Centeno promete “desafiar os equilíbrios feitos”

Eleito para ser o novo presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças português elogiou Dijsselbloem, prometendo imitá-lo na procura de consensos. A seguir acrescentou que aquilo que traz de novo é a tentativa de “questionar, encontrar os erros”.

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Mário Centeno junto ao ministro das Finanças luxemburgês, Pierre Gramegna, e à ministra das Finanças letã, Dana Reizniece-Ozola Reuters/FRANCOIS LENOIR

Confirmou-se o favoritismo e Mário Centeno foi eleito presidente do Eurogrupo. Ao lado do seu antecessor Jeroen Dijsselbloem, Centeno disse apenas que iria tentar imitá-lo na tentativa de “gerar consensos”. A seguir, numa conferência de imprensa dada isoladamente, foi mais longe, prometendo “desafiar os equilíbrios feitos” na condução da política da zona euro. Conseguir atingir estes dois objectivos em simultâneo será o grande desafio do ministro das Finanças português, que ontem, teve, a seguir à eleição, o seu primeiro teste em Bruxelas.

Será apenas a partir do dia 13 de Janeiro que Mário Centeno irá assumir o cargo de presidente do Eurogrupo, mas esta segunda-feira, após a reunião em que foi eleito, teve de fazer em Bruxelas um primeiro ensaio do que vai ser ocupar dois cargos em simultâneo: o de líder do grupo de ministros das Finanças da zona euro, a quem cabe por vezes a tarefa de criticar as políticas económicas seguidas por alguns países, e o de ministro das Finanças português, a quem cabe por vezes defender-se das críticas feitas pelas instituições europeias.

Logo por coincidência, na reunião desta segunda-feira, no ponto anterior à eleição, o Eurogrupo analisou as recomendações que tinham sido feitas pela Comissão Europeia sobre os orçamentos do Estado dos países da zona euro. Em relação a Portugal, o Eurogrupo disse ter tomado nota dos riscos detectados pela Comissão. Mário Centeno optou por deixar este tipo de tema apenas para quando desempenha em exclusivo o papel de ministro das Finanças. Na conferência de imprensa que deu em conjunto com o ainda presidente do Eurogrupo Jeroen Dijsselbloem, o comissário europeu Pierre Moscovici e o o Presidente do Mecanismo de Estabilidade Europeu Klaus Regling recusou-se a comentar questões internas portuguesas, mas, a seguir, na conferência de imprensa como ministro das Finanças, minimizou aquela que foi a posição do Eurogrupo sobre o OE português. “Temos tido algumas sessões de linguística quando lemos estes comunicados”, afirmou. E quando questionado sobre se a opinião do Eurogrupo sobre o orçamento iria levar o Governo a mudar alguma coisa na sua política respondeu inediatamente que “com certeza que não”.

Mário Centeno também optou, quando estava ao lado de Dijsselbloem, por ser mais moderado na exposição dos seus objectivos para o desempenho do novo cargo. Elogiou o seu antessessor pela forma como tentou que houvesse acordo entre os ministros das Finanças. “Gerar consensos é a única maneira de avançar, temos que aprender com as lições dos outros”, disse Centeno, referindo-se a Dijsselbloem que retribuiu com um conselho: manter o caminho que foi traçado, “sem relaxar” na estabilidade orçamental. Algumas horas antes já tinha avisado contra o risco de complacência.

O ministro português preferiu não responder. Mas a seguir, aos jornalistas portuguesas, mostrou que não vê o seu mandato à frente do Eurogrupo apenas como uma tentativa de gerar consensos. “Questionar, encontrar os erros, trazer mais abertura a estas discussões”, foram alguns dos objectivos traçados por Centeno, que resumiu tudo afirmando que tentará “desafiar os equilíbrios feitos” na zona euro.

São duas as áreas, as que mais em foco vão estar na agenda do Eurogrupo dos próximos meses, onde o novo presidente terá oportunidade de desafiar esses equilíbrios: a conclusão da avaliação à Grécia, com um possível alívio da dívida, e os planos de reforma da zona euro, com mudanças nas instituições e nas regras orçamentais europeias.

A eleição de Centeno era dada como quase certa à partida para este Eurogrupo. De tal modo que o próprio Jeroen Dijsselbloem, logo à chegada ao encontro, cometeu o deslize de afirmar aos jornalistas que seria ele o presidente “até dia 12 de Janeiro e Mário Centeno a 13". Quando se apercebeu que se tinha adiantado à votação dos 19 Estados membros, o ainda presidente tentou emendar. "Eu disse Mário Centeno? Claro que não sei isso. Por favor não me citem", afirmou às televisões que realizavam transmissões em directo.

Ainda assim, a eleição acabou por não ser tão fácil como se poderia esperar. Na primeira volta, Centeno obteve 8 votos, a dois dos 10 necessários para garantir uma maioria, tendo o segundo classificado obtido cinco. A seguir, saíram da corrida a letã Dana Reizniece-Ozola e, a contragosto e sob pressão de vários países, o eslovaco Peter Kazimir. O ministro português derrotou então o candidato luxemburguês Pierre Gramegna na segunda volta da eleição. O comunicado final do Eurogrupo faz uma referência a uma vitória por unanimidade.

Ainda no que diz respeito aos reflexos que a sua eleição vai ter em Portugal, Mário Centeno também voltou a defender que “nada muda na política interna”. “O que nós agora ganhámos foi a possibilidade de trazermos [para o debate sobre a construção europeia] um conjunto de princípios que são do PS, estão no programa de Governo, e em que nada prejudicam a condução da política do Governo”, disse.

E, no dia em que o presidente da República assinalou que “agora somos ainda mais responsáveis do que antigamente, não pode haver nem descuido, nem aventuras em matéria financeira em Portugal”, Mário Centeno disse “é apenas um novo patamar dessa exigência”. 

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