É tão grande o seu legado que não cabe numa folha

O engenheiro Belmiro de Azevedo pertence a um grupo muito restrito dos que fizeram a diferença no país.

Conheci o engenheiro Belmiro de Azevedo ainda eu era estudante. Em 1971, ele foi uma das pessoas que, sob coordenação do professor Rodrigo Guedes de Carvalho, criou o Centro de Ligação da Indústria à Faculdade de Engenharia (CLIFE), com a qual se deram os primeiros passos na relação da academia com o tecido industrial.

Eu era aluno do último ano de Engenharia Química, o curso que Belmiro de Azevedo também tinha completado oito anos antes, e fui o escolhido para fazer o trabalho que o próprio engenheiro Belmiro de Azevedo propôs.

Fui trabalhar para a Sicomol, uma empresa sediada na Figueira da Foz [e que hoje pertence ao universo Sonae], que produzia ágar-ágar a partir de algas. Nessa altura tive uma relação muito intensa com ele. Ele era o co-orientador do meu projecto e tínhamos reuniões muito frequentes. Já então, há 46 anos, conheci um homem com uma visão muito clara e grande determinação. Era um líder.

A actividade do CLIFE foi desenvolvida entre 1971 e 1974, quando a relação entre universidades e empresas era menos que incipiente e por muitos vista como uma excentricidade. O engenheiro Belmiro de Azevedo foi um empresário verdadeiramente visionário, sobretudo porque percebeu muito cedo a importância da cooperação entre empresas e instituições do ensino superior em projectos de investigação, desenvolvimento e inovação.

Depois, já como professor da Universidade do Porto, tive vários contactos com ele. Foi a Faculdade de Engenharia que propôs o seu doutoramento Honoris Causa pela Universidade do Porto, em 2008, ainda antes de eu me ter tornado director.

Na Porto Business School deixou uma marca muito forte no seu desenho actual, já que foi ele quem lhe deu direcção e um modelo que fica.

Foi também graças à sua visão estratégica que a Sonae se tornou um dos principais parceiros da Universidade do Porto em actividades de I&D+i, designadamente no centro de inovação do UPTEC, o nosso parque de ciência e tecnologia.

É tão grande o legado do engenheiro Belmiro de Azevedo que não cabe numa folha. Encontrei as mesmas características de visão e liderança que tinha conhecido em 1971 continuamente ao longo destes diversos momentos. Em todas as instituições, foi clara a forma como ele sempre viu a evolução da indústria e a estratégia para o desenvolvimento económico de Portugal.

O engenheiro Belmiro de Azevedo deu, de resto, um contributo imenso para o desenvolvimento de Portugal, pertencendo a um grupo muito restrito que fez a diferença no país. Deixou uma estrutura muito sólida, que continuará a contribuir para o desenvolvimento de Portugal. E deixa também um legado de uma visão empresarial para o país.

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