Seguir o peso corporal dos adolescentes deu um prémio

Flutuações de gordura corporal ao longo da adolescência influenciam o aparecimento de factores de risco de doença na idade adulta – um estudo português agora reconhecido com um prémio de 20 mil euros.

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Maus hábitos alimentares influenciam a gordura corporal João Henriques

Uma equipa de investigadores do Instituto de Saúde Pública e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto estudou a forma como as flutuações de gordura corporal ao longo da adolescência influenciam o aparecimento de factores de risco de doenças na idade adulta. Concluiu-se que, além da quantidade, também a duração do excesso de gordura tem impacto no aumento dos riscos associados à obesidade. E, esta segunda-feira, os autores do trabalho receberam um prémio de 20 mil euros, atribuído pela Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (SCML) e pela empresa farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD).

Foram usados dados de 2253 participantes do projecto Epidemiological Health Investigation of Teenagers in Porto (Epiteen), um estudo longitudinal, iniciado em 2003, que pretendia compreender de que forma os hábitos e os comportamentos adquiridos na adolescência se reflectem na saúde do adulto (e que tem agora continuidade no Epiteen24). Os jovens, na altura a frequentar escolas no Porto, foram avaliados aos 13, 17, 21 e 24 anos de idade em vários parâmetros (peso, altura, pressão arterial e resultados de análises ao sangue).

“Pretendemos avaliar o efeito da duração e do grau de adiposidade, desde a adolescência até ao início da idade adulta, na pressão sanguínea e na resistência à insulina aos 24 anos”, afirmam os investigadores no artigo científico, publicado este ano na revista International Journal of Obesity. E que lhes valeu o Prémio SCML/MDS em Saúde Pública e Epidemiologia Clínica, entregue esta segunda-feira no Palácio da Bemposta em Lisboa. “O que distingue claramente este trabalho é o tempo de seguimento que nos permite perceber a evolução e não é fácil medir os mesmos indivíduos durante dez anos. Os heróis são os participantes que se têm mantido sempre disponíveis”, afirma ao PÚBLICO a especialista em saúde pública Elisabete Ramos, co-coordenadora da equipa.

E os resultados confirmaram o esperado, de acordo com a investigadora. Quanto maior o índice de massa corporal, maior o risco de doenças cardiovasculares, por exemplo enfartes, e também de diabetes. Para além disso, além da quantidade, também a duração do excesso de gordura corporal é relevante. Concluiu-se, então, que os indivíduos que apresentam maior adiposidade durante a adolescência têm valores superiores de pressão arterial e de resistência à insulina na idade adulta, neste caso aos 24 anos. “Foi nosso objectivo mostrar como o que acontece durante a adolescência tem repercussões na idade adulta”, afirma Elisabete Ramos. “O problema não começa só quando começa a doença. É importante promover trajectórias de crescimento mais saudáveis.”

Texto editado por Teresa Firmino

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