Sobras, inveja y verguenza

Há outra pobrezas. Escorrem das notícias para o quotidiano dos portugueses em fase de preocupação com o natal.

Se os super-ricos ficarem ainda mais ricos, o número dos pobres aumentará enormemente. Os impostos que a Administração dos EUA perdoará aos multibilionários, amigos de Trump, não irão acorrer aos gastos com as despesas sociais dos mais desfavorecidos. O Estado servirá para criar as melhores condições para os multibilionários e as piores para os mais desfavorecidos que nos EUA são uns largos milhões.

Destarte há quem defenda que desta pirâmide social hão de escorrer sobras que aproveitarão aos pobres. Estas medidas geraram calamidades sociais nos EUA e na Grã- Bretanha com Ronald Reagan e Margaret Tatcher que iniciaram este tipo de políticas.

Sim, se os mais ricos ficarem ainda mais ricos porque o Estado se coloca ao lado dessa ínfima minoria, o efeito imediato é o alastramento da pobreza…

Um Estado enfraquecido, sem impostos que asseguravam uma certa redistribuição social, não poderá fazer frente a encargos sociais próprios de uma sociedade moderna que se paute por valores de dignidade humana.

Um em cada cinco habitantes do nosso planeta vive com um ou dois dólares por dia. Duzentas e vinte e cinco grandes fortunas possuem aproximadamente os rendimentos de dois mil e quinhentos milhões de pessoas, cerca de quarenta e dois por cento da Humanidade…

Seguramente que alguma coisa há de escorrer para os pobres vindo das sobras dos muito ricos, nem que sejam esses um ou dois dólares por dia. Ou as ajudas dos bancos alimentares. Alguém se lembrará dos pobres.

Quanto às sobras restará a ideia de que há seres humanos, nossos irmãos em humanismo, que aguardarão as sobras. Outros, uma percentagem absolutamente insignificante, poderão ter tanto como mais de quarenta e dois por cento da Humanidade.

Ao menos Trump assume o seu mundo. Por cá Belmiro de Azevedo também achava que com baixos salários se podia edificar um país decente… como se só ele se levantasse às sete horas.

Às sobras andavam exércitos de pedintes na Idade Média e no início da revolução industrial, batendo de porta em porta. Há sessenta anos Salazar ensinava que a pobreza punha à prova os que queriam ou não dar esmola. Eram um bem para fazer caridade.

Assumamos: deve metade da Humanidade viver de sobras? Para Trump sim. E daí muros a fechar o vizinho do Sul. E daí rasgar os acordos sobre alterações climáticas. E daí o boicote à Conferência mundial sobre as migrações. E daí zero de impostos para os super-ricos. Os pobres que se amanhem, ou não é por isso que são pobres?

2.  Há outra pobrezas. Escorrem das notícias para o quotidiano dos portugueses em fase de preocupação com o natal.

Uma delas resulta de um entendimento do género para-divino que consiste em que os líderes do PSD, que foram obrigados a resignarem-se por não terem sido capazes de alcançar os objetivos a que se propuseram, serem guindados a comentadores imparciais nas televisões públicas ou privadas na nossa lusa paróquia.

Esses lugares do Olimpo televisivo também estão reservados a figuras dirigentes do PSD, PS e CDS. Gente do arco da governança.

A pobreza de alguns destes comentadores é tão indigente que o inenarrável Luís Marques Mendes, no "seu" espaço dominical na SIC declarou no dia 1 de abril que Mário Centeno nunca teria a menor hipótese de ser eleito presidente do Eurogrupo. Achincalhou o ministro das Finanças dizendo que o sentia inchado. Aliás ajudado claramente pela jornalista e até pelo sério e mavioso José Gomes Ferreira. Até onde chegou a imbecilidade e o sectarismo mais odiento. Marques Mendes, que não tem graça por motivos óbvios, atirou ainda que devia ser a piada do dia das mentiras…

Se houvesse um pingo de honradez naquela casa demitiam os três por confundirem jornalismo com cartilhas ideológicas bem oleadas. Mas os lugares por inerência dos ex- líderes do PSD são intocáveis.

Com a eleição de Centeno a SIC cobriu-se de ridículo e vergonha. Mas isso era se a tivessem.

3.  A Espanha de Mariano Rajoy vai mal. Mariano não compreende a razão que levaram as populações a retirarem o nome do assassino e carniceiro franquista, Salvador Moreno, a uma rua. O facto de ser coautor de um massacre de três mil e quinhentos inocentes que fugiam dos horrores da barbárie franquista não diz nada a Rajoy. Para este cavalheiro Salvador Moreno deve ver perpetuada a sua memória por tão vil ato.

Os tempos mudaram. Não estamos em 1937. Estamos em 2017. Por isso os dirigentes da Generalitat não são executados como em 1937. São presos em 2017, mesmo havendo eleições. O Supremo Tribunal considerou, há dias, que não havia perigo de fuga, mas que defenderiam o que sempre defenderam, mantendo assim as condutas ilegais e, por isso, ficaram em prisão. Que ricas eleições. Se mesmo deste modo ganharem os independentistas, que fará Rajoy?

 

 

 

 

 

 

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