Prémios entregues entre críticas à situação dos rohingya e às armas nucleares

O tratamento dado aos rohingya na Birmânia e os perigos nucleares foram temas abordados na entrega dos prémios Nobel.

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Momento da entrega do Nobel da Paz LUSA/Berit Roald

O presidente da Fundação Nobel, Carl-Henrik Heldin, afirmou neste domingo, durante a cerimónia de entrega dos prémios Nobel 2017, que de uma forma geral os direitos humanos são “ignorados" no mundo e um exemplo claro disso é o "terrível tratamento dado aos rohingya" na Birmânia.

Num discurso directo e com referências a um caso concreto, Carl-Henrik Heldin referiu-se à situação dessa minoria muçulmana na Birmânia, num evento presidido pelos reis Carl Gustaf e Silvia da Suécia, para entregar os prémios deste ano. A actual conselheira de Estado de Birmânia, Aung San Suu Kyi, ganhou em 1991 o Nobel da Paz pelo "compromisso não violento com a democracia e os direitos humanos". Os seus críticos apontam agora que tem tido uma acção frouxa na crise dos rohingya, havendo mesmo quem peça que lhe seja retirado o prémio.

Carl-Henrik Heldin defendeu que, graças aos progressos científicos, culturais e económicos, agora é possível ter "sociedades nas quais as pessoas são capazes de viver a vida que desejam", num nível nunca antes visto, mas salientou, “hoje vemos novas ameaças perante os progressos. A ciência é questionada, o comércio internacional e a cooperação são reduzidos, os direitos humanos fundamentais são ignorados, sendo um exemplo terrível o tratamento dos rohingyas em Mianmar. Muita gente vive sob constante ameaça de violência", disse.

Antes, na entrega do Nobel da Paz à Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), a directora-executiva da plataforma, Beatrice Fihn, ao receber o prémio, instou as potências nucleares a juntarem-se ao Tratado Internacional de Proibição de Arsenais Nucleares, para terminar com esta “ameaça” sobre a humanidade. "Nós representamos a única escolha racional, representamos aqueles que se recusam a aceitar armas nucleares como um elemento do mundo; em unir os seus destinos às linhas de um código de lançamento, a nossa é a única realidade possível, a alternativa é impensável", afirmou.

Beatrice Fihn recebeu o Nobel numa emotiva cerimónia junto a Setsuko Thurlow, de 85 anos, sobrevivente da bomba atómica de Hiroshima em 1945. A japonesa definiu as armas nucleares como “o mal máximo” e falou da sua experiência para pedir o fim de uma “loucura intolerável.” Beatrice Fihn acabou por alertar para os riscos de hoje, dizendo que são maiores do que no fim da Guerra Fria, porque existem mais estados “atómicos”, mais terroristas e a guerra cibernética. A morte de milhões de pessoas pode estar "à distância de uma pequena birra.”

A directora do ICAN refutou o argumento dissuasório esgrimido pelas principiais potências e afirmou que a única utilidade “real” dos arsenais nucleares é provocar medo e negar a liberdade. A japonesa Setsuko Thurlow, que emocionou a plateia com o seu relato, falando dos familiares e dos 351 companheiros de escola mortos, fez questão de dizer: "Ouçam os nossos avisos e saibam que as vossas acções têm consequências. Cada um de vós é parte de um ciclo de violência que ameaça a humanidade."

A ICAN foi reconhecida pelo Comité Nobel pelo seu trabalho na criação do Tratado das Nações Unidas para Proibição de Armas Nucleares, adoptado a 7 de Julho e assinado por 122 países.

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