Ex-secretário de Estado admite processar TVI por devassa da vida privada

Manuel Delgado considera que as notícias sobre a sua ligação à presidente da Raríssimas "ultrapassaram todos os limites".

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LUSA/Tiago Petinga

Depois de ter sido "insultado na praça pública" e de ter visto a sua vida pessoal "devassada", o ex-secretário de Estado Manuel Delgado está a ponderar a hipótese de recorrer aos tribunais para processar a TVI, que denunciou a sua ligação à associação de doenças raras Raríssimas e à respectiva presidente, Paula Brito e Costa. “Estou a estudar serenamente essa possibilidade", admitiu ao PÚBLICO, lamentando que a situação tivesse atingido a dimensão que atingiu e que levou à sua demissão. "Tudo isto é gravíssimo e difícil de consertar”, rematou.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o ex-secretário de Estado - que foi consultor da Raríssimas antes de entrar para o Governo, tendo por essa colaboração recebido cerca 63 mil euros -  voltou a explicar que apresentou a sua demissão para “não perturbar nem criar qualquer tipo de embaraço ao normal funcionamento do Governo”.

Sublinhou, porém, que se demitiu sobretudo por causa da “grave violação da privacidade" da sua "vida pessoal", em "termos e circunstâncias inadmissíveis e que ultrapassaram todos os limites”. Foram, considera, “muito além do âmbito e contexto sobre as eventuais suspeitas de irregularidades de gestão que foram cometidas naquela entidade”.

"A minha vida privada não é para aqui chamada"

Na entrevista que concedeu à TVI horas antes da sua saída do executivo, Manuel Delgado, confrontado com viagens que terá realizado com Paula Brito e Costa e com a relação de ambos, negou: “Não. A minha vida privada não é para aqui chamada”. 

Confrontada com a ameaça de processo, a jornalista da TVI que conduziu a investigação sobre a presidente da Raríssimas, Ana Leal, responde que, caso o ex-governante decida avançar para tribunal, dirá que o que está aqui em causa "não é a vida privada". "Ele está equivocado. Esta situação diz respeito a todos nós porque somos nós que pagamos a Raríssimas e o ordenado dele", reagiu.  

Já Manuel Delgado considera no comunicado que foram "ultrapassados todos os limites de reserva pessoal” e que não podia tomar outra decisão se não a de se demitir. Ao mesmo tempo, repete que não recebeu “qualquer favorecimento por qualquer relação pessoal” e que, enquanto secretário de Estado da Saúde, "não teve intervenção em processos de apoio" a esta associação.

Na tentativa de evitar mais “especulação” sobre a sua conduta, reafirma que foi remunerado "pela prestação de um serviço para o qual foi contratado no âmbito das suas competências profissionais",  “muito antes” da sua entrada no Governo e respeitando “na íntegra todo o quadro legal e ético”.

Frisa igualmente queque não conhece “nem tem de conhecer” a gestão remuneratória da Raríssimas, “tal como todos os consultores das diferentes entidades da economia social desconhecem quanto e de que forma são remunerados os responsáveis dessas instituições, independentemente de receberem subsídios estatais”.

O economista que foi administrador de vários hospitais públicos, antes de ir para o sector privado dirigir a delegação portuguesa da consultora espanhola IASIST, enfatiza ainda que há “muitos exemplos” de “consultores jurídicos, especialistas nas áreas de gestão de saúde, entre outros, que colaboram com as diferentes instituições e que, seguramente, desconhecem quanto ganham os presidentes dessas entidades” .

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