“Trabalhamos na noite e na noite há excessos. Isto não pode voltar a acontecer"

Amigos e colegas do segurança morto numa discoteca em Lisboa juntaram-se para uma homenagem e uma chamada de atenção para os riscos de quem trabalha como segurança de discotecas sem protecção ou meios.

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Em caravana, dezenas de carros seguiram da discotece Barrio Latino para o cemitério Nuno Ferreira Santos

A homenagem foi silenciosa, com palmas e vivas no final. Amigos e colegas de profissão do segurança morto a tiro na passada sexta-feira frente à discoteca Barrio Latino em Lisboa juntaram-se ao início desta quarta-feira no exacto local onde um rapaz de 17 anos disparou sobre o segurança de 42 anos. O suspeito entregou-se à polícia e ficou em prisão preventiva. A Câmara Municipal de Lisboa mandou encerrar o espaço nocturno na terça-feira.

Junto à discoteca, os colegas do segurança morto quiseram com esta iniciativa "prestar uma homenagem”, depois da missa e antes do funeral, e deixar uma mensagem: “Não queremos problemas, não queremos que ninguém morra. O que queremos é que isto não volte a acontecer”, disse Gonçalo Gaspar, amigo de Nuno, a vítima, e quem organizou a iniciativa.

Os seguranças empunhavam cópias do cartão profissional de Nuno, atribuído por uma das empresas para a qual trabalhava. Gonçalo tinha mesmo pendurado ao pecoço o cartão original, um gesto simbólico de homenagem à vítima mortal.

Na parte de trás do carro funerário e nas t-shirts que muitos usavam também estavam fotos de Nuno, com a data da morte e a inscrição “Mais um irmão, mais um guerreiro”. E ainda: “Porquê? Também somos humanos.”

As várias centenas de pessoas ali presentes seguiram depois numa longa caravana de carros pela avenida fora, para o cemitério. “Quantos de nós precisam de tombar para que isto acabe?”, acrescenta, em forma de pergunta, um outro amigo. “Muita gente acha que nós, seguranças, somos brutos. Tem que deixar de haver esta mística de que quem veste a farda preta" é mau.

Policiamento e mais meios

Querem medidas: “Que haja mais policiamento”, por exemplo. Mas também o reconhecimento de que nalgumas circunstâncias não é possível actuar, sem ajudas e sem meios, com segurança, refere Gonçalo Gaspar. “Não temos nenhum meio de imobilização não letal. Devíamos ter. Em certas situações, só temos as nossas mãos."

“Às vezes podemos não agir da melhor forma. Agimos como podemos", acrescenta. "Trabalhamos na noite, e na noite há excessos. Não podemos esperar que haja mais um crime."

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