Trump quer "refazer" o FBI depois da "vergonhosa" investigação aos e-mails de Clinton

Presidente norte-americano visitou o centro de treinos da polícia federal e deixou as duras críticas à porta: "O que aconteceu é uma vergonha", disse Trump sobre as mensagens enviadas por um dos investigadores.

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Donald Trump com Jeff Sessions, o attorney general, e Christopher Wray, o director do FBI Jonathan Ernst/REUTERS

Duas semanas depois de ter dito que a reputação do FBI está "em farrapos", o Presidente norte-americano, Donald Trump, foi esta sexta-feira ao centro de treinos da polícia federal, em Quantico, discursar para os 222 agentes formados na Academia Nacional. Lá dentro, não falou do assunto; mas antes, à saída da Casa Branca, não falou de outra coisa: "O que aconteceu com o FBI é uma vegonha. Vamos refazer o FBI, vai ser maior e melhor do que nunca. Mas é muito triste quando olhamos para aqueles documentos. A forma como fizeram aquilo é vergonhosa, e há muitas pessoas furiosas."

Trump referia-se a um conjunto de mensagens enviadas em 2016 por Peter Strzok, um experiente agente do FBI que investigou os e-mails de Hillary Clinton e que fez parte da actual investigação às suspeitas sobre a Rússia. Nessas mensagens, reveladas esta semana, Strzok chamou "idiota" e "parvalhão" a Donald Trump durante a campanha eleitoral, em mensagens trocadas com a sua namorada, uma advogada no Departmento de Justiça.

De fora do discurso desta sexta-feira, na Virginia, ficaram as mais recentes acusações contra o FBI – que já se alastraram por quase todo o Partido Republicano e pela direita conservadora norte-americana. Em particular, a acusação de que a polícia federal sempre teve uma preferência pela candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton.

Estas acusações já vinham do Verão do ano passado, quando o então director, James Comey, concluiu após uma longa investigação que Hillary Clinton tinha sido "extremamente descuidada" a lidar com e-mails confidenciais, mas que não havia indícios suficientes para recomendar uma acusação formal contra ela.

Nos últimos dias, a fúria de Trump contra o FBI cresceu ainda mais – e logo no momento em que a investigação sobre as suspeitas de que a sua campanha trabalhou com o Governo russo para descredibilizar Hillary Clinton deu um passo importante, com o ex-conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Michael Flynn, a admitir que mentiu ao FBI.

Já esta semana, o Departamento de Justiça (controlado por Donald Trump através do seu attorney general, Jeff Sessions), convocou de forma inesperada, e pouco habitual, um grupo de jornalistas para lhes mostrar centenas de mensagens telefónicas de um processo que ainda está em investigação: a forma como o investigador Peter Strzok se comportou no caso dos e-mails de Hillary Clinton.

Estas mensagens só foram conhecidas do grande público esta semana, mas Peter Strzok já tinha sido afastado por Robert Mueller no Verão passado, por receio de que a sua presença pudesse manchar a reputação da investigação. Mesmo assim, a Casa Branca e o Partido Republicano aproveitaram para colar a todo o FBI o rótulo de inimigo de Donald Trump.

Nos últimos dias surgiram também muitas vozes a defender a isenção do FBI, com o argumento de que não haveria sequer FBI se as pessoas não pudessem ter inclinações políticas: "Os agentes do FBI, como qualquer outra pessoa, são seres humanos. Podemos ter as nossas crenças políticas. E, além disso, a esmagadora maioria dos agentes são republicanos conservadores", disse ao Business Insider Mark Rossini, antigo chefe de uma unidade do FBI.

No jornal Washington Post, o colunista Paul Waldman reforçou esta ideia, ao imaginar o que seria se fossem reveladas todas as mensagens sobre Donald Trump e Hillary Clinton enviadas por qualquer outro agente do FBI: "Se fossem, tenho a certeza de que a maioria seria favorável a Donald Trump. Porque o FBI é uma instituição extremamente conservadora, cheia de funcionários que tendem a ser bastante conservadores. Passou grande parte da sua história a perseguir suspeitos de comunismo, activistas dos direitos cívicos, activistas antiguerra e pessoas que eram contra a política externa dos EUA."

A 4 de Novembro de 2017 (quatro dias antes das eleições), o jornal britânico The Guardian disse que havia "uma profunda antipatia por Hillary Clinton no FBI", o que "estimulou uma rápida sucessão de fugas de informação prejudiciais para a sua campanha, poucos dias antes das eleições". No mesmo texto, o jornal citou um agente do FBI que pediu para se manter anónimo, e que resumiu o que dizia ser um sentimento generalizado na instituição depois de Clinton não ter sido formalmente acusada: "O FBI é a Trumplândia."

Pena de morte

Em Quantico, num discurso muito aguardado por causa da batalha que a Casa Branca tem travado com o FBI – principalmente desde que Donald Trump despediu o antigo director, James Comey –, o Presidente saiu poucas vezes do discurso que estava escrito: uma piada sobre as câmaras de televisão que acompanharam o evento ("Estão a ver ali as fake news?") e uma referência ao "maravilhoso tijolo" que tinha acabado de assinar (o símbolo da pista de obstáculos do FBI conhecida como Yellow Brick Road).

E, a julgar pela calorosa recepção que o Presidente teve entre os agentes recém-formados, a luta entre a Casa Branca e o FBI até parecia ser só uma coisa do Twitter. Mas a verdade é que a assistência desta sexta-feira não era a melhor para estabelecer ligações entre uma coisa e outra – os 222 agentes formados nas últimas dez semanas no curso da Academia Nacional do FBI não são, em rigor, agentes do FBI; são graduados de polícias locais, militares e de polícias de dezenas de países em todo o mundo seleccionados para melhorarem as suas competências.

Por isso, o discurso de Trump assentou num tema de campanha que foi também a base do seu discurso quando aceitou a nomeação à Casa Branca pelo Partido Republicano, na convenção partidária do Verão de 2016: a criminalidade violenta nos Estados Unidos disparou nos últimos anos; a Administração Trump tem todas as respostas para inverter essa situação; e os homens e mulheres das forças de segurança devem ter todos os meios à disposição para fazerem o seu trabalho.

Para além de ter defendido a pena de morte para quem mata um polícia, Donald Trump recordou que a sua Administração autorizou os departamentos da polícia norte-americana, nos vários estados, a comprarem material militar excedentário militar sem quaisquer restrições – essas restrições tinham sido aprovadas em 2015, ainda durante a Administração Obama, depois de várias críticas sobre a militarização da polícia norte-americana.

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