Palavras, expressões e algumas irritações: desaparecimento

A semana que passou levou-nos duas personalidades que será raro o português que as desconheça: Belmiro de Azevedo e Zé Pedro. “Desapareceram” dois homens cuja junção num mesmo texto contraria todos os cálculos probabilísticos.

É um substantivo masculino e significa, em primeiro lugar, “acto ou efeito de desaparecer”. Também se pode traduzir por “ausência”, “descaminho” e “morte”.

É sobre “morte” que queremos falar, mas faltou-nos a coragem de a chamar para título. Por isso, escolhemos “desaparecimento”, um sinónimo eufemístico.

A semana que passou levou-nos duas personalidades que será raro o português que as desconheça: Belmiro de Azevedo e Zé Pedro. “Desapareceram” dois homens cuja junção num mesmo texto contraria todos os cálculos probabilísticos. Mas o calendário fê-los “deixar de existir” em dois dias consecutivos: quarta e quinta-feira.

Um empresário e um músico. O primeiro fundou o PÚBLICO; o segundo, os Xutos & Pontapés. Dois lugares de liberdade.

A jornalista Ana Sá Lopes recorda no Sol um episódio a que também assistimos: “(…) Belmiro é chamado a uma comissão parlamentar e impõe aos deputados uma reunião às oito da manhã. Discutia-se na redacção que se o Público fosse um jornal livre teria coragem para dizer mal do patrão que estava a ser indiscutivelmente populista. Eu disse que escrevia a dizer mal do patrão. Escrevi. Como qualquer visado em textos de opinião, Belmiro de Azevedo mandou uma carta ao director de então, José Manuel Fernandes, a protestar com o que considerava uma injustiça. Apenas. Não se passou mais nada. Não fui prejudicada na minha vida profissional no Público (...)”

Vítor Belanciano descreve Zé Pedro: “(...) Quando os Xutos & Pontapés nasceram, a sua guitarra destacou-se de imediato. E a sua personalidade também. Por um lado personificava o signo do músico rebelde e empenhado com o colectivo, mas ao mesmo tempo o que expôs desde sempre foi generosidade e humanismo. Existem outros músicos do rock feito em Portugal igualmente influentes ou relevantes, mas com o seu magnetismo é pouco provável (...)”

A economia e a cultura perderam carisma. Lamentamos. Bastante.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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