Fundador de nova tendência do CDS acusa Cristas de violar estatutos

Abel Matos Santos admite recorrer para o Tribunal Constitucional caso o movimento interno seja travado.

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Abel Matos Santos diz que a participação de antigos líderes na vida do partido seria uma mais-valia Miguel Manso

Abel Matos Santos, fundador da Tendência Esperança em Movimento, corrente que se quer formalizar no CDS, acusa a direcção de Assunção Cristas de violar os estatutos ao não promover reuniões plenárias nas concelhias e distritais após as autárquicas, de “perseguir militantes” e de “apagar” a história do partido no site. Em declarações ao PÚBLICO, Abel Matos Santos teme que a formalização da tendência seja chumbada e que seja definitivamente afastada no congresso de 2018.

A corrente começou a assumir-se, em parte, justificando-se com a falta de atenção que a direcção do CDS dá às estruturas locais e aos militantes. Agora, a acusação endurece o tom. “Os estatutos, no seu artigo 14º, determinam que as estruturas concelhias e distritais têm de reunir 45 dias após o apuramento de resultados de eleições. Temos dezenas de concelhias e de plenários distritais que não reuniram ainda. Temos concelhias que funcionam com delegados, isso tem de acabar”, afirmou o democrata-cristão, que é vice-presidente da concelhia do CDS de Lisboa. Contactado pelo PÚBLICO, o secretário-geral do CDS, Pedro Morais Soares, considera que a crítica não faz sentido: “Estão a realizar-se plenários distritais e concelhios até em maior número do que há quatro anos. Há cada vez mais envolvimento das estruturas do partido”.

Abel Matos Santos argumenta estar em causa a discussão de resultados autárquicos: o CDS teve em Lisboa um “bom resultado”, mas no resto do país “teve menos votos apesar de ter ganho mais uma câmara”.  

O porta-voz da tendência – que herdou entre os seus fundadores militantes que pertenciam ao movimento interno Alternativa e Responsabilidade de Filipe Anacoreta Correia - queixa-se das “dificuldades burocráticas sem sentido e artificiais” colocadas pelo partido à formalização do movimento. O processo foi enviado para Conselho de Jurisdição do partido por causa de dúvidas em torno das assinaturas e deverá ser decidido em breve. Mas a expectativa é baixa. “Vão pedir-nos para assinar mais um papel ou vão remeter para Janeiro. Chegam ao congresso e ainda mudam os estatutos e não querem tendências. Há pessoas que defenderam isso na comissão política”, afirma, admitindo recorrer da decisão para o Tribunal Constitucional.

Abel Matos Santos remete para a direcção os motivos das dificuldades que lhe têm sido colocadas. Mas não poupa Assunção Cristas, agora empenhada nas conferências Ouvir Portugal: “Um líder forte – seja quem for – beneficia com isso [maior pluralismo na discussão interna], cresce com isso. Não pode ser pura cosmética, uma conferência aqui, uma conferência ali.”

Questionado sobre se o eventual chumbo tem a ver com a associação da tendência a ex-líderes do partido como Manuel Monteiro, Abel Matos Santos considera que Monteiro “é uma mais-valia” e que dar relevância a ex-presidentes é uma oportunidade para Assunção Cristas poder “reunir castristas, monteiristas, portistas”. Defensor da memória histórica do partido, o dirigente concelhio aproveita para criticar a actual direcção do CDS por “não fazer funcionar” o Senado, órgão que reúne antigos presidentes do partido, ou por “apagar a história do partido no site”. Críticas que surpreenderam o secretário-geral do CDS e que considera não fazerem sentido.

Defendendo um “verdadeiro investimento” nas estruturas locais, o fundador da tendência assegura que há “perseguição de militantes” no âmbito das autárquicas, “por razões sem sentido”. E dá um exemplo: “Então o Abel Batista [ex-deputado que concorreu contra o CDS em Ponte de Lima] não tem nenhum processo e outros têm porque foram para uma mesa de voto numa freguesia em que o CDS nem sequer concorreu?”  

Com ou sem a chancela oficial – e o respectivo lugar inerente na comissão política nacional - os fundadores da tendência prometem levar uma moção ao próximo congresso de Março de 2018.

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