Maria Ana Bobone: “O meu desafio agora é compor para fado”

Com Camané e outros convidados, apresenta no São Luiz fados ao piano, alguns deles inéditos. Este sábado, às 21h.

Fotogaleria
Maria Ana Bobone DANIEL ROCHA
Fotogaleria
Maria Ana Bobone DANIEL ROCHA
Fotogaleria
Maria Ana Bobone DANIEL ROCHA

Cinco anos depois do seu disco Fado & Piano (de 2012), a fadista Maria Ana Bobone apresenta no Teatro São Luiz um espectáculo onde o piano (tocado por ela) volta a ser central. Será este sábado, pelas 21h, com alguns convidados, entre os quais Camané.

“Percebi que este era um caminho consistente”, diz ela ao PÚBLICO. “E não voltei a ele, continuo no trilho de harmonizar e trazer novos arranjos a coisas que já existem e a compor para a linguagem que o piano me permite. Em termos de ambiente sonoro, abre-me outras possibilidades.” Nascida no Porto, a 5 de Dezembro de 1974, Maria Ana Bobone tem vários discos gravados, a solo ou em parceria: Alma Nova (1994, com Miguel Capucho e Rodrigo Costa Félix), Luz Destino (1996, com João Paulo Esteves da Silva, Ricardo Rocha e Mário Franco), Senhora da Lapa (1998), Nome de Amar (2006), Fado & Piano (2012) e Smooth (2014), este cantado em inglês com sonoridades pop.

O piano teve, desde cedo, um papel na sua vida. Começou a estudá-lo aos sete anos e aos 12 entrou no Conservatório, onde concluiu cursos de piano e também de canto. Cantar fado e tocar piano em simultâneo não a atrapalha. “Eu percebo que o fado é a exposição máxima dos sentimentos e pede grande compenetração. Mas assim a pessoa foca-se em duas coisas ao mesmo tempo, a voz e o piano, não podendo focar-se excessivamente em nenhuma delas. O que também é bom porque há uma certa anulação do ego, estamos ocupados a servir a música em duas frentes e há uma parte de nós que não tem lugar.”

Rendida à palavra

Iniciada na música, Maria Ana Bobone tem vindo valorizar cada vez mais os textos: “Tenho-me rendido à palavra. A música é que me tocava, desde muito nova, sempre foi. As palavras, ouvia-as depois. Mas com o amadurecimento tenho-me apercebido de que a palavra é primordial.” E isso, diz, marcará o seu próximo trabalho. “O meu desafio agora é compor para fado ou mais aproximada ao fado, o que ainda não fiz. Escrevi algumas canções, depois compus em inglês e isso foi bom para desbravar caminho, e agora o que é que se me põe? Escrever na minha língua, escrever na minha música.”

Nesse caminho, e nessa busca, descobriu coisas de que nem sequer suspeitava. “Estive a fazer pesquisas e a mergulhar em poesia. A minha grande descoberta, para o novo disco e para este concerto, foi Fernanda de Castro [1900-1994], não saber que ela compunha. Fiz uma visita à Casa-Museu António Ferro e pude ver nas partituras, nos manuscritos, que ela escrevia de uma forma fabulosa. Comoveu-me tudo: a história, a personagem e as poesias, que sendo de uma certa época são de uma grande qualidade.” E vai cantar também Fernando Pessoa. “Gosto da dimensão angustiada, existencial, dele, revejo-me nisso. Essa parte é muito susceptível de se cantar e diz respeito a toda a gente.”

Novo disco em 2018

A par de Fernanda e Fernando, Maria Ana Bobone cantará no São Luiz “alguns fados mais tradicionais”, entre os quais alguns com poemas de David Mourão-Ferreira. “Este concerto tem algumas coisas já do próximo disco mas também pega em muitas coisas de trás, fica a meio caminho entre o passado e o futuro.” O novo disco deverá sair em 2018, talvez no final do primeiro trimestre. “Já tenho bastante repertório feito.”

Com Maria Ana Bobone (voz, piano e guitarra acústica) estarão Bruno Mira (guitarra portuguesa), Pedro Pinhal (viola de fado) e Rodrigo Serrão (contrabaixo e direcção musical; Rodrigo também já co-produzira, com ela, o disco Fado & Piano). E alguns convidados, a começar por Camané, que junto com ela interpretará dois temas seus, Sei de um rio e A Guerra das rosas. Artur Caldeira, guitarrista clássico, do Conservatório de Braga, é outro dos convidados (“Vou cantar com ele alguns temas, só voz e guitarra clássica”), bem como, ambos da Gulbenkian, a violinista Maria Balbi (“talentosíssima”) e o cantor Manuel Rebelo (“um barítono que tem uma voz absolutamente fantástica”).

Sugerir correcção
Comentar