Se fosse novo...

Porque é que as crianças preferem livros novos? Porque os adultos meteram-lhes essa preferência na cabeça.

Num alfarrabista está um senhor que descobre um livro sobre baleias. "Que pena ser em segunda mão", diz ele, "senão dava ao meu sobrinho". Ficou um instante a namorar as páginas do bonito livro, à venda por apenas 2 euros, e voltou a encafuá-lo na prateleira.

Tive vontade de me intrometer, para encorajá-lo a levar o livro ("ele é maluquinho por baleias!") ou, no mínimo, saber que idade preciosa é que tinha o sobrinho para impedi-lo de receber um livro já folheado por dedos anteriores.

Assim se faz com as crianças. Porque é que elas preferem livros novos? Porque os adultos meteram-lhes essa preferência na cabeça. As crianças até gostam de envelhecer os livros, lendo-os (ou fazendo-os ler) até à exaustão. São os adultos que compram os livros novinhos em folha e depois " não têm tempo" para lê-los uma única vez ou ao menos até perceberem se querem continuar a lê-lo ou não.

As crianças estrangeiras têm Kindles nas mãos - as mais pequenas com as letras monstruosamente ampliadas - e lêem uma frase de cada vez, sacudindo-a quando querem outra.

Se lêem no Kindle ou num telemóvel, num livro novo ou num num velho, a única coisa que interessa é que estão a ler, sozinhas, metidas noutro mundo onde são elas que ditam as ocasiões e as velocidades.

Porque é que uma criança não pode receber uma caixa inteira de livros em segunda mão, escolhidos a pensar nela, por alguém que pensa que pode apreciá-los? Que interessa se custaram pouco ou que têm as encadernações cansadas? Estamos todos doidos.

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