Tínhamos uma conta atrasada para pagar. Telefonámos para lá - Tra la la - por não ser possível ver-se online porque a Internet ainda é um fenómeno recente e este serviço ainda funciona à antiga: telefona-se e reza-se que alguém atenda.

Não vou dizer o nome do serviço porque os funcionários são eficientes e solidários. Seguem as normas que lhe são impostas e não têm, por isso, culpa nenhuma. Pelo contrário, desunham-se para ajudar porque reconhecem que o sistema de pagamentos é estúpido, injusto e caçador de multas.

Podemos pagar já a conta atrasada? Estamos à frente do computador, prontos para fazer a transferência. Não, não pode ser por transferência. Podem então dar-nos as referências para fazer já o pagamento? Isso é que não. As antigas, claro está, já não funcionam e gerar umas novas levaria semanas de trabalho.

Então como é que fazemos? "Têm de vir cá". Aí? Tão longe? Pessoalmente? Em carne e osso? Fazer o quê? Sermos castigados? Forçados a vestir, no meio dos outros utentes, uma corda ao pescoço?

Para termos de ir lá pagar - como se fazia no século XIX - é preciso haver um edifício cheio de pessoas para receber os pagamentos. O efeito é o mesmo que pagar com o telemóvel em que não é preciso chatear mais ninguém, esperar em fila ou sequer desabafar.

Com o PayPal paga-se instantaneamente a alguém na China. Com este serviço municipal é preciso ir lá pagar. Até recebem o dinheiro mais tarde - porque é preciso lá ir. É como se estivéssemos a comprar heroína. Só que menos viciante.