Energia Simples quer passar de mera comercializadora a parceira da REN

De comercializadora de electricidade e gás, a Energia Simples quer passar a ser prestadora de serviços à REN, para ajudar a gestora da rede a garantir o equilíbrio entre a produção e o consumo num sistema com cada vez mais renováveis.

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Manuel Azevedo quer transformar a Energia Simples numa “comercializadora digital agregadora” Daniel Rocha

A comercializadora da empresa PH Energia quer criar uma plataforma de gestão energética que permita, através da compra de electricidade a produtores independentes, ajudar a REN a fazer o balanço entre a produção e o consumo no sistema eléctrico português. Para preparar esse mercado já está a comprar energia a uma central eólica, a uma mini-hídrica e a um parque fotovoltaico.

Quais são os próximos caminhos de crescimento da Energia Simples?
Nunca quisemos vender só energia eléctrica. Aquilo que queremos é ser uma comercializadora digital agregadora, ou seja, prestar um serviço de agregação ao operador do sistema [a REN], para ajudar no equilíbrio entre produção e consumo, que será tanto mais importante quanto mais renováveis existirem no sistema. Para isso precisaremos de uma plataforma de gestão energética que se baseia na compra de energia a produtores independentes, colocando-os à disposição da REN no momento em que esta ou precisa de consumo, ou não precisa de produção. Uma renovável pode ser desligada do sistema e recebe na mesma uma tarifa pela quantidade de potência que não disponibiliza naquele momento. Pelo contrário, o operador pode pedir para consumir e isso pode fazer-se com o armazenamento da energia eléctrica de um parque eólico ou de um fotovoltaico. Nós estaríamos nos dois pólos.

E querem ser os pioneiros desta área?
Sim. É óbvio que para isso temos de comprar energia eléctrica a produtores independentes, e em Portugal trata-se de um mercado residual porque 90% da produção tem tarifas bonificadas e é comprada por uma única entidade [a EDP]. Mas é preciso preparar esse mercado e já estamos a comprar a uma hídrica, a uma eólica e a um parque solar, esse feito de raiz sem tarifa. Não estou à espera que o Governo acabe com as tarifas bonificadas [da produção em regime especial]. A minha expectativa é que coloque a produção à disposição dos comercializadores, para que possam assinar contratos de representação com os produtores.

Quando é que isso poderia concretizar-se?
Se tudo correr bem, daqui a dois anos. Em Espanha, os produtores são obrigados a colocar a energia através de uma representação de um comercializador no mercado à vista e recebem do sistema eléctrico um valor pela potência instalada. Isso faz com que todos os comercializadores possam comprar energia verde. Se se fizer uma análise ao mercado espanhol, existem 20 mil empresas que dizem que têm energia verde. Aqui, a liberalização da comercialização correu bem, e nos últimos dois anos passámos para 20 e tal comercializadores, mas não se liberalizou a produção. Daí que a solução pudesse passar por permitir a agregação aos comercializadores ou então por acabar com as tarifas bonificadas.

Isso é improvável.
Sim, infelizmente o anterior Governo expandiu os contratos e muitos vão acabar em 2027 com uma tarifa de mercado assegurada, que é uma coisa que levanta muitas dúvidas, porque temos de resolver o problema do défice tarifário o mais rapidamente possível. Essa tarifa é de 70 euros por MWh, quando no último ano a energia eléctrica esteve a 40 euros, ou seja, é uma tarifa altamente bonificada. Isto não é do interesse de ninguém, porque não reduz o défice tarifário a tempo e horas, nem cria mercado do lado da produção. Por outro lado, os donos dos parques eólicos não estão dispostos a fazer investimentos. É preciso não esquecer que 40% do parque eólico está velho. Se não houver nenhuma alteração, pode acontecer que daqui a cinco anos os parques eólicos desapareçam.

Está a falar da possibilidade de os investidores aumentarem a potência dos parques e renovarem os equipamentos?
O Governo ainda não sabe muito bem o que fazer com isso, e os investidores também não sabem o que fazer porque ninguém lhes dá garantias. As entidades públicas têm de dizer o que querem. Não há nenhum investidor que esteja à espera tarifas bonificadas daqui a cinco anos, eles só querem que seja bem claro como é que o mercado vai funcionar e o que pretende o Governo.

O Governo ainda não foi claro?
Acho que a tutela ainda não teve tempo para pensar nisso. Hoje é um problema que não é muito grave mas se esperarmos mais um, ou dois anos, pode vir a sê-lo. Porque estamos a falar de parques que já têm 15 anos e que é preciso renovar, e os investimentos não são feitos de um dia para o outro.

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