O engenheiro que desenhava palacetes

Obra de António da Silva é revisitada por Domingos Tavares em mais uma edição - a 13 de Dezembro - com a chancela Dafne.

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A capa do livro é a residência do próprio António da Silva na Foz portuense

A recente inauguração da Casa da Arquitectura, em Matosinhos, veio chamar a atenção para a arquitectura da centenária fábrica da Companhia Real Vinícola, entretanto reconvertida na nova instituição. Mas pouco se disse – e pouco se sabe – sobre o autor do projecto, o engenheiro António da Silva (1853-1909).

A preencher essa lacuna surge agora o novo livro de Domingos Tavares, o arquitecto, professor e investigador que, depois das suas Sebentas de História da Arquitectura Moderna, se vem ocupando com o levantamento das histórias de figuras e de contribuições marcantes para a paisagem urbana do Grande Porto.

Depois de documentar o trabalho do “arquitecto municipal” António Correia da Silva, autor dos Paços do Concelho portuenses, e de viajar pelas casas de brasileiro e pela arquitectura erudita e popular dos torna-viagem, Domingos Tavares escreve agora, em mais uma edição com a chancela Dafne, sobre as Transformações na Arquitectura Portuense, abordando o caso singular do engenheiro-arquitecto António da Silva.

O livro vai ser lançado a 13 de Dezembro na Fundação Marques da Silva (18h30), no Porto, com apresentação pelo engenheiro Raimundo Mendes da Silva, professor da Universidade de Coimbra e especialista em reabilitação de edifícios e salvaguarda de património cultural.

Apesar de ter sido o autor da Real Vinícola, a investigação que Domingos Tavares agora faz da obra de António da Silva deixa de parte a vertente da arquitectura industrial e foca-se sobretudo nos palacetes e chalés que o engenheiro projectou para a nova burguesia portuense, “culta, liberal e progressista, que procurava na moda europeia a imagem da afirmação e da mudança”.

Ainda que diplomado em Engenharia na Academia Politécnica do Porto (1883), António da Silva produziu, nas duas décadas de viragem dos séculos XIX-XX, uma obra que “corresponde a uma das rupturas arquitectónicas introduzidas em Portugal na sequência das transformações sociais geradas no seio da revolução liberal, depois republicana”, escreve o autor. Mas tal facto não foi suficiente para que o seu nome ficasse suficientemente registado na história da arquitectura do Porto e Norte do país – talvez até por se tratar de um engenheiro a trabalhar numa época em que despontava uma nova geração de arquitectos, de que José Marques da Silva (1869-1947) se tornaria o expoente maior.

O caso António da Silva “espelha o sentido da mudança quanto aos modelos que serviram de suporte a importantes transformações na imagem da arquitectura”, nota Domingos Tavares, que em Transformações na Arquitectura Portuense nos transporta, em fotografias antigas e actuais, além de plantas e projectos, pela obra deste desenhador de palacetes que ainda pontuam algumas ruas e avenidas do Porto e de outras cidades do Norte do país.

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