Pobre Oscar
O diálogo é obviamente cómico e aforístico no estilo delicioso de Wilde. Não há ali definições de maldade – só de malandrice, se tanto. A única maldade é citá-lo mal.
A maldade sabe esconder-se. Para poder exercer-se com maior eficácia a maldade aprende a disfarçar-se, para mais bem apanhar as vítimas. Um dos aforismos mais citados de Oscar Wilde é: “Como é que você define um homem mau? O tipo de homem que admira a inocência.” Gina Bellafante, escrevendo no NYT sobre a campanha para acrescentar uma legenda a uma pintura de Balthus no Metropolitan Museum of Art, diz que está sempre a lembrar-se de uma frase de Wilde que cita assim: “A bad man is the sort of man who admires innocence.” A frase de Wilde é invocada para falar da pedofilia de Balthus. Mas alterar o que ele escreveu é uma maldade que se faz ao grande aforista, escritor e dramaturgo que Wilde era. Agora já vai tarde, mas não é assim a frase de Wilde. Para a contextualizar (que é o que querem fazer à pintura de Balthus) é preciso citar um diálogo na peça A Woman of No Importance. Mrs Allonby (A) e Lord Illingworth (I) estão a falar de uma mulher de 18 anos que é americana, bonita e puritana.
I: Ela é decididamente bonita. Admiro-a imenso.
A: Que péssimo homem você deve ser! (“What a thoroughly bad man you must be!”)
I: Como é que você define um péssimo homem? (“What do you call a bad man?”)
A: O tipo de homem que admira a inocência.
(“The sort of man who admires innocence.”)
I: E uma péssima mulher? (“And a bad woman?”)
O diálogo é obviamente cómico e aforístico no estilo delicioso de Wilde. Não há ali definições de maldade — só de malandrice, se tanto. A única maldade é citá-lo mal.