EUA acusam Irão de fornecer míssil que atacou Riad e querem coligação para "travar Teerão"

Embaixadora norte-americana na ONU apresenta provas do que diz ser míssil lançado por houthis do Iémen contra a Arábia Saudita.

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Nikki Halley apresentou destroços do que diz ser o míssil iraniano Yuri Gripas/REUTERS

O Irão forneceu armas aos rebeldes houthi no Iémen para estes atacarem a Arábia Saudita, disse a embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, mostrando peças do que disse ser um míssil disparado pelos houthi em direcção à Arábia Saudita no mês passado.  

A acusação de Haley, feita numa conferência de imprensa numa base militar em Washington DC, tem como corolário que o Irão está a violar regras da ONU, e assim poderá “ser a próxima Coreia [do Norte]”. O Presidente Donald Trump tem manifestado frequentemente a intenção de se retirar de um acordo entre vários países e o Irão para limitar o programa nuclear iraniano.

O míssil, disse ainda a representante dos EUA, o país que vendeu o sistema antimíssil que protege a Arábia Saudita, “tem as impressões digitais do Irão” – “é como se tivesse um autocolante a dizer made in Iran”, ironizou Haley.

O Irão nega fornecer armas aos houthis, mas Haley apontou para detalhes técnicos do míssil – uma série de válvulas laterais, por exemplo, ou o mecanismo de estabilização – para afirmar que é de fabrico iraniano. A informação foi desclassificada, o que é fora do comum, "no espírito da transparência e da cooperação internacional", justificou.

Os Estados Unidos vão, agora, trabalhar para a formação de uma coligação internacional para “refrear” o Irão, anunciou Haley. “Vão ver um fluxo de outras coisas a acontecer.” Porque “temos de expor o país por aquilo que é – uma ameaça à paz e segurança de todo o mundo”, disse a embaixadora norte-americana. Estes mísseis, afirmou, tinham potencial de matar milhares de civis, o que quer dizer que o comportamento do Irão “está a piorar”.

Após a declaração de Haley, a Arábia Saudita pediu “acção imediata para pôr em prática as resoluções do Conselho de Segurança da ONU e responsabilizar o Irão pelas suas acções”.

Já o Irão respondeu que as provas da representante norte-americana eram falsas e acusou os Estados Unidos de desviarem as atenções “dos crimes sauditas” no Iémen.

Um relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, concluiu que os destroços de dois mísseis disparados pelos houthis (um contra Riad e outro contra Meca) tinham a mesma origem, mas não chegava a dizer claramente que esta origem era iraniana.  

Iémen é ponto fulcral

“É difícil encontrar um conflito ou um grupo terrorista na região que não tenha as impressões digitais do Irão”, declarou Haley. Teerão apoia, por exemplo, o movimento xiita libanês Hezbollah, que participa na guerra da Síria defendendo o regime de Bashar al-Assad.

O Iémen, que vive uma guerra civil desde 2015, é o palco mais sangrento do confronto entre Irão e Arábia Saudita pela posição hegemónica na região, que provocou ali a maior catástrofe humanitária do mundo. Os rebeldes do Iémen têm lançado mísseis contra território saudita (que apoia o governo iemenita), geralmente interceptados pelo sistema de defesa do país. Mas no mês passado, a explosão de um deles destinado ao aeroporto internacional de Riad em pleno ar provocou alarme. Os restos mostrados pela representante na ONU seriam deste projéctil.   

A declaração de Haley foi feita horas depois da divulgação de um relatório do International Crisis Group avisando que no Iémen a tensão entre Washington e Teerão tinha chegado a um “ponto crítico”.

“Conflitos que se sobrepõem no Médio Oriente aumentam o potencial de confrontos intencionais ou inadvertidos”, disse o grupo em comunicado, dando exemplos de uma escalada no Iémen, como um míssil disparado pelos rebeldes do Iémen contra a Arábia Saudita, ou os Emirados Árabes Unidos, atingir um alvo, poder levar a uma retaliação de um destes países ou mesmo dos Estados Unidos. 

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