominante (nós vimos de Købmagergade, a sede da momondo fica numa parela, e aqui encontramos a Strøget), que os bloggers se mostram um pouco. Máquinas e telemóveis ao alto, deambulações solitárias para registar esta praça e a adjacente, Højbro Plads, ocupada pelas barracas de madeira de um mercado de Natal que será inaugurado nessa noite. A primeira mais pitoresca e ecléctica (destaca-se a casa de tijolo vermelho com empenas que denunciam o estilo renascentista holandês), a segunda um pouco mais solene — chamam-lhe a “praça do governo” e o seu simbolismo é marcante: a estátua equestre de Absalom, considerado o fundador de Copenhaga, mira a pequena ilha de Slotsholmen (à distância de uma pequena ponte) onde construiu o seu castelo e onde hoje se ergue o palácio Christiansborg, que (também) alberga o parlamento dinamarquês.

Há alguém que fica para trás, mas em breve ninguém fará caso. Vai acontecer algumas vezes, naturalmente. Na câmara municipal de Copenhaga, a visita à torre tem horas marcadas — esperamos uns minutos espreitando o grande salão cerimonial, à maneira de castelo medieval, e observando casais recém-casados que param para uma última foto ao sair da cerimónia. Dizem que são 300 degraus até ao cimo da torre. Não os contamos, mas passamos por escadarias, por escadas em caracol e por escadas em madeira até emergirmos a 105,6 metros de altitude (e estamos num dos edifícios mais altos da cidade). A visão é de 360 graus: da “famosa” ponte para Malmo à central de transformação de lixo em energia de Amager Bakke que, além de ter um design longe do habitual (o monolítico dá lugar a curvas e o revestimento de alumínio brilha no horizonte) terá uma pista de esqui no topo, sem esquecer a torre em espiral da igreja do Nosso Salvador, em Christianshavn, que a preto e dourado se destaca na planura da cidade onde o mar se insinua de canais.

Sendo o destino Nyhavn, o caminho mais directo seria percorrer os 1100 metros da Strøget, que liga as duas maiores praças de Copenhaga, esta da câmara, Rådhuspladsen, e Kongens Nytorv. Mas a proposta é fazer um desvio pelo “quarteirão latino” de Copenhaga, desenvolvido em torno da universidade (que, entretanto, se dispersou pela cidade). É assim que nos deparamos com a fachada ocre com torre de onde se destaca o frontão apoiado por colunas ao estilo grego. É uma igreja, dizem-nos. Na verdade, é a catedral nacional, mas só o descobriremos depois. Não importa porque a curiosidade instala-se e entramos no espaço aquecido, dominado por uma nave sob uma enorme abóbada de berço exaustivamente branca. Sendo luterana, a decoração é escassa, consistindo de esculturas (entre elas dos apóstolos e de Jesus Cristo, no nicho do altar) em mármore — várias pessoas estão sentadas nos bancos e algumas não estão a rezar: Gabriel fotografa um grupo debruçado sobre computadores portáteis.

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Carlos Ferro

Cá fora, ao lado, caminhamos por uma praça flanqueada pelo edifício principal da Universidade de Copenhaga (fundada em 1479) e na primeira ruela o charme do “quarteirão latino” revela-se com os edifícios antigos coloridos, onde se alinham pequenas lojas, livrarias, bares (muitos ostentando a bandeira arco-íris do movimento LGBT) e cafés. Entramos no Paludan Bog & Café, livros e café que sintetizam o espírito da zona: várias salas, estantes de livros e o descanso numa mesa onde se lê “Sorry, no studying! no computers! at this table” – na mesa ao lado, portáteis, na outra um jogo de cartas; nas paredes uma exposição de fotografia (Vision, de Ynja Aradottir). Se Filipe não estivesse em visita de grupo, certamente ficaria mais tempo — adora deixar-se estar em cafés, quando viaja — e os livros são um íman para Gabriel — não resiste a livrarias.

Abrir o mundo

Pés novamente a caminho, em ritmo de passeio, para mais fotos na Kongens Nytorv. É uma praça majestosa, mas que está tomada por mais um mercado de Natal. O Teatro Real, o palácio de Charlottenburg (agora a Academia Real de Artes) são dois dos edifícios que margeiam o enorme espaço, parte do projecto de deslocação do centro da cidade no século XVII, e que para os visitantes é como a antecâmara de Nyhavn. Desde que os navios cresceram ao ponto de nem conseguirmos imaginar que algum tenha chegado a entrar no canal, o antigo porto, que já foi fervilhante de marinheiros e prostitutas, cervejarias e pubs, é a sala de visitas da cidade. Os edifícios coloridos compõem um cenário encantador — caímos na tentação de dizer “de conto de fadas” com justificação: Hans Christian Andersen viveu aqui durante muitos anos —, antigos navios constituem um museu pouco ortodoxo na estreita língua de mar, e uma das suas margens é um continuum de restaurantes e cafés (os preços são pouco encantadores). O grupo desfaz-se e refaz-se ao ritmo de esperas mas chegamos todos à nova ponte pedonal e para bicicletas que liga Nyhavn a Christianshavn, onde os canais desenham uma pequena Amesterdão. Dela, olham-se os maiores caprichos geográficos de Copenhaga, que constituem o chamado “porto interior”, ilhas ou penínsulas, um emaranhado que não desvendaremos — mas é para o Sul que fica o mercado de comida de rua (uma espécie de síntese da variedade gastronómica que se encontra no “Meatpacking District” bem do outro lado da cidade — encerra este mês) e que ficava o Noma, considerado o melhor restaurante do mundo por quatro vezes (reabrirá em 2018 em nova localização), a ópera, e o Copenhaga Contemporânea (despediu-se no final de Novembro).

