Caso dos incêndios de Pedrógão já tem dois arguidos

Em causa estão crimes de homicídio por negligência e ofensas corporais. O segundo comandante distrital de Leiria, Mário Cerol, chegou ao incêndio depois do comandante de bombeiros de Pedrógão. É expectável que haja mais arguidos nos próximos dias.

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Nelson Garrido

Depois de Mário Cerol, o primeiro arguido entre os comandantes que estiveram à frente do combate aos incêndios de Pedrógão, também outro dirigente dos bombeiros, Augusto Arnaut, viu as suspeitas do Ministério Público recaírem sobre si.

A cargo do Departamento de Investigação e Acção Penal de Leiria, o inquérito conta assim agora com dois arguidos. Em causa estão indícios dos crimes de homicídio por negligência e ofensas corporais também por negligência, informou esta terça-feira à tarde a Procuradoria-Geral da República.

Comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut tem 51 anos e é bombeiro há 32, explica a advogada da Liga de Bombeiros Portugueses, Magda Rodrigues. "É uma pessoa respeitada por todos e o seu lema continua a ser 'Vida por vida'", refere a sua representante legal. 

Mas foi Mário Cerol quem comandou o fogo nas horas críticas, logo a seguir ao comandante de bombeiros de Pedrógão, e até ser substituído pelo segundo comandante nacional, Albino Tavares, às 22h. Ao PÚBLICO chegou a informação de que terá sido constituído arguido antes mesmo de ter sido ouvido pelo Ministério Público no processo que investiga o que aconteceu durante o incêndio que vitimou 65 pessoas há seis meses.

O próprio confirmou ao PÚBLICO que foi ouvido e constituído arguido, sem no entanto revelar mais detalhes. A notícia foi revelada pelo jornal Diário de Leiria na sua edição desta terça-feira.

Segundo comandante da ANPC será ouvido

Irão ainda ser ouvidos pelas autoridades outros intervenientes no combate naquele dia, como o segundo comandante nacional, Albino Tavares, sendo provável a constituição de mais arguidos nos próximos dias. 

O segundo comandante distrital de Leiria é, assim, o primeiro arguido do caso, que vitimou mortalmente mais de seis dezenas de pessoas em Junho. Advogado de profissão e ex-comandante dos bombeiros de Alcobaça, é um homem novo na estrutura da ANPC nomeado este ano para o cargo, tal como o PÚBLICO noticiou em Junho. Antes da tragédia de Pedrógão nunca terá enfrentado um fogo florestal de grandes dimensões - o que de resto só fez naquele dia por o primeiro comandante de Leiria, Sérgio Gomes, ter sido confrontado com problemas de saúde que o terão impossibilitado de exercer funções durante aquelas horas. Mário Cerol foi nomeado em Fevereiro deste ano para substituir Luís Lopes, afastado pelo então comandante nacional Rui Esteves.

Segundo o relatório do grupo de peritos independentes sobre o que se passou em Pedrógão, os homens que comandaram as operações neste dia deviam ter mandado evacuar as aldeias, ou pelo menos dar ordens para os habitantes não saírem de casa. "As medidas que deveriam ter sido tomadas, e da responsabilidade do comando, poderiam ter moderado o efeito do incêndio, designadamente levando à retirada das pessoas das aldeias", explicou, em Outubro passado, o presidente da comissão, João Guerreiro. E isso teria evitado mortes. 

Vários dos responsáveis envolvidos no combate ao fogo e ouvidos pelo PÚBLICO na altura questionaram por seu turno as decisões do comando nacional da Protecção Civil, do desvio de meios aéreos numa fase crucial até ao facto de o combate às chamas ter ficado durante as primeiras cinco horas sob o comando de uma estrutura local de bombeiros, liderada por Augusto Arnaut. 

A partir de certa altura era tarde demais. "A partir de certa altura era impossível tomar conta do incêndio", descreveu no seu relato João Guerreiro, embora sem descartar o efeito das características únicas a nível meteorológico que se verificaram naquele dia de Junho. O relatório dos peritos admite que depois das 17h ou das 18h, altura em que era ainda Augusto Arnault a comandar as operações, "a probabilidade de sucesso em deter o incêndio seria sempre reduzida, mesmo dispondo de um conjunto reforçado de meios" e de uma organização eficaz. 

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