A conduta sexual vai turvar as eleições para o Congresso em 2018

Estrategas e investigadores avisam os candidatos às eleições de 2018 para fazerem "auto-avaliação" e não deixarem nada de fora, nem sequer um avanço mal sucedido.

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Os rumores sobre Roy Moore e as adolescentes circulavam à anos DAN ANDERSON/EPA
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O democrata Al Franken demitiu-se do Senado MICHAEL REYNOLDS/EPA

Uma série de acusações de comportamento sexual impróprio feitas contra políticos dos Estados Unidos vão obrigar os candidatos às eleições para o Congresso que se realizam em Novembro de 2018 a medirem muito bem o seu comportamento no passado e a decidir se pode deitar por terra a sua eleição. 

Depois das acusações feitas contra o candidato ao Senado (derrotado) Roy Moore, o congressista democrata John Conyers e o senador democrata Al Franken (ambos obrigados a demitirem-se), os dois partidos advertiram que o comportamento que no passado era admissível, pode agora ser um factor de desqualificação.

“Estamos perante uma mudança no jogo”, disse o estratega Dane Strother. “Qualquer homem que queira ccandidatar-se a um lugar público tem que pensar muito bem sobre o que fez no passado”.

Os políticos estão cada vez mais entre o grupo de homens poderosos, incluindo do sector do entretenimento e dos media, acusados de assédio sexual. E vai ser grande a pressão sobre os candidatos fazerem um auto-exame, em vez de — como disse um republicano — “se submeterem a um julgamento que revelará o que a outra parte pensa deles”. “Mas atenção, muito dependerá do que os candidatos quiserem revelar e de até onde estarão dispostos a ir”.

Nas eleições do ano que vem, os democratas vão tentar recuperar uma ou as duas câmaras do Congresso agora sob o domínio dos republicanos. Trinta e três lugares no Senado e todos os 435 da Câmara de Representantes estarão em disputa.

Os escândalos sexuais há muito que fazem parte da política dos Estados Unidos, mas devido à actual mudança de atitude, os estrategas estão a encorajar os candidatos e os que já ocupam os cargos a falarem com os conselheiros dos partidos sobre a conduta que tiveram no passado, mesmo que pensem que o que fizeram não foi assim tão mau.

“Temos que pressionar os candidatos agressivamente para garantirmos que eles percebem que devem pensar até em situações que na sua opinião não passaram de avanços mal sucedidos e que nunca imaginaram que pudessem ser desenterradas”, disse um veterano advogado democrata à Reuters. 

Sonia Van Meter, que faz pesquisa sobre a oposição para o Partido Democrata, disse que os candidatos têm que ponderar muito bem “o seu comportamento, as frases que dizem de improviso, a forma como se comportam. “Agora tudo está debaixo de escrutínio”.

Se os candidatos não forem cuidadosos no auto-exame, a oposição vai fazer isso por eles. Factos verificáveis — documentos judiciais, registos de votação, discursos... — são por norma a espinha dorsal das pesquisas feitas pelos partidos sobre os candidatos da oposição. Essas pesquisas podem ser alargadas a comportamentos que não foram documentados, disse Strother, acrescentando que podem incluir conversas com mulheres que fizeram parte das equipas para se perceber se há alguma coisa que mereça ser descoberta.

Tracy Sefl, estratega política de Chicago que já coordenou pesquisas sobre a oposição para o Comité Nacional Democrata, disse que as relações no local de trabalho entre candidatos da oposição e as mulheres das equipas podem agora ser um alvo. “No contexto do emprego, pesquisa-se se um homem era supervisor de mulheres? E essas mulheres eram mais jovens, mais velhas ou da mesma idade que o homem?, explica Sefl. “E quantos anos trabalharam ali aquelas mulheres? E o que têm a dizer sobre a sua experiência e sobre ele?”.

Mas Alex Conant, um consultor republicano que trabalhou com os candidatos presidenciais Tim Pawlenty e Marco Rubio, duvida que as pesquisas sobre a oposição mudem de forma drástica, sobretudo porque a maior parte das campanhas não têm dinheiro para isso e dependem dos registos públicos sobre o adversário, das procuras na Internet e das notícias que saem nos media. Além disso, há limites para o que estas pesquisas conseguem descobrir em matéria de conduta imprópria. 

Os rumores sobre o interesse de Roy Moore em raparigas adolescentes circulava nos meios políticos do Alabama há anos, mas foram os jornalistas do Washington Post — não equipas de pesquisa — a convencerem as mulheres a falarem publicamente.

O auto-exame assume maior importância porque as máquinas nacionais dos partidos têm pouca capacidade para identificar os candidatos problemáticos.

Em 2016, as candidaturas de Donald Trump pelo Partido Republicano e de Bernie Sanders pelo Partido Democrático mostraram como é limitada a capacidade dos partidos para determinarem quem são de facto os candidatos aos lugares mais importantes. 

Trump venceu as eleições presidenciais apesar de várias mulheres o terem acusado de, no passado, as ter assediado ou falado de forma imprópria sobre elas. Trump negou as acusações — que algumas delas voltaram a repetir na segunda-feira passada —, disse que se tratava de uma campanha para o denegrir.

Na eleição do Alabama, Moore foi o candidato que ganhou as primárias do Partido Republicano, apesar de a liderança nacional preferir Luther Strange.

Apesar de os partidos ainda vetarem alguns candidatos ao Congresso, dependem em grande medida dos responsáveis locais para travar alguns e fazer avançar outros.

Van Meter diz que a vaga de escândalos mudou a paisagem pois as vítimas agora sentem-se seguras para ir a público com as suas denúncias, o que pode derrubar alguns candidatos ou mesmo evitar que outros se tornem candidatos. 

“O que mudou foi a cultura, o número de mulheres que vieram a público fazer denúncias. E vamos ver mais  casos destes”.
Com Mark Hosenball; Reuters 

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