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Gabriel Soeiro Mendes

Se estivesse a trabalhar, Guilherme teria batido à porta de alguém e pedido para subir a um dos edifícios de Nyhavn, para garantir o ângulo mais original, “que não fosse tão conhecido no Instagram”. Gabriel ter-se-ia sentado a beber uma cerveja — “Não é o típico aqui?”. Mas acabamos numa livraria-café das redondezas, Tranquebar, que tem a particularidade de se dedicar à literatura de viagens, com bebidas quentes diante de nós. E o reconhecimento unânime à momondo, que Gabriel expressa: “Foi nobre ao ter apostado na qualidade e não na visibilidade. Só o Filipe é que já tem muitos seguidores.” O Alma de Viajante nasceu em 2001, os outros blogues são muito mais recentes; todos, cada um à sua maneira, querem “abrir o mundo” — o deles e o dos outros.

“Abre o teu mundo”, a momondo inspira-te

Bem no coração de Copenhaga, no antigo edifício dos correios da cidade, agora património histórico, a ambição é “Stay curious”. É uma espécie de lema da momondo, “tal como o da Nike é ‘Just do it’”, compara a CEO da empresa, Pia Vemmelund. E se fazendo uma busca por momondo num buscador da Internet o site aparece com a descrição “voos baratos – pesquisa e compara voos low cost”, há alguns anos que a momondo se propôs ser algo mais. E não falamos de fazer busca também de hotéis e carros ou, por exemplo, a possibilidade de definir um orçamento e, a partir daí, desenhar uma viagem. O clique foi “ser uma marca”, não apenas uma empresa tecnológica. “Tínhamos a tecnologia, mas sabíamos que qualquer um com dinheiro podia conseguir o mesmo”, explica; então ao “quê” (busca imparcial de viagens) e ao “como” (a tecnologia), juntou-se “o mais importante”, o “porquê”. Viajar porquê? A resposta está no site da momondo: “abre o teu mundo” – a momondo inspira-te.

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Gabriel Soeiro Mendes

“Os nossos competidores têm a tecnologia, nós temos também o ‘toque’ mundo”, diz Pia Vemmelun. E uma visão: inspirar e tornar possível que todos possam viajar de forma independente.

É neste espírito que se enquadram os BOWA (e também The DNA Journey ou a recente Dear Mom and Dad). A inspiração vem com conteúdo e os bloggers trazem isso. “São experiências autênticas, diferentes, pessoais”, sublinha Fábio Pereira, o country manager da momondo para Portugal e o responsável pela iniciativa. “Acabam por ter a mesma missão que nós, a de descobrir novos destinos, e se os ajudarmos a chegar mais longe também nós chegamos.” Por isso a ideia de lançar os BOWA — e em Portugal (em 2018 vão estender-se a Itália, Suécia, Finlândia e Alemanha): “Por um lado, aqui a momondo é reconhecida, é uma marca diferente a que os bloggers gostam de se associar; por outro, há bloggers a produzir conteúdo incrível e são pouco reconhecidos”. “O que fizemos foi tentar dar valor aos bloggers”, explica Fábio Pereira, daí a especificidade dos prémios e dos critérios de avaliação. As categorias mais técnicas (texto, foto e vídeo) estão lá, mas a jóia da coroa é a “Open World”, para os bloggers que inspiram a viajar de acordo com os cinco mandamentos da “filosofia” da momondo (a saber: com a mente aberta e sem preconceitos; disponíveis para forjar novas amizades; abertos a novas experiências; com curiosidade pelo desconhecido; e com vontade de partilhar). Para a edição de 2018, o formato de votação será diferente (as pessoas podiam votar uma vez por dia, passará a ser apenas um voto por pessoa), a gala em Lisboa será mais aberta (tanto aos bloggers concorrentes, como a outras marcas) e haverá mais e melhor comunicação. Porque o concurso não é só para e Fábio crê que a mensagem não foi bem passada: blogues que tenham conteúdos de viagens apenas esporádicos, quem tenha conta de Instagram, Youtube ou Vimeo dedicados a viagens também podem concorrer. Sempre com mundo dentro.

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