Anunciado plano de emergência para repatriar migrantes detidos na Líbia

Depois da denúncia de casos de escravatura, UE e União Africana acordam medidas para responder à crise humanitária.

Migrantes esperam pelo repatriamento num campo de detenção na Líbia
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Migrantes esperam pelo repatriamento num campo de detenção na Líbia ISMAIL ZITOUNY/REuters
Muitos dos migrantes são mulheres e crianças
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Muitos dos migrantes são mulheres e crianças ISMAIL ZITOUNY/REuters

As imagens de jovens negros a ser negociados como escravos num qualquer lugar da Líbia obrigaram os líderes da União Europeia e da União Africana, reunidos desde quarta-feira na Costa do Marfim, a anunciar mais do que programas de investimento e promessas de cooperação. Sob impulso de Paris, foi decidido um plano de emergência para levar de regresso a casa milhares de migrantes que a Europa não quer receber e que foram deixados à sua sorte em campos de detenção na Líbia.

O governo de unidade nacional líbio, que controla apenas parte do país, voltou a garantir que está em curso uma investigação para apurar quem são os responsáveis pelo comércio de escravos denunciado na investigação da CNN. E o primeiro-ministro Fayez Sarraj comprometeu-se dar às agências das Nações Unidas total acesso aos campos onde estão detidos milhares de migrantes – centros que aumentaram exponencialmente desde que, no Verão, Itália lançou um programa de cooperação com Trípoli, que mais tarde receberia o aval da UE, para reduzir o número de travessias no Mediterrâneo.

Há muito que as agências humanitárias denunciam os abusos a que estes homens, mulheres e crianças estão sujeitos. Ainda nesta quinta-feira Thierry Allafort-Duverger, director dos Médicos Sem Fronteiras, acusou a UE de ser cúmplice nesta situação, ao financiar o treino da guarda-costeira líbia para travar as embarcações que tentam chegar à costa de Lampedusa. E já em Março um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) tinha alertado que muitos migrantes, sem dinheiro, documentos ou esperanças de chegar à Europa estavam a ser vendidos como escravos.

Foi neste contexto que, numa reunião organizada quarta-feira à noite pelo Presidente francês, nove países, incluindo Chade, Níger, França, Alemanha e Líbia acordaram aquilo que Emmanuel Macron descreveu como uma “operação de emergência extrema” para repatriar rapidamente milhares de migrantes, numa operação que será financiada pela UE e coordenada pela OIM. 

Os pormenores do plano estavam ainda a ser negociados, mas um eurodeputado adiantou à BBC que o objectivo é levar de regresso a casa, até ao Natal, 15 mil pessoas – um objectivo ambicioso tendo em conta que, segundo dados recolhidos pela AFP, nos últimos 12 meses a OIM conseguiu fazer regressar a casa cerca de 13 mil pessoas que estavam retidas na Líbia.

Macron revelou ainda que as a UE e a UA acordaram a criação de uma task-force conjunta, envolvendo polícias e serviços de informação dos dois continentes, com o objectivo de “deter rapidamente os traficantes identificados, desmantelar as redes de contrabando e o seu financiamento”. Dinheiro, admitiu o Presidente francês, “que circula através do sistema bancário e que contribui para financiar também o terrorismo. 

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