Professora vai ser julgada por alegados maus tratos a alunos

Docente foi acusada pelo MP por dez crimes, que terão sido cometidos ao longo de um período de sete anos.

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Adriano Miranda

Uma juíza de instrução criminal no Tribunal de Braga decidiu manter a acusação e levar a julgamento uma professora suspeita de ter submetido alunos seus a maus tratos, em duas escolas de Barcelos, durante sete anos. As alegadas vítimas eram alunos das escolas do 1.º ciclo de Aldreu e Fragoso, naquele concelho.

Segundo o despacho de pronúncia, os maus tratos eram físicos e verbais e ocorreram entre 2009 e 2016, sendo as vítimas os alunos mais lentos e com maiores dificuldades de aprendizagem. “As crianças nunca viram a escola como lugar seguro que deveria ser, antes recusavam ir à escola, e, apesar de irem, viviam nela um verdadeiro terror”, refere o despacho.

A docente é acusada de uso frequente de “calão grosseiro” em frente aos alunos e de lhes dirigir expressões insultuosas como “arrastão”, “burro”, “preguiçoso” e “lesma”. As agressões físicas passariam, nomeadamente, por bofetadas, pancadas na nuca ou agressões na cabeça com canetas ou com os dedos em que tinha anéis. Os alunos sofreriam ainda outros castigos, como não frequência das actividades extracurriculares ou privação dos recreios.

Terá baixado as calças a um dos alunos, em plena sala de aulas, agredindo-o com sapatadas nas nádegas. A professora é ainda acusada de ter imposto aos alunos um “ameaçador pacto de silêncio”, para que não contassem em casa nada do que passava na escola.

“As consequências da conduta violenta e totalmente desapropriada da arguida na saúde física e mental das crianças encontram-se profusamente indiciadas pelo acompanhamento psicológico e pedopsiquiátrico que tiveram”, lê-se no despacho de pronúncia.

Um pedopsiquiatra que seguiu uma aluna escreveu, num relatório, que “durante todo o período escolar, foi uma verdadeira tortura para a criança ir à escola”, porque a professora a insultava “com regularidade”, provocando uma situação de “verdadeiro pânico, insegurança e nictúria”. O médico aconselhou a aluna a mudar de escola e a evitar passar em frente à escola onde teria sido sujeita a maus tratos.

Quando ouvida em interrogatório judicial, a professora negou “peremptoriamente” as agressões, sublinhando que exerce há mais de 30 anos, tendo sempre mantido as “melhores relações pessoais” com os alunos. Referiu que alguns dos alunos eram “especialmente problemáticos”, tendo, por isso, de recorrer a um tom de voz “mais ríspido” com eles. Alegou que apenas toca com a mão nas cabeças das crianças “com intuito pedagógico, sem qualquer agressividade”.

Por causa deste processo, a docente foi alvo de um processo disciplinar, mas apenas relativo aos anos em que leccionou na escola de Fragoso. O processo acabou por ser arquivado.

Uma outra docente que trabalhou na mesma escola com a arguida disse que esta é uma “boa professora”, com “objectivos bem definidos, que faz todos os possíveis para os atingir e que se dedica à turma que lhe está distribuída”. “Depois, há pais que não gostam que ela seja tão exigente para os filhos e reagem desta forma”, acrescentou, quando ouvida em interrogatório.

Os adultos que trabalharam nas escolas da arguida e que foram ouvidos, desde auxiliares a professores e psicólogos, disseram todos que não presenciaram as agressões.

A juíza de instrução refere que a isto não deverá ser alheio o facto de a arguida ser, na altura, a coordenadora do agrupamento. Mas sublinha que não ter havido testemunhas não significa que as agressões não tenham existido. Vinca ainda que as queixas continuaram quando a professora mudou de escola, de Aldreu para Fragoso.

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