Da Califórnia para Toronto: cientista português ganha bolsa do Governo canadiano

Miguel Ramalho Santos vai mudar-se para o Canadá em 2018. Após 21 anos nos Estados Unidos, o português recebeu uma Cátedra de Investigação do Governo canadiano.

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Miguel Ramalho Santos

Na ciência, também pode haver mercado de transferências. Pelo menos em direcção ao Canadá, que através de um programa de recrutamento chama cientistas de todo o mundo para as suas universidades e centros de investigação. É o caso de Miguel Ramalho Santos que trocou a Universidade da Califórnia pela de Toronto, tornando-se um dos primeiros quatro cientistas a receber uma das novas Cátedras de Investigação do Canadá (Research Chairs) – bolsas para desenvolver trabalho científico. A mudança está marcada para o Verão de 2018.

O investigador português foi apresentado, esta quarta-feira, ao lado de outros três cientistas, numa cerimónia em Otava (Canadá), que contou com a presença da ministra da Ciência, Kirsty Duncan, e do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau. Miguel Ramalho Santos, no próximo ano, será cientista no Instituto de Investigação Lunenfeld-Tanenbaum, bem como professor do Departamento de Genética Molecular da Universidade de Toronto. O português ficará ainda à frente do Centro de Excelência em Epigenética do Desenvolvimento. A bolsa da sua Cátedra de Investigação tem o valor de 350 mil dólares canadianos por ano (cerca de 230 mil euros), durante sete anos.

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Miguel Ramalho Santos ao lado de Justin Trudeau

O foco da investigação de Miguel Ramalho Santos está nas células estaminais, algo que vai continuar a estudar no Canadá – e que no ano passado, por exemplo, lhe permitiu descobriu que era possível suspender embriões de ratinhos no tempo. Nas últimas duas décadas, em solo norte-americano, o cientista aprofundou a sua investigação em torno dos mecanismos moleculares no desenvolvimento dos embriões.

Na Universidade de Toronto, o investigador português vai “continuar o trabalho e expandi-lo”, como refere, tendo mais recursos para poder continuar as suas áreas de estudo, desde a biologia do desenvolvimento até às células estaminais embrionárias e à epigenética.

Além das vantagens em termos de recursos e da possibilidade de alargar as investigações, Miguel Ramalho Santos vai ter a oportunidade de “criar um pólo com o foco na epigenética do desenvolvimento”, conforme esclarece.

“E Toronto é mais perto de Portugal”, acrescenta. Miguel Ramalho Santos mudou-se há 21 anos nos Estados Unidos para fazer o doutoramento na Universidade de Harvard. Formado em biologia na Universidade de Coimbra, manteve-se depois como professor associado na Universidade da Califórnia, tendo mesmo o seu próprio laboratório em São Francisco, onde coordenava sete pessoas. Agora, a mudança para o país vizinho surge depois do convite inicial da universidade canadiana e da aprovação da cátedra.

As Cátedras de Investigação foram criadas pelo Governo do Canadá em 2000 e fazem parte da estratégia adoptada para tornar o país um dos mais desenvolvimentos a nível de investigação e desenvolvimento. E o novo Programa Cátedras de Investigação Canadá 150, que celebra os 150 anos deste país e que foi anunciado no orçamento federal de 2017, dispõe de 117,6 milhões de dólares canadianos (cerca de 78 milhões de euros), para atrair mais talentos na ciência.

Miguel Ramalho Santos, com a sua Cátedra de Investigação Canadá 150 em Epigenética do Desenvolvimento, faz assim parte da primeira leva de investigadores deste novo programa, ao lado de três cientistas na área das neurociências, ciências da computação e doenças infecciosas. 

Texto editado por Teresa Firmino

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