Muito tempo à frente do ecrã? Faça pausas a cada 20 minutos, recomendam oftalmologistas

Congresso Português de Oftalmologia realiza-se entre quinta-feira e sábado, em Vilamoura, no Algarve.

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mrh Martin Henrik

Regular o ar condicionado e fazer pausas a cada 20 minutos, olhando para longe, são duas recomendações dos oftalmologistas para compensar as excessivas horas frente ao computador. Estas não trazem lesões permanentes à visão, provocam alterações e queixas.

"Uma das medidas é seguir a regra dos 20-20-20, ou seja, parar a cada 20 minutos durante 20 segundos e olhar para uma distância de 20 pés, que é cerca de seis metros", explica Fernando Vaz, responsável pelo grupo de ergoftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). O congresso português de Oftalmologia realiza-se entre quinta-feira e sábado, em Vilamoura, no Algarve.

O especialista reconhece que "cada vez mais as pessoas usam computadores, tablets ou smartphones e, por isso, estão cada vez mais expostas a um esforço de visão para perto, que exige mais atenção, com o olho mais aberto e que pestaneja menos, ficando por isso mais seco".

Fernando Vaz sublinha que o uso dos computadores ou tablets "não traz lesões irreversíveis", mas "lesões pontuais", que dão origem a queixas, mas que podem ser compensadas com medidas preventivas. O responsável coordenou um estudo numa empresa, onde analisou cerca de 80 funcionários.

Assim, foi observado que os trabalhadores que tomavam medidas preventivas como as pausas a cada 20 minutos, o lubrificar do olho com lágrima extra, o cuidado com o regular do ar condicionado, tentando manter alguma humidade, conseguiam facilmente recuperar das lesões provocadas pela longa exposição ao ecrã (mais de duas horas).

O estudo concluiu que "é preciso que se esteja muito tempo ao computador, mais de duas horas, para ter repercussão e que, se cumprimos algumas regras, atenuamos as queixas e podemos usar o computador com uma melhor performance", resume Fernando Vaz, sublinhando que "as alterações provocadas são reversíveis, não ficam connosco sempre, mas assim que voltamos às mesmas condições voltam a aparecer as mesmas queixas".

"Não há baixa de visão, nem lesões permanentes. Há apenas lesões pontuais enquanto estamos a usar computador por longos períodos, mas que se conseguem controlar com algumas medidas preventivas", acrescenta.

O especialista explica que "o olho está preparado para ver ao longe" e recomenda aos pais que estabeleçam regras para o uso dos equipamentos electrónicospelos filhos, insistindo nas pausas a cada 20 minutos, "para olhar para longe e dessa forma relaxar os músculos usados na visão de perto e estimular os outros".

"Fazer pausas não é para sair do sítio. Basta desviar o olhar, olhando para longe, pois vamos relaxar o olho e, ao pestanejar mais, também lubrificamos mais", acrescenta o especialista, para quem o número de horas máximo de uso para os mais novos não deveria exceder as duas horas por dia.

Além destas pausas e dos conselhos para afastar os ecrãs o mais possível, Fernando Vaz frisa a importância de usar a opção nightshift (redução de luminosidade) nos equipamentos, sobretudo a partir do final do dia. "Esta opção diminui a quantidade de luz azul emitida. É que um certo comprimento de onda de luz azul pode chegar à retina e causar potenciais alterações e um aumento da prevalência de uma doença de degenerescência relacionada normalmente com a idade", explica.

Além disso, esta luz "dá uma mensagem errada à glândula que regula o estado dia/noite no organismo e diz-lhe que é de dia, logo, o cérebro liberta certas substâncias e mantém-nos acordados", dificultando o adormecer e fazendo com que se tenha um sono mais irrequieto. Por isso, Fernando Vaz defende que se devem evitar estes estímulos antes de deitar, deixando de usar os aparelhos meia hora ou uma hora antes de ir para a cama.

Mas se a exposição excessiva aos ecrãs não provoca lesões permanentes, o mesmo não acontece com o glaucoma, uma doença que se estima afecte 150.000 portugueses e que ainda assim está subdiagnosticada. O presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, Monteiro Grillo, insiste na importância da prevenção, uma vez que o glaucoma é um inimigo silencioso da visão, pois na maior parte dos casos não dá sintomas.

"A pessoa deve ir ao oftalmologista. Antigamente é que havia menos acesso, sobretudo nas pessoas do interior do país. Hoje é importante lembrar que uma ida ao oftalmologista pode prevenir o aparecimento de lesões irreversíveis", defende. "A prevalência do glaucoma é maior a partir dos 40 anos e é fundamental a pessoa prevenir", avisa.

Monteiro Grillo sublinha que "não se sabe quantos casos de glaucoma estão ignorados" e lembra que, sem prevenção, "muitas dessas pessoas poderão ter problemas complicados de resolver no futuro".

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