Comissão de Pedrógão analisou proposta sobre criação de unidade militar de emergência

Proposta acabou por não ser integrada no relatório. Presidente da comissão diz que autarquias desvalorizaram avisos sobre gravidade das condições meteorológicas.

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João Guerreiro, presidente da Comissão Técnica Independente, voltou a ser ouvido pelos deputados nesta terça-feira LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Afinal havia outro anexo: a Comissão Técnica Independente que analisou os incêndios da região de Pedrógão Grande teve em cima da mesa uma proposta sobre a constituição de uma unidade militar de emergência que integre todos os ramos das Forças Armadas, à semelhança do que acontece em Espanha, mas acabou por não a incluir no relatório final por ter uma natureza muito mais abrangente do que os incêndios e por não se tratar de uma “resposta imediata” ao que lhe era pedido sobre os fogos florestais.

A justificação foi dada esta tarde aos deputados pelo presidente da comissão, o ex-reitor da Universidade do Algarve João Guerreiro, e pelo tenente-coronel Frutuoso Mateus (nitidamente o mentor da proposta). Guerreiro realçou que “todos os membros da comissão consideraram a proposta interessante”, mas que excedia as competências dadas à comissão. “É um tema para debate e discussão, que tem que ser levantado e acompanhado”, defendeu. 

Frutuoso Mateus considerou que esta unidade militar de emergência fortemente inspirada no modelo espanhol pressupõe um “novo paradigma” de funcionamento conjunto das Forças Armadas entre si e com as outras forças da Protecção Civil Seria uma unidade mais robusta do que aquela que o PSD defendeu na semana passada, com a proposta a descer à comissão parlamentar de Defesa sem votação. Frutuoso Mateus contou que, apesar de não ser incluída no relatório, foi apresentada ao Presidente da República, ao presidente do Parlamento, ao primeiro-ministro, ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e até ao general Ramalho Eanes. Este modelo precisa, porém, de ser discutido ao nível do Governo, dos conselhos superiores Militar e de Defesa, e da Assembleia da República, porque interfere com as leis de programação militar e de base das Forças Armadas, descreveu.

Tratar-se-ia de uma unidade militar integrada tipo regimento, localizada de preferência no centro do país, e com sub-unidades descentralizadas pelo território, com um comando único e uma força de projecção para o terreno em meia hora, e comandos operacionais junto de outras entidades como a protecção civil, os sistemas de informação e segurança e de emergência médica, descreveu sucintamente Frutuoso Mateus, admitindo que se trata de um grande investimento. “O âmbito de acção desta unidade não se restringia a incêndios, mas abarcava todas as catástrofes naturais e até mesmo acções de terrorismo.”

Já sobre o sistema de comunicações de emergência, o SIRESP, os técnicos continuam a dar menos importância às suas falhas, que foram recorrentes nos incêndios deste ano. Para o presidente da CTI, o sistema como existe é “atrasado”, uma vez que se trata de tecnologia TETRA (2G), contudo, admite, tem “potencial” que não foi “aproveitado por questões orçamentais” – a utilização da tecnologia satélite. Este potencial pode ser aproveitado através do investimento em mais antenas móveis que usam rede satélite. Apesar disto, os técnicos continuam a admitir a possibilidade de substituição desta tecnologia por uma nova. Uma medida que deveria ser tomada a nível europeu, defendeu.

Falando sobre as condições extremas dos incêndios de Junho, João Guerreiro apontou várias “falhas”, como a não antecipação da fase Charlie, a falta de mobilização e de reposicionamento de meios. “Falhas que comprometem a Protecção Civil mas também as câmaras municipais e as juntas de freguesia”, por não terem em atenção os avisos do IPMA, com “uma semana e meia de antecedência”, sobre a “gravidade das condições meteorológicas que se estavam a preparar”.

Apesar de ter ficado de fora a proposta de criação de uma unidade militar, os técnicos propuseram a criação de uma agência que coordene a resposta a todo o tipo de catástrofes naturais, e não apenas a incêndios rurais. Uma proposta que foi acatada pelo Governo. José Manuel Moura, um dos especialistas que participaram no grupo, defendeu que “o país tem de ter uma força dedicada. A nível nacional tem de haver uma força dedicada para numa situação de excepção fazer diferença, temos de apresentar músculo”, declarou.

No próximo ano já haverá algumas novidades no combate a incêndios, como o reforço dos grupos de intervenção permanente (GIPS-Grupos de Intervenção de Protecção e Socorro da GNR), mas as alterações estruturais de combate vão demorar algum tempo a implementar. com Liliana Valente

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