Requalificação da fortaleza de Campo Maior já começou

A estrutura militar construída há mais de 400 anos defendia um dos mais antigos troços de fronteira do mundo e é a segunda mais importante fortificação do Alto Alentejo, a seguir à de Elvas.

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O traçado da fortificação é abaluartado e forma um polígono irregular de dez lados com alguns troços já desaparecidos DR

O projecto de requalificação da Fortificação Abaluartada de Campo Maior já está em execução há cerca de mês e meio mas só esta semana é que foi apresentado ao público no centro cultural da vila raiana, vizinha de Badajoz.

Ricardo Pinheiro, presidente da Câmara de Campo Maior, realçou a importância da estrutura militar que é monumento nacional desde 1911, por si só, mas também “pela sua proximidade a Elvas”, onde há dois anos foi concluída a requalificação da fortaleza local.  

A requalificação abrange toda a área de muralha que vai do Baluarte da Boa Vista ao Meio Baluarte do Curral dos Coelhos, incluindo Meio Baluarte de S. Sebastião e Capela de S. Sebastião, o Mártir Santo. Este último local foi ocupado durante quase 40 anos por cerca de 50 famílias de etnia cigana, que tiveram de ser realojadas noutro local em 2015 para possibilitar a recuperação de parte da muralha da fortaleza que aluiu em 2010, pondo em risco a segurança daquelas famílias que ali viviam em barracas. 

Os trabalhos estendem-se a uma extensão de muralhas com cerca de 1600 metros de comprimento e uma altura média de 10 metros. O traçado da fortificação é abaluartado e forma um polígono irregular de 10 lados com alguns troços já desaparecidos.

A fortaleza integra um castelo, que detém ainda duas das suas seis torres originais, um fosso, que é visível em quase toda a extensão da muralha, e uma série de baluartes.  

A intervenção vai implicar movimentos de terra, a reabilitação de alvenarias da fortificação, paredes de taipa, revestimentos, redes de águas, de esgotos e pluviais, instalações eléctricas e calçadas.

O autarca realça que as intervenções que estão a ser efectuadas no monumento “são feitas com base nas técnicas primárias com que este projecto foi idealizado há 400 anos atrás”.

A Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos (APAC) refere que o Castelo e Fortaleza de Campo Maior apresentam-se como sendo “um caso original nas fortificações fronteiriças pela construção em meados do século XVII de um fosso aquático, alimentado pelas águas das ribeiras vizinhas de Campo Maior”.

“Não conhecemos na raia portuguesa qualquer outro caso semelhante” acentuam.

Catástrofe em 1732

“Em Campo Maior estamos perante uma situação em que a evolução da fortificação esteve dependente de mancha de casario, não da geografia militar, nem do terreno preexistente”, assinalam os Amigos dos Castelos. O mesmo aconteceu com Olivença.

As obras da fortaleza em Campo Maior foram iniciadas em 1641 com a adaptação do castelo medieval e da vila ao sistema abaluartado, descrevem os Amigos dos Castelos. A intervenção então efectuada implicou o corte de partes do povoado, a demolições de estruturas e edifícios, o corte de ruas e outras adaptações que se fizeram para a implementação do novo sistema defensivo.

A componente medieval da fortaleza “foi severamente danificada em 16 de Setembro de 1732”, salienta a APAC, descrevendo o dramático acontecimento: “Por volta das três horas da madrugada, durante uma violenta tempestade, registou-se a queda de um raio sobre a torre grande do castelo, utilizada como paiol de pólvora. O paiol estocava, naquele momento, seis mil arrobas (9 mil quilos) de pólvora e cinco mil munições. À violenta explosão seguiu-se um vasto incêndio que, além das vítimas fatais, consumiu mais da metade das habitações da vila, arrasando não só o castelo como a cerca medieval. D. João V ordenou a sua reconstrução, a cargo do engenheiro militar Manuel de Azevedo Fortes, transformando as antigas ruínas medievais numa fortaleza mais pequena, mas de maior operacionalidade”.

Só em 1942 é que se inicia a primeira de uma série de campanhas de reconstrução, reparação e consolidação que se prolongarão até ao final da década de 80 do século XX sob a tutela da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. A partir do final da década de 90 do século XX, o Instituto Português do Património Arquitectónico assume a tutela do castelo e realiza uma série de obras faseadas de recuperação.

A requalificação que está em curso é para ficar concluída dentro de 24 meses e terá um custo final de 4,5 milhões de euros, financiados a 75% por fundos comunitários.     

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