Slow Burn, o podcast sobre o Watergate

A revista online Slate tem um programa sobre como era viver na época do escândalo que levou à demissão de Richard Nixon e as histórias esquecidas do que se passou até este rebentar.

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Em Slow Burn contam-se as histórias esquecidas do Watergate DR

A 9 de Agosto de 1974, Richard Nixon tornou-se o primeiro e, até à data, único presidente dos Estados Unidos a demitir-se. Tal deveu-se ao impacto do escândalo Watergate, um assalto, a mando do comité para a reeleição do republicano Nixon, às instalações do Comité Nacional do Partido Democrata que tinha ocorrido dois anos antes e sido encoberto pela administração do presidente.

Slow Burn, o novo podcast da revista online Slate, conta como é que se passou tanto tempo entre o assalto e a demissão do presidente. Ao longo de oito episódios que duram à volta de meia hora, o jornalista Leon Neyfakh mostra histórias que foram esquecidas nos últimos 40 anos e juntas contribuíram para o avançar do escândalo. São momentos que não foram imortalizados em Os Homens do Presidente, o filme de Alan J. Pakula sobre como Bob Woodward e Carl Bernstein publicaram vários furos jornalísticos no The Washington Post.

Ao mesmo tempo, o podcast traça um paralelo com os tempos actuais da política norte-americana, como é que aquela época foi vivida e como é que se reconhece que algo do género está acontecer. É um olhar sobre uma época que continua a ter importância nos dias que correm. Afinal, não só há ecos desses tempos no actual contexto norte-americano, como há arte a ser feita sobre a era. Como por exemplo The Post, o filme de Steven Spielberg com estreia marcada para 4 de Janeiro. É sobre a luta do The Washington Post de Woodward e Bernstein, para publicar, em 1971, excertos dos Pentagon Papers, que provavam uma conspiração e mentiras do governo relacionadas com a Guerra do Vietname. Daniel Ellsberg, que deu os excertos aos jornais, foi vítima de encobrimentos e tentativas de descredibilização da parte do governo de Nixon.

Para chegar ao fundo da questão, o apresentador falou com inúmeras pessoas envolvidas ou na investigação ou no caso em si, desde jornalistas como o próprio Bob Woodward, Barry Sussman, editor de Woodward no The Washington Post, ou Lesley Stahl, de 60 Minutos, ao cómico e apresentador de talk shows Dick Cavett. E, além disso, fez uma vasta pesquisa, com cada episódio a ter notas bibliográficas online e conteúdos bónus para membros do serviço de subscrição da Slate, o Slate Plus, que reúnem algumas das melhores descobertas de Neyfakh e excertos mais substanciais das entrevistas – que nos episódios propriamente ditos costumam resumir-se a poucas frases.

No terceiro episódio, que saiu esta terça-feira, fala-se da forma como, apesar de o escândalo ser conhecido, os eleitores norte-americanos não quiseram saber o suficiente dele e chegaram a reeleger Nixon em 1972. Havia notícias que eram abafadas e demasiado a passar-se para ligarem àquilo que era visto na altura só como um assalto e não como uma conspiração política.

Algumas das histórias são perturbadoras, como a de Martha Mitchell, a esposa de John N. Mitchell, o Procurador-Geral dos Estados Unidos da administração Nixon. Mitchell, sobre a qual versa o primeiro episódio do podcast, que saiu no final de Novembro, era famosa por ser desbocada e aparecer na imprensa a falar. Várias vezes, tentou falar em público sobre o Watergate. Por isso, Nixon e os seus associados tentaram descredibilizá-la completamente, além de a terem sedado e trancado num quarto para a não deixarem falar com a imprensa. Fizeram-na passar por louca, e o presidente demissionário chegou a falar sobre o quão perturbada Martha era nas famosas entrevistas que deu ao jornalista britânico David Frost em 1977.

Neyfakh compara-a a Anthony Scaramucci, que foi durante apenas dez dias porta-voz da Casa Branca de Donald Trump, um homem também desbocado que causou sensação mediática, mas do qual pouca gente se lembrará no futuro. Há outra ressonância com a actualidade, contudo, na forma como o mundo está finalmente a acreditar em mulheres.

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