Governo dos EUA quer promover encontros com investidores para terminal de Sines

Restrições ambientais à navegação marítima a partir de 2020 podem ser nova oportunidade de negócio para o terminal de Sines. Para baixar emissões de C02, terão de usar mais gás natural como combustível. É um sinal de mais exportações para os norte-americanos.

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John McCarrick diz que Portugal tem um "papel essencial na segurança energética da Europa" DR

O governo norte-americano quer promover encontros entre a ministra do Mar e potenciais investidores, nos EUA, que visem a expansão das suas exportações de gás natural para a Europa através do terminal de Sines.

John McCarrick, vice-secretário de Estado adjunto dos EUA, que se encontrou esta terça-feira com Ana Paula Vitorino, anunciou ter sido discutida entre ambos a “possibilidade de facilitar encontros entre a ministra do Mar e potenciais investidores nos EUA” com esse objectivo, esperando que “esses encontros venham a realizar-se”. 

Foi, acrescentou, “uma longa conversa sobre as formas como Portugal pode desenvolver a infra-estrutura de apoio à importação e possivelmente distribuição de gás natural regionalmente, para outras partes da Europa e Norte de África”. Ao país atribui um "papel essencial na segurança energética da Europa".

O porto português recebeu no último ano e meio seis navios de gás natural liquefeito (GNL) provenientes dos EUA, no total dos 19 destinados à União Europeia neste período, segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA). Depois de Portugal, Espanha, Itália e Holanda, um navio com gás americano chegou pela primeira vez à Polónia, em Julho passado. A Europa representa hoje cerca de 9% das exportações de gás dos EUA.

Face à preocupação com que a Europa central e de leste se preocupa com a sua segurança energética, devido ao domínio do gás russo, os EUA defendem estas exportações como alternativas de abastecimento, ainda que em quantidades reduzidas. “A ideia é ter mercados abertos e transparentes. Não queremos excluir outras fontes, apenas garantir que os europeus têm acesso a um leque diversificado de fornecimento de energia. Vemos um futuro brilhante para o GNL em Portugal e na Europa”, sublinhou.

Algumas novas oportunidades de negócio podem também surgir, na sua perspectiva, com as restrições ambientais que serão colocadas a partir de 2020 à navegação marítima. “Os navios têm de reduzir as emissões [de dióxido de carbono], passando a usar gás natural liquefeito. Algumas companhias comprometeram-se com a mudança e vemos Portugal como ponto natural para fornecer o GNL necessário”.  

John McCarrick considera que “dada a localização e a proximidade de Sines em relação aos EUA, é um acesso lógico, se tiver a infra-estrutura certa criada para a entrega de GNL à Europa”, que contudo ainda não tem. Falta concretizar gasodutos fundamentais, nomeadamente o da travessia dos Pirenéus.

E falta falar da Rússia. “Quando se fala em segurança nacional é em termos de dependência em relação ao gás russo para qualquer sítio na Europa. Isso significa encontrar alternativas. Isso faz-se aumentando o fluxo de gás através dos terminais, incluindo o português”. O objectivo, diz, é “dar opções [de abastecimento energético] aos aliados”, “concorrer nos mercados” e “criar maneiras de os europeus não pagarem montantes exorbitantes por causa de a Rússia ser o único jogador [no gás natural europeu]”.

Quando Donald Trump quer que os EUA sejam a potência de “domínio energético”, a ideia vai além da auto-suficiência. “A ideia da proeminência da energia é essencial. Há um leque de factores, não são apenas os recursos nacionais mas a forma como são extraídos e as tecnologias para os encontrar e explorar”.

A ideia apoia-se também no impacto da “revolução do fracking”, uma tecnologia que permitiu aceder a reservas de gás natural até então impossíveis. “Não é apenas recursos, é uma gama de tecnologias e serviços que podemos fornecer para outros países, porque os desenvolvemos nós próprios e gostávamos de exportar essa capacidade”.

Um “mal-entendido”

Sobre a retirada dos EUA do acordo de Paris, McCarrick apontou o “mal-entendido” de que esse passo significa que o país se desligou dos seus compromissos: “até estamos à frente dos termos do acordo por causa da utilização do gás natural pelo que a ideia de que abandonámos estes temas é falsa”. McCarrick não se pronuncia sobre os últimos relatórios científicos com dados alarmantes sobre o aquecimento global e à pergunta sobre qual será o contributo dos EUA no combate contra a mudança climática diz não ser sua a resposta: “Essa é a questão que ainda tem de ser respondida que é: sob que condições os EUA reentram? Deixo a questão para quem trata das negociações”.

Em relação às energias renováveis e à presença de empresas como a EDP Renováveis, contrapõe o que chama a política de “vencedores” da administração Obama à da actual administração Trump de “não haver vencedores”. “À medida que os custos das renováveis caem e tornam-se mais competitivos, claro que há lugar no mercado para elas. Não estamos a excluir outras fontes, como o carvão e o gás. Tentamos favorecer todas as indústrias. Esperamos que estas empresas consigam ser competitivas no equilíbrio económico e ambiental”.

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