Deutsche Bank disponibiliza a Mueller informação financeira de Trump

Procurador especial que lidera investigação sobre as suspeitas da interferência russa nas eleições norte-americanas intimou o banco alemão a entregar documentação da sua relação com o Presidente dos EUA.

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O Deutsche Bank é o maior credor de Trump e tem uma relação de mais de 20 anos com o agora Presidente dos EUA Reuters/LUKE MACGREGOR

Os dados financeiros de Donald Trump no Deutsche Bank foram entregues a Robert Mueller, o procurador especial que lidera a investigação sobre as suspeitas de interferência da Rússia nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 e o possível conluio com a campanha do então candidato republicano.

O jornal alemão Handelsblatt foi quem primeiro avançou com esta notícia, tendo a informação sido confirmada por vários órgãos internacionais como o Guardian ou a Bloomberg, citando fontes próximas ao processo. Os dados financeiros foram disponibilizados pelo banco alemão — que é o maior credor do Presidente norte-americano — depois de ter sido intimado formalmente a fazê-lo há várias semanas por Mueller.

Segundo o que foi sendo avançado nos últimos meses, Trump terá uma dívida de mais de 280 milhões de euros ao Deutsche Bank, mas o Presidente dos Estados Unidos já negociou várias reestruturações, o que poderá ter reduzido o valor desta dívida. Além disso, o banco hipotecou várias propriedades de Trump – um hotel em Washington e outro em Chicago, e um resort em Miami. O seu genro e conselheiro, Jared Kushner, a filha mais velha, Ivanka, e a sua mulher, Melania, são também clientes do maior banco alemão.

O Deutsche Bank referiu apenas à Bloomberg que colabora sempre com investigações, sem prestar mais informações.

O banco foi sendo pressionado nos últimos meses por vários congressistas democratas a disponibilizar mais informações sobre a sua relação comercial com o Presidente e, concretamente, com o montante que este deve. No entanto, o Deutsche Bank recusou sempre disponibilizar os dados, argumentando com a obrigatoriedade legal de respeitar a privacidade dos seus clientes.

Nas últimas semanas a evolução da investigação de Mueller indicava que este estaria a construir um caso de obstrução à justiça contra Trump, partindo da demissão do ex-director do FBI James Comey. O último episódio aconteceu no fim-de-semana quando o Presidente escreveu no Twitter que despediu o seu antigo conselheiro de segurança nacional, Michael Flynn, “porque ele mentiu ao vice-presidente e ao FBI”. Foi a primeira vez que Trump relacionou o afastamento de Flynn com o crime de que este se declarou culpado, na sexta-feira. Com esta afirmação, há quem defenda que o Presidente realizou uma admissão do crime de obstrução à justiça, pois, ao revelar ter tido conhecimento de que Flynn tinha mentido ao FBI, Trump não poderia ter solicitado a James Comey que encerrasse uma investigação ao recém-demitido conselheiro de segurança nacional. O advogado de Trump veio depois a público garantir que tinha sido ele a escrever a afirmação.

Com este pedido ao Deutsche Bank, tudo indica que o procurador especial está a seguir o rasto do dinheiro e estará à procura de alguma relação financeira entre Trump, ou a sua família, e Moscovo.

Como explica o Guardian, Mueller pode ter recorrido ao banco alemão devido não só à relação de mais de 20 anos que a instituição tem com Trump mas também com oligarcas russos e outros negócios realizados em Moscovo – alguns deles foram criticados e escrutinados pelos reguladores em vários países (na própria Rússia, na Alemanha, no Reino Unido ou nos EUA) devido à falta de controlo e à suspeita de casos de branqueamento de capitais.

A equipa de Mueller, segundo o que foi sendo noticiado nos últimos meses, já analisou a compra de apartamentos detidos por Trump por parte de russos e outros negócios do agora Presidente com empresários da Rússia.

Pelo menos três pessoas ligadas à campanha de Trump já foram acusadas e detidas por MuellerPaul Manafort e Rick Gates, detidos no início do mês, declararam-se inocentes. George Papadopoulos, antigo conselheiro para a política externa da campanha do actual Presidente, admitiu ter mentido às autoridades sobre os contactos que manteve com os russos.

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