“Breviário do Brasil”, uma exposição para “pensar o presente”

Fotogaleria

Tudo começou, talvez sem se saber, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, que ficou concluído em Agosto de 2016. Por essa altura, o realizador e encenador João Sousa Cardoso encontrava-se com o também artista André Sousa em São Paulo, no Brasil, a rodar Na Selva das Cidades, a partir de Bertolt Brecht. E assim assistiram a todos os eventos in loco. Um ano depois, ou seja neste Verão, João estava de regresso à mesma cidade com uma missão diferente: auscultar o Brasil pós-impeachment, o país a debater-se com "agonia, violência política, censura". Com esse fim, durante uma semana, a Oficina Cultural Oswald de Andrade acolheu um laboratório de fotografia que envolveu 25 participantes, grande parte deles fotógrafos, mas também actores (incluindo intérpretes do Na Selva das Cidades) e historiadores. Foram resgatadas fotografias de arquivo, da “escravatura à era moderna”, para “pensar o presente”, explica João Sousa Cardoso ao telefone com o P3, que concebeu o projecto com a colaboração de Catarina Oliveira. Além da análise e do reenactment dessas mesmas imagens, as várias sessões também consistiram em maratonas fotográficas pelo bairro do Bom Retiro, “marcado pela emigração judaica durante a Segunda Guerra Mundial e, mais recentemente, pela emigração coreana e boliviana”. Foram produzidas centenas de imagens pelos participantes, tanto com câmaras fotográficas como smartphones, dando espaço a qualquer incorrecção, como se pode ver nalgumas destas fotografias. “Para que o erro fizesse parte, ficasse em pé de igualdade com as imagens mais eloquentes.” 

 

Este processo resultou na exposição Breviário do Brasil, uma referência à obra de Agustina Bessa-Luís, em particular a um facto curioso — “[A escritora] no primeiro texto diz que não foi a São Paulo, mas discorre durante imensas páginas sobre... São Paulo”, aponta João. Esta mostra, que teve lugar a 28 de Julho na Oficina, ocupou uma sala circular do edifício de 1905, incluindo uma instalação experimental composta por seis telas de projecção e um monitor perfeitamente encaixadas na arquitectura circundante. Objectivo: envolver o visitante numa experiência “imersiva”, ao cruzar imagens do presente com o passado. Um diálogo com o propósito de “pensar a sociedade brasileira à luz do passado colonial, da aventura do modernismo e da actual encruzilhada política”. É o resultado de todo este projecto que vemos nesta série inédita de imagens, que serve de aperitivo à exposição que se irá instalar em breve, “numa nova versão”, em Lisboa.