Vacina para a dengue retirada do mercado nas Filipinas

Programa de vacinação que previa abranger mais de 730 mil crianças foi suspenso na sexta-feira. Efeitos adversos foram reportados em pessoas vacinadas que nunca tinham sido expostas ao vírus.

Foto
A venda, distribuição e marketing da vacina contra o vírus da febre de dengue foi suspensa ROMEO RANOCO/Reuters

O Governo das Filipinas pediu que a farmacêutica francesa Sanofi interrompa a venda, distribuição e comercialização da sua vacina contra o vírus da febre de dengue (Dengvaxia) neste país, depois de a empresa ter anunciado, na semana passada, que, em alguns casos, a imunização poderia piorar a doença. A decisão ocorre poucos dias depois de o país do Sudeste Asiático ter suspendido um programa do Governo para imunizar centenas de milhares de crianças com a Dengvaxia.

“Em defesa da saúde pública, a Food and Drug Administration, FDA [agência norte-americana que vigia os fármacos e alimentos] deu imediatamente ordem à Sanofi para suspender a venda, distribuição e marketing da Dengvaxia, até o cumprimento das directrizes da FDA”, afirmou a agência do Governo filipino num comunicado no site divulgado esta segunda-feira.

A FDA também deu ordem à Sanofi para realizar uma campanha de divulgação e determinou que todos os estabelecimentos onde a vacina é vendida devem reportar qualquer episódio, morte ou doença grave de qualquer pessoa, associado à Dengvaxia.

Responsáveis da empresa farmacêutica Sanofi disseram na segunda-feira que não houve registo de óbitos relacionados com a vacina que seria usada para imunizar cerca de 734 mil crianças de nove anos ou mais nas Filipinas. “Tanto quanto sabemos, tanto quanto formos informados, não há registo de mortes associadas à vacinação para a febre de dengue”, afirmou durante uma conferência de imprensa Ruby Dizon, director médico da empresa farmacêutica, citado pela BBC online.

As crianças receberam pelo menos uma dose da vacina como estava previsto no programa governamental de vacinação que custou 3500 milhões de pesos (cerca de 59 milhões de euros). O programa de vacinação, segundo a BBC, foi suspenso na sexta-feira.

A Sanofi previa arrecadar quase mil milhões de euros em vendas anuais com a Dengvaxia, a primeira vacina contra a dengue aprovada. Agora, depois destes problemas de segurança e provas clínicas que revelam uma protecção desigual para diferentes estirpes do vírus da dengue, mesmo as mais modestas e mais recentes previsões de vendas dos analistas são consideradas inatingíveis. Além das Filipinas, a vacina também estará registada na Argentina, Austrália, Bangladesh, Bolívia, Brasil, Camboja, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Indonésia, Malásia, México, Paraguai, Peru, Singapura, Tailândia e Venezuela.

A notícia da BBC adianta ainda que a vacina também foi usada num programa público de imunização no Brasil e que, juntando os dados com os registos do esquema em prática nas Filipinas, terá sido usada (pelo menos, uma dose) em cerca de um milhão de pessoas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou também na segunda-feira que espera rever os dados de segurança sobre a vacina contra a dengue da Sanofi ainda este mês. Os receios envolvem um possível risco aumentado de se ser infectado pelo vírus para as pessoas que anteriormente não foram expostas a ele antes da vacinação com Dengvaxia. Assim, no seu mais recente alerta sobre esta vacina, a OMS recomenda que a Dengvaxia só deva ser administrada a pessoas que se saiba que já foram antes infectadas pelo vírus.

A infecção do vírus da dengue transmite-se através da picada dos mosquitos do género Aedes infectados com o vírus, não ocorrendo transmissão pessoa a pessoa. Os insectos que o transmitem existem em extensas áreas do planeta, particularmente nas regiões tropicais e subtropicais.

A doença manifesta-se, geralmente, por febre, dores de cabeça, dores nos músculos e nas articulações, vómitos e manchas vermelhas na pele e, embora mais raramente, por um quadro hemorrágico mais grave. A principal medida de prevenção é a protecção individual contra as picadas dos mosquitos. Estima-se que existam mais de 400 milhões de infecções anuais distribuídas por 120 países situados nos trópicos. Todos os anos, o vírus mata cerca de 25 mil pessoas.

Sugerir correcção
Comentar