João Braga com fados de agora e de outrora ao vivo e em disco

Celebra 50 anos de fados e lança um disco onde gravou João Ferreira-Rosa mas também Manuel Alegre, Zeca Afonso e Tiago Torres da Silva. Esta quinta-feira no Teatro São Luiz, em Lisboa, às 21h.

Fotogaleria
João Braga juntou, para festejar esta data redonda, inéditos gravados há 30 anos e temas novos DANIEL ROCHA
Fotogaleria
João Braga DANIEL ROCHA
Fotogaleria
João Braga DANIEL ROCHA

Gravou o primeiro disco há 50 anos e lança um novo agora, depois de meio século de fados, discos e palcos. João Braga, 72 anos feitos em Abril, lança o disco Outrora Agora pela Valentim de Carvalho no mesmo dia em que sobe ao palco do São Luiz, em Lisboa, para um espectáculo com convidados e amigos, em parceria com o Museu do Fado. É esta quinta-feira, 7 de Dezembro, às 21h. E o disco, que junta temas gravados há 30 anos (mas inéditos) e outros gravados agora, foi buscar o título a um poema de Fernando Pessoa que termina assim: “Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele outrora!/ E eu era feliz? Não sei:/ Fui-o outrora agora.”

Ao PÚBLICO, João Braga explica a razão do título e da escolha. “Escolhi esse título, primeiro, por causa do Pessoa. Depois porque consubstancia muito aquilo que se passa no disco. Em 1980 gravei para a Valentim de Carvalho um LP que acabou por não ser editado. Ora passados estes anos todos, numa conversa com o David Ferreira, disse-lhe que era giro ver se finalmente saía um disco meu na Valentim. E ele, que já está afastado da editora, disse isso ao Francisco Vasconcelos.” Falariam depois, João Braga e ele, definindo o que viria a ser o novo disco, com parte dos temas gravados em 1980 e também com temas novos, daí o “outrora agora”. João Braga: “Reconheci, não por conveniência, que não faz o meu género, mas porque merece ser reconhecido, que aquilo era uma coisa datada e que se algumas canções fossem ouvidas agora havia muita malta abaixo dos 40 ou 50 que diria assim: ‘o que é que este gajo quer dizer?’”

Zeca e Michel Legrand

Decidiu-se, então, aproveitar (por sugestão de João Braga) cinco dos temas já gravados e gravar sete novos. “Começo com os de agora e acabo com os de outrora.” Uma das novas gravações é um tema de Zeca Afonso, Maria (que ele compôs quando conheceu aquela que viria a ser a sua mulher, Zélia, no Algarve). “Tem uma melodia linda. Um dia, o Edgar Canelas, da Antena 1, perguntou-me porque é que nenhum fadista tinha pegado nessa canção.” Foi há uns quatro ou cinco anos. João Braga lembrou-se disso e gravou-a. “É uma balada muito bonita. Não tem a dinâmica do Zeca, porque nada tem a dinâmica do Zeca, aquela ânsia dele a cantar, mas tem mais ternura do que ânsia. E acho que saiu bem.”

Um dos temas vindos de 1980 é Aquela velha mulher da Mouraria. “Para mim é dos poemas mais pungentes, mais bonitos, que o João Ferreira-Rosa fez. Fortíssimo, quase dramático. E cantei-o no Fado Alberto, porque foi o primeiro fado que eu gravei, em 1967, com um poema lindo do João Fezas Vital. Depois peguei numa outra coisa que ele também escreveu quando estava no Brasil e que diz ‘Portugal país distante/ em qualquer lado do mar/ morre o soldado na guerra/ morre o fadista a cantar/ de novo regresso à terra/ onde aprendi a brincar.’ Quando regressou, deu-me esse fado para eu cantar.” E sugeriu-lhe o Fado Menor, que ele contestou. “Para já não gosto do nome. E não gosto do tom, é lamecha, lamuriento, derrotista, tudo aquilo de que eu não gosto no fado.” Mas como João Ferreira-Rosa insistia que aquele era o rei dos fados, João Braga sugeriu a Fontes Rocha (que tocou nas gravações de 1980, com António Luís Gomes, ambos na guitarra portuguesa; “Paquito” Andión na viola de fado; e Joel Pina na viola baixo) uma melodia: The windmills of your mind. “Era do Michel Legrand, mas baseado no segundo andamento da Sinfonia Concertante do Mozart. E quando a música dá a volta, aí entra o Menor!”

Ficou assim e pode ser ouvido no disco. Tal como, mas gravados hoje, vários fados com poemas de Manuel Alegre. “Ele tinha-me dado já uns versos, com o título Palavras não eram ditas, que têm a qualidade e a elegância do Manel mas são ligeiramente brejeiros. E decidi gravá-los num fado tradicional, o Fado Magala. E deu-me outro, muito bonito, que teve de ser uma balada. Chama-se Senhora não vás ao rio. Pedi a música ao João Mário Veiga e depois acrescentei-lhe uma parte, a autoria é dos dois.” Há no disco ainda mais Alegre: Rua dos Correeiros, “que ele escreveu para fado e é cantada numa marchinha".

Outro dos compositores que também integra o disco é Tiago Torres da Silva, com Amor somente. “É daqueles poemas que me tocam imediatamente”, diz João Braga, que também escreveu uma letra. “Comecei a pensar no Palavras não eram ditas e escrevi Como quem não quer a coisa. E este não é erótico-impertinente, como chamei ao poema do Manel, é brejeiro mesmo. É a primeira vez que num disco meu sai uma letra assinada por mim.”

Sugerir correcção
Comentar