Dois sobreviventes de ébola entram com uma acção judicial contra governo

Os dois sobreviventes acusam o governo de má gestão dos fundos de apoio à erradicação da doença.

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O ébola matou 11.300 pessoas durante a epidemia entre 2012 e 2016 Reuters/BAZ RATNER

Dois sobreviventes de ébola na Serra Leoa entraram com uma acção judicial num tribunal regional na sexta-feira, acusando o governo de gerir mal os fundos durante a epidemia de ébola que matou mais de 3000 pessoas naquela nação da África Ocidental. Mais de 11.300 pessoas morreram durante a pior epidemia desta doença, altamente contagiosa, que afectou principalmente a Guiné-Conacri, a Libéria e a Serra Leoa entre 2013 a 2016.

Governos estrangeiros e organizações de saúde iapoiaram as três nações com milhões de euros para deter a propagação da epidemia, mas as autoridades locais na Serra Leoa foram acusadas de actos de corrupção e uso indevido dos fundos. O Governo da Serra Leoa comprometeu-se a investigar todas as acusações, mas até agora não houve processos judiciais.

"Os cidadãos da Serra Leoa exigiram repetidamente justiça e responsabilização pela má gestão dos fundos de resposta ao ébola, mas não houve reacção", disse Ibrahim Tommy, do Centro de Responsabilidade e Estado de Direito, que está a ajudar os dois sobreviventes.

Os dois sobreviventes de ébola, que contraíram o vírus enquanto trabalhavam como profissionais de saúde, alegam que os recursos inadequados fornecidos pelo governo foram os responsáveis pelas suas infecções e pelas mortes de muitos dos seus colegas que também foram infectados pelo ébola. Cerca de 250 trabalhadores de saúde morreram na Serra Leoa ao longo da epidemia.

O processo alega que as acções do governo durante a crise de saúde violaram o "direito à vida e o direito à saúde" dos seus cidadãos. Os queixosos procuram compensações financeiras e não financeiras, disse Tommy.

O procurador-geral da Serra Leoa, Joseph Kamara, disse à Reuters que o governo ainda não recebeu a notificação da denúncia, acrescentando que enquanto não acontecer, não lhe é possível comentar o caso.

Uma auditoria interna do governo em 2015 descobriu que um terço dos recursos destinados a combater a epidemia durante um período de seis meses a um ano não poderia ser devidamente contabilizado. Acrescentando que o uso adequado dos fundos poderia ter salvo mais vidas.

"Queremos saber o que aconteceu com o dinheiro", disse Yusuf Kabbah, chefe da associação de sobreviventes do ébola da Serra Leoa. "Estamos muito interessados em prestar o nosso próprio apoio, de modo a que todos sejam responsáveis".

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