O Amiens não precisou de Macron para ser feliz

O Presidente francês prefere o Marselha ao clube da sua cidade natal, que está a ter uma boa época de estreia na Ligue 1.

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O Amiens já conseguiu nesta época empatar com o campeão Mónaco REUTERS/Benoit Tessier

Nem todas as equipas estreantes nas grandes ligas europeias desta época são como o Benevento, o super-último da Série A italiana, com zero pontos em 14 jornadas e um regresso ao segundo escalão quase garantido. O catalão Girona está, por enquanto, tranquilo a meio da tabela na Liga espanhola, já com uma vitória caseira sobre o Real Madrid no currículo, mas o melhor estreante das “big five” está numa cidade a norte de França, cujo nativo mais famoso mora agora no Palácio do Eliseu, em Paris. Emmanuel Macron, Presidente francês, é de Amiens, mas prefere ir ver jogos de futebol ao Vélodrome, estádio do Olympique de Marselha, do que ao Stade de la Licorne, casa do Amiens Sporting Club, a equipa sensação da Ligue 1 deste ano.

Os meses de Abril e Maio foram de festa em Amiens, Primeiro, Macron, filho da cidade, era eleito Presidente em Abril, batendo na segunda volta Marine Le Pen. Depois, foi o Amiens a garantir, da forma mais dramática possível, uma inédita subida ao primeiro escalão do futebol francês. Até convidaram Macron para ir ver o jogo que daria a promoção ao clube, em Reims, e enviaram ao presidente francês, que cumpriu um “treino” com o plantel do Marselha durante as férias de Verão, uma camisola com o seu nome e o número 17. Macron não apareceu, mas o Amiens não precisou dele para dar boa sorte.

Um golo no sexto minuto do tempo de compensação de Emmanuel Bourgaud elevou a equipa ao segundo lugar da Ligue 2 e à promoção, numa luta que envolvia seis equipas. Era um dos maiores feitos da história do clube nos 116 anos da sua existência (chegou a ir a uma final da Taça de França quando estava na terceira divisão em 2001, e foi derrotado nos penáltis pelo Estrasburgo), e ainda mais incrível porque se tratava da segunda promoção consecutiva. E muito do que o Amiens tem feito na Ligue 1 deve-se a um núcleo de jogadores que já estava no clube desde a terceira divisão, como o guarda-redes Regis Gurtner, o defesa Julien Ielsch, ou o médio Thomas Monconduit. Conta ainda com o talento do itinerante Gael Kakuta, e com o avançado Lacina Traoré, que até há pouco tempo era um dos goleadores do Mónaco.

Há várias conexões ao futebol português. Prince Gouano, defesa francês, e Bongani Zungou, médio sul-africano, jogaram no Vitória de Guimarães na última época. Quem já não está em Amiens para os momentos de glória do clube é o avançado maliano Moussa Marega, que esteve lá em 2013-14 (nove golos em 36 jogos), antes de dar o salto para o futebol português. E quem olhar para o plantel do Amiens irá reconhecer o apelido de Issa Cissokho, o experiente lateral internacional senegalês que é o irmão mais velho de Aly Cissokho, antigo jogador do V. Setúbal e do FC Porto.

O verdadeiro herói desta história é Christophe Pélissier, o treinador que conduziu o clube às promoções sucessivas e que mantém o Amiens num ritmo tranquilo na Ligue 1. Pélissier chegou a Amiens em 2014, salvou a equipa da despromoção à quarta divisão e, em duas temporadas, colocou-a entre os grandes de França. Mas não é a primeira vez que Pélissier faz algo assim.

Conseguiu fazer um feito semelhante com o Luzenac, de uma vila nos Pirinéus com pouco mais de 600 habitantes. Apanhou a equipa na quinta divisão, e com a ajuda de Fabien Barthez como director-desportivo chegou à segunda divisão em sete anos, mas os poderes do futebol francês não deixaram que uma equipa de uma terra tão pequena competisse numa liga profissional, e o salto para a segunda divisão transformou-se numa queda para o sétimo escalão. O azar do Luzenac foi a sorte do Amiens, que recorreu a Pélissier e teve mais do que esperava.

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