Um dos Prémios Bial vai tornar-se mais internacional

Prémios passarão a ser atribuídos em anos alternados. O Grande Prémio Bial Medicina vai transformar-se no Prémio Bial em Biomedicina, sendo mais internacional, enquanto o Prémio Bial de Medicina Clínica estará mais ligado a Portugal e aos países de língua oficial portuguesa.

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A ideia é promover a investigação biomédica e em medicina clínica Maria João Gala

Os Prémios Bial vão ter mudanças já a partir do próximo ano. Haverá na mesma dois prémios, mas serão atribuídos em anos alternados. O Grande Prémio Bial Medicina passará a chamar-se Prémio Bial em Biomedicina (Bial Award in Biomedicine), procurará ter um âmbito mais internacional e a sua primeira edição será em 2019. Já o Prémio Bial de Medicina Clínica mantém-se nos mesmos moldes, decorrerá em 2018 e terá como presidente do júri Manuel Sobrinho Simões.

Tudo começou em 1984. Nesse ano, surgia o Prémio Bial com o objectivo de incentivar a investigação médica e divulgar obras nessa área. Na altura, havia um primeiro e segundo classificados. Em 1992, desdobrou-se no Grande Prémio Bial de Medicina e no Prémio Bial de Medicina Clínica, entregues de dois em dois anos, modelo que se manteve até agora. O valor dos prémios foi variando: em 2016, o Grande Prémio Bial de Medicina foi de 200 mil euros e o Prémio Bial de Medicina Clínica foi de 100 mil euros. Ao todo, foram distinguidos 266 autores, assim como atribuídos mais de 2,6 milhões de euros. Agora, há novas mudanças.

“O prémio de Medicina Clínica será atribuído nos anos pares e o Bial Award nos anos ímpares”, diz ao PÚBLICO Luís Portela, presidente da Fundação Bial sobre as principais mudanças. “Enquanto no Prémio Bial de Medicina Clínica são os próprios autores que se candidatam, no Bial Award deixa de haver a possibilidade de os autores se candidatarem. Serão as sociedades científicas, os membros do júri e os membros do conselho científico da Fundação Bial que poderão propor esse prémio entre os textos com mais significado em ciência nos últimos dez anos.” E destaca: “Os conceitos serão diferentes, os anos de atribuição serão diferentes e os jurados serão diferentes. Procuramos, de facto, ter dois prémios diferentes.”

Vejamos então os dois galardões. O Prémio Bial em Biomedicina será entregue a partir de 2019 e terá um valor de 300 mil euros. “Premiará uma obra publicada desde Janeiro de 2010, de índole biomédica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância científica”, lê-se na informação enviada pela Fundação Bial. Serão candidatas obras propostas pelo júri, que também pode convidar instituições científicas a apresentarem propostas. Ainda a definir, este júri incluirá representantes do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês), do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, da Associação Europeia de Medicina, do conselho científico da Fundação Bial, anteriores vencedores dos Prémios Bial, assim como de revistas científicas internacionais de destaque.

“Queremos que o Bial Award seja um prémio claramente internacional”, refere Luís Portela. “Não haverá nenhum foco na ciência que se faz a partir de Portugal. Os portugueses poderão ser candidatos em pé de igualdade com os investigadores de todo o mundo.”

Já o Prémio Bial de Medicina Clínica, no valor de 100 mil euros, continuará nos mesmos moldes. “Visa galardoar uma obra intelectual original, de índole médica, com tema livre e dirigida à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância”, refere o regulamento do prémio, que acrescenta que não são elegíveis trabalhos já publicados em artigos ou teses e que, pelo menos, um dos autores terá de ser um médico nacional de um país de expressão oficial portuguesa. O júri é presidido por Manuel Sobrinho Simões e será composto por professores das faculdades e escolas de medicina em Portugal.

Pouca investigação clínica em Portugal

“Quando me perguntaram, achei muito bem separar ano sim ano não. Fui muito a favor desta ideia”, afirma Manuel Sobrinho Simões. “Gosto muito que os investigadores clínicos portugueses sintam que têm de dois em dois anos a possibilidade de concorrer separadamente. De alguma maneira, a junção dos dois prémios tirava a importância relativa ao Prémio Bial de Medicina Clínica e podia parecer que era uma espécie de segunda categoria, que não era”, frisa o patologista, que já tinha presidido o júri em 2006.

E salienta a necessidade deste tipo de investigação centrada na realidade portuguesa: “Precisamos imenso de desenvolver em Portugal a investigação clínica e a de translação [passagem do laboratório para a aplicação nos doentes], mas numa lógica de ligação aos centros de saúde, hospitais, instituições e doentes. Portanto, deve-se acentuar a necessidade de haver uma investigação clínica que tenha interesse para os doentes e as populações. Esta investigação é importantíssima e nós em Portugal não a temos acarinhado.”

Sobrinho Simões gostaria que prémios como estes, atribuídos por entidades privadas, servissem de exemplo para o próprio Estado. “Seria de esperar que o Estado português criasse programas ou uma agência que também estimulasse a existência de projectos de investigação na área clínica e de translação”, afirma. “A investigação clínica e de translação não pode ser julgada com os mesmos critérios da investigação básica”, acrescenta, dizendo que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (a principal entidade de financiamento público da ciência) está formatada para avaliar essa investigação de uma forma muito baseada nos modelos que se aplicam às ciências duras, como a matemática ou a física.

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