Telemóvel made in Portugal arranca a partir de Janeiro em Coruche

Depois de atrasos, a fábrica está prestes a produzir os aparelhos da portuguesa Iki Mobile. Empresa quer usar a cortiça e o local de fabrico para aliciar clientes.

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“A cortiça pode ser o nosso melhor componente tecnológico”, diz Tito Cardoso, presidente executivo da Iki Mobile Miguel Manso

O tom de voz deixa revelar alguma decepção quando admite que a Iki Mobile não é “muito conhecida” em Portugal. Tito Cardoso – arquitecto de formação e com um passado na área da consultoria – está desde 2013 a construir uma marca portuguesa de telemóveis. Por ora, são aparelhos feitos na China, como é habitual. A partir do próximo ano, passarão a ser de fabrico português: depois de alguns atrasos, está agendada para 30 de Janeiro a abertura de uma pequena fábrica em Coruche, a primeira do género no país e onde, se tudo correr como planeado, a maioria dos telemóveis da Iki Mobile passarão a ser produzidos.

A conversa com o PÚBLICO aconteceu em Lisboa, nos escritórios da UniverCosmos, a empresa de consultoria onde nasceu a ideia de lançar a Iki Mobile. Apesar do desabafo, e de estar muito longe da popularidade das marcas mais conhecidas, a Iki Mobile não tem sido ignorada: o lançamento dos primeiros smartphones, há dois anos, foi motivo de notícia, tal como aconteceu com o projecto de criar uma fábrica portuguesa.

O que também não passou despercebido foi a apresentação, no final do ano passado, de um telemóvel revestido a cortiça. Depois de se ter estreado com alguns modelos mais convencionais, foi com aquele telemóvel que a empresa começou a dar forma ao plano inicial de substituir plástico e metal por cortiça, um material de que Portugal é o maior produtor no mundo. O objectivo é apelar aos consumidores num mercado recheado de ofertas, onde as nuances das especificações técnicas que diferenciam um telemóvel do outro se perdem aos olhos de muitos utilizadores. “A tecnologia hoje em dia é muito parecida. É uma questão de posicionamento de mercado”, defende Tito Cardoso.

A cortiça funciona como símbolo de um produto português, mas também traz vantagens face aos outros materiais, argumenta o presidente da Iki Mobile. “A cortiça pode ser o nosso melhor componente tecnológico: diminui o número de bactérias, é anti-alérgica, o speaker [coluna] tem menos vibração, o aquecimento é mais estável, a temperatura é mais uniforme.” É a aposta neste material que faz com que a fábrica da empresa seja em Coruche: o concelho do distrito de Santarém chama a si próprio a “capital mundial da cortiça” e produz diariamente cerca de cinco milhões de rolhas, 13% do total do país.

A Iki Mobile pretende manter alguma produção nas fábricas chinesas, sobretudo para tentar vender telemóveis para países como a própria China e a Rússia. Mas a grande maioria dos aparelhos deverão ser fabricados em Portugal.

Mesmo com as fábricas asiáticas a serem conhecidas pelos baixos custos de produção, Tito Cardoso garante que é possível manter as margens de lucro produzindo os aparelhos em Coruche. Em parte isto acontece porque a empresa conseguiu reduzir os custos de compra de alguns componentes. O transporte para alguns mercados também sairá mais barato. E, por fim, o empresário observa que “os salários na China são muito parecidos com os de Portugal”.

A unidade deverá empregar 36 pessoas nos primeiros meses, e a produção vai arrancar devagar, produzindo os dois novos modelos da marca a tempo de serem mostrados no Mobile World Congress, a grande feira do sector, que decorre em Fevereiro em Barcelona (a Iki Mobile terá um novo smartphone com um preço de 340 euros, o mais caro até agora, e outro de 189 euros). Em velocidade de cruzeiro – e caso haja procura para isso – a fábrica deverá ser capaz de produzir 100 mil telemóveis por mês.

Por ora, os números são mais pequenos. Ao longo de 2017, a empresa vendeu 370 mil telemóveis. Cerca de um terço foram smartphones, enquanto os restantes foram os telemóveis com teclas tradicionais, que na gíria do sector se chamam hoje feature phones. Tipicamente, estes aparelhos são baratos e destinam-se a mercados em desenvolvimento e a utilizadores mais velhos (o mais barato da Iki Mobile custa 17 euros).

Para o próximo ano, a empresa tem o objectivo de produzir meio milhão de telemóveis de marca própria, aos quais espera somar telemóveis de marca branca fabricados para operadores. O local de fabrico, diz Tito Cardoso, é um trunfo para conquistar clientes: “A partir do momento em que temos uma fábrica em Portugal, passa a ser made in Portugal.”

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