PS-M acusa Lacerda Machado de “desconsideração” e exige pedido de desculpas

Administrador não executivo da TAP considerou queixas dos madeirenses em relação à política de preços da companhia de um “entretenimento” sazonal.

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Lacerda Machado conseguiu reunir criticas de socialistas e sociais-democratas na Madeira Rui Gaudencio

Dois exemplos. Uma simulação de um voo Madrid-Funchal, com escala em Lisboa, partida no dia 12 de Dezembro e regresso a 10 de Janeiro, custava esta terça-feira no site da TAP 244,22 euros.  Se o aeroporto de origem ficasse em Londres, o valor caia para 180,58 euros e se saísse de Barcelona o valor da passagem ficava em 127,55 euros. O mesmo voo (TP1685) com destino ao Funchal, mas apanhando apenas a ligação em Lisboa, portanto mais curto, subia de valor para 312,48 euros.

Segundo exemplo. Uma viagem entre Madrid e Funchal, novamente com escala em Lisboa, partida a 1 de Dezembro e regresso a 7 do mesmo mês fica em 158,60 euros. A mesma ligação aérea (TP1693), mas encurtada para sair em Lisboa cresce para 226,59 euros.

Estas contas são difíceis de explicar aos madeirenