Moon walk?

Uma presença permanente na Lua tem um interesse geoestratégico enorme e pode ser vista como uma grande demonstração de poder político e territorial para uma Administração ávida de hegemonia.

À primeira vista, o famoso movimento de dança tornado popular por Michael Jackson poderia ser uma boa analogia com a directiva anunciada esta segunda-feira pelo Presidente Trump, a Space Policy Directive-1: será que avançamos ou na verdade caminhamos para trás? Desde que a ideia foi inicialmente apresentada pelo grupo de trabalho que definiu as linhas orientadoras da política espacial da Administração Trump, os receios e as críticas tem-se feito ouvir pela comunidade espacial institucional norte-americana, não pela iniciativa em si, mas pelo risco que pode representar para as outras iniciativas em curso pela NASA, nomeadamente a exploração de Marte. Esta foi uma das linhas estratégicas aprovadas pelo Presidente Obama em 2010 (em detrimento de uma nova ida à Lua) e os grandes projectos de desenvolvimento da NASA nos últimos anos (o foguetão Space Launch System, a cápsula Orion e a estação espacial Deep Space Gateway) representam as bases tecnológicas facilitadoras de uma exploração humana de Marte.

O anúncio desta directiva desta segunda-feira, porém, assenta num discurso de continuidade com a estratégia anterior, argumentando que uma ida à Lua deve ser vista como um passo fundamental para uma ida a Marte, mas a verdade é que as tecnologias necessárias para o fazer – e em apenas três anos – estão longe de estar maduras, não havendo sequer ainda uma definição sólida de missão. Para o fazer, vai ser preciso (muito) investimento e (muitos) recursos humanos – e só quando o orçamento da NASA for discutido e aprovado em 2018 é que se poderá entender a verdadeira dimensão e seriedade desta vontade política.

Por outro lado, esta é uma ideia que tem vindo a ser perseguida pela indústria espacial norte-americana há vários anos. O sector privado há muito que defende que uma estação espacial lunar é, de facto, um passo fundamental para uma exploração humana interplanetária: em Setembro deste ano, um dos fundadores da Blue Origin, uma das empresas do chamado ‘New Space’, dizia que “já é tempo de a América voltar à Lua – mas desta vez para ficar”.

Para além da maturidade tecnológica que uma estação lunar operacional representa – e do conhecimento e preparação que pode trazer para futuras explorações interplanetárias –, o interesse em jogo neste momento não é puramente científico, e aqui reside também a razão – ou as razões – pelas quais o  Presidente Trump abraçou esta ideia desde o início. Uma presença permanente na Lua tem um interesse geoestratégico enorme e pode ser vista como uma grande demonstração de poder político e territorial para uma Administração ávida de hegemonia, num momento de grandes tensões políticas com outros países que já demonstraram a sua intenção e capacidade de fazer o mesmo em pouco tempo, como é o caso da China. Por outro lado, o potencial de recursos naturais da Lua ainda está por explorar mas parece ser promissor, e a presença de água torna a sua exploração muito atractiva e potenciadora de outras actividades e negócios de base espacial, como sejam o turismo espacial e a exploração de recursos planetários. 

A verdade é que, historicamente, iniciativas deste tipo fomentam grandes avanços no sector espacial mundial, representando também momentos únicos de cooperação internacional. Resta-nos torcer – e trabalhar – para que esta directiva seja de facto um passo ainda mais gigante para a humanidade.

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