Uma “fava” e dois “brindes” num grupo de reencontros
Espanha, Irão e Marrocos no caminho de Portugal no Grupo B. Todos já foram adversários da selecção nacional em anteriores Mundiais.
Entre todos os potenciais adversários de Portugal na fase de grupos do Mundial de 2018, a Espanha surgia à cabeça como o mais indesejado, mas os caprichos do sorteio desta sexta-feira, em Moscovo, colocaram as duas selecções ibéricas em rota de colisão na Rússia. Ironicamente no dia em que se comemorou o 377.º aniversário da Restauração da Independência, que separou em definitivo os dois Estados peninsulares.
Marrocos e Irão completam o Grupo B, onde, se prevalecer a lógica, não terão grandes argumentos para contrariar o favoritismo das duas equipas que têm dominado o futebol europeu nos últimos anos e que estarão frente-a-frente no dia 15 de Junho, em Sochi.
Esta será também uma fase de grupos de reencontros para Portugal em matéria de Mundiais. Defrontou Marrocos e Irão nas fases de grupos do México 1986 e Alemanha 2006, respectivamente, e ainda a Espanha nos oitavos-de-final da África do Sul 2010. E, exceptuando o confronto com a equipa do Médio Oriente, orientada pelo português Carlos Queiroz, as recordações não são positivas.
No único confronto em que mediu forças com o conjunto magrebino a equipa nacional acabou derrotada por 3-1, saindo pela porta pequena da competição mexicana. Não conseguiu também travar os espanhóis na prova sul-africana – com o actual seleccionador do Irão como timoneiro da equipa nacional –, onde perdeu por 1-0, abrindo o caminho para o único título mundial conquistado pela “roja”. Menos problemático foi o encontro com o Irão em solo germânico, que venceu por 2-0, seguindo em frente até ser afastada da final pela França, com um golo solitário de Zidane.
Optimismo moderado
No rescaldo do sorteio, o seleccionador Fernando Santos oscilou entre o optimismo e a cautela, não fugindo ao seu estilo habitual. “Portugal tem de assumir a sua parte da responsabilidade e de favoritismo quando se olha para um grupo destes, mas quando vemos com outra atenção percebemos que será um grupo muito difícil. Desde logo o primeiro jogo, Portugal-Espanha, importante e que pode marcar. Depois, pelas duas outras equipas que vamos defrontar. Terminaram invictas os seus grupos [de qualificação]”, resumiu, na primeira reacção ao sorteio, citado pela Federação Portuguesa de Futebol.
“A Espanha é naturalmente favorita, como tenho dito sempre. Não é a primeira vez que o digo e não o faço porque vou defrontar a Espanha. Sempre disse que é uma das equipas favoritas a [vencer] este Campeonato do Mundo e a Portugal compete-lhe fazer o que tem feito, que é procurar em cada jogo vencer”, concluiu.
Do lado espanhol, Julen Lopetegui não destoou do português. “Sem dúvida que é um grupo duro, mas isto é o Mundial e as coisas são assim. Portugal é uma selecção muito importante, vem de ser campeã da Europa, Marrocos deixou pelo caminho a Costa do Marfim e o Irão foi a primeira equipa a qualificar-se. Estou contente, no sentido em que já podemos estudar os rivais”, salientou.
Aparentemente satisfeito por ir defrontar a dupla ibérica mostrou-se Carlos Queiroz: “Estou muito contente. Trata-se de um grupo com países especiais para mim: Espanha e Portugal. Vai ser uma competição muito dura, mas o mais importante é o Irão ter vontade de sair deste Mundial com dignidade. Não estou nada preocupado com a Espanha.”
Quem também não quis deitar já a toalha ao chão foi o francês Hervé Renard, que lidera a esquadra marroquina na Rússia. “O primeiro jogo contra o Irão será determinante para o resto do grupo. Jogaremos o segundo jogo contra Portugal. Toda a gente queria evitar a Espanha, calhou-nos a nós”, lamentou, concluindo que o apuramento para os "oitavos" não é uma “impossibilidade”.
Dúvidas e certezas
Outro grupo com duas candidaturas óbvias aos oitavos-de-final é o G, onde o poderio da Bélgica e da Inglaterra sobressaem face à modéstia da Tunísia e do estreante Panamá. Mesmo assim, a selecção africana, 27.ª do ranking da FIFA, promete causar mais problemas ao favoritismo dos europeus do que o conjunto da América Central (56.º), que é uma das grandes surpresas entre as presenças nesta fase final da competição.
Uma relativa incógnita será ainda o desempenho dos quatro integrantes no Grupo H, que reúne a Polónia, Senegal, México e Japão. Pelas performances nas últimas grandes competições, o conjunto europeu e norte-americano partem em vantagem. Mas é um cenário bem diferente daquele que encontramos na maioria dos grupos em prova, em que surge quase invariavelmente um candidato destacado a seguir para a fase de eliminatórias: França, no C; Argentina, no D; Brasil, no E; Alemanha, no F.
Grupo A no caminho
O arranque do Mundial terá como cabeça-de-cartaz um Rússia-Arábia Saudita, que promete extravasar as fronteiras desportivas. Os dois países têm estado em campos opostos na guerra síria e as suas relações diplomáticas não são definitivamente as melhores a seis meses do pontapé de saída do torneio.
Apurada pelo seu estatuto de anfitriã, a selecção russa é a pior classificada do ranking da FIFA de todos os 32 participantes, ocupando uma impensável 65.ª posição na tabela, superada até pelos sauditas, que estão dois lugares acima. Mesmo assim, o factor casa poderá ser fundamental para as esperanças do conjunto eslavo em prolongar a sua permanência no torneio para além da fase de grupos.
Consideravelmente mais fortes serão os argumentos do Uruguai (21.º) em seguir para os "oitavos", mantendo-se como grande incógnita o desempenho do Egipto (31.º), que completa aquele que será teoricamente o mais fraco agrupamento em competição.
E o desfecho do Grupo A não é de todo indiferente a Portugal que, caso siga em frente na prova, irá cruzar-se com uma das duas equipas apuradas deste quarteto. Mais complicados serão os quartos-de-final, onde a selecção nacional, caso ultrapasse a eliminatória anterior, irá defrontar uma equipa proveniente dos grupos C ou D, onde se destacam a França e a Argentina.