Assassino sueco regressa a tribunal por morte de sobrevivente do Holocausto

O suspeito já cumpria uma pena de prisão perpétua por outro homicídio na Suécia.

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John Ausonius aceitou ser transferido para o julgamento na condição de regressar à prisão sueca onde cumpre pena Reuters/STAFF

John Ausonius, condenado em 1994 na Suécia a uma pena de prisão perpétua pela morte de uma pessoa e pela tentativa de homicídio de outras dez, começa esta quarta-feira a ser ouvido num tribunal na Alemanha por suspeita da morte de uma segunda vítima: uma sobrevivente do Holocausto. Este segundo homicídio, cujo caso permanecia até hoje por desvendar, ocorreu em 1992 em Frankfurt, já quando Ausonius se encontrava em fuga às autoridades suecas.

O cidadão sueco, que cumpre actualmente pena no país escandinavo, foi condenado por alvejar 11 pessoas entre Agosto de 1991 e Janeiro de 1992. Os ataques aconteceram todos na região de Estocolmo e Uppsala, cidades separadas por cerca de 70 quilómetros. Uma das vítimas, Jimmy Ranjbar, um estudante iraniano, acabaria por morrer. As restantes dez vítimas sobreviveram, ainda que com ferimentos graves.  

Referido na imprensa sueca como Lasermannen ("homem do laser") por ter utilizado uma arma de fogo com um ponteiro laser (a sua história é contada pelo jornalista Gellert Tamas, no livro O Assassino do Laser, editado em Portugal pela Caderno), Ausonius não atacava de forma aleatória. As vítimas eram imigrantes ou tinham ascendência estrangeira.

Ausonius, no entanto, também não tinha raízes suecas. Filho de mãe suíça e pai alemão, cresceu num bairro operário de Estocolmo. Na escola, a ascendência estrangeira e os seus cabelos e olhos castanhos tornaram-no vítima de bullying. Contudo, e apesar do acosso, Ausonius desenvolveu mais tarde convicções xenófobas e racistas.

Já na idade adulta, pintou o cabelo de louro e usou lentes de contacto azuis. A solo, mas numa altura em que a extrema-direita sueca voltava a crescer, Ausonius lançou uma campanha terrorista com o propósito de assustar imigrantes e desencorajar estrangeiros de migrar para a Suécia.

O extremista acabou por ser capturado e condenado em 1994. A sua actuação, no entanto, fez escola. Ausonius terá sido um dos principais modelos de Anders Breivik, o militante de extrema-direita responsável pela morte de 77 pessoas num ataque terrorista em Oslo e na ilha de Utoya, na vizinha Noruega, em 2011, e de uma célula nazi que matou dez pessoas na Alemanha, entre 2000 e 2007. O sueco é também considerado um dos percursores da táctica do “lobo solitário”, aponta o professor da Universidade de Uppsala, Mattias Gardell, citado pelo Guardian.

Agora, e duas décadas depois dos crimes cometidos na Suécia, Ausonius volta ao banco dos réu, na Alemanha, para responder pela morte de Blanka Zmigrod, uma sobrevivente do Holocausto, assassinada em Fevereiro de 1992, no caminho do trabalho para casa, em Frankfurt. Zmigrod, que sobreviveu a quatro campos de concentração durante o período nazi, incluindo Auschwitz e Bergen-Belsen, e a várias “marchas da morte”, trabalhava num restaurante na cidade alemã.

O crime aconteceu depois de Ausonius ter ido ao restaurante acusar Zmigrod de lhe ter roubado uma calculadora Casio, duas semanas antes, naquele estabelecimento. A vítima negou as acusações de furto e Ausonius acabaria por sair do restaurante, deixando no ar uma ameaça: “voltaremos a encontrar-nos!”. Zmigrod seria encontrada morta no dia seguinte, vítima de um disparo a curta distância. O suspeito fugiu de bicicleta, meio de transporte que se sabe que Ausonius utilizou após os ataques cometidos na Suécia.

As autoridades também apontam a semelhança entre as munições encontradas nas cenas de crime na Suécia e na Alemanha.

Ausonius sempre negou qualquer responsabilidade na morte de Zmigrod. No entanto, e segundo as autoridades suecas, o suspeito sorriu durante um interrogatório quando lhe foi dito que a vítima de Frankfurt era judia.

O sueco, que concordou ser presente a julgamento na Alemanha na condição de regressar à mesma prisão sueca onde já cumpre pena, vê assim comprometida a possibilidade de sair em liberdade condicional, algo que tinha solicitado quatro vezes nos últimos nove anos.

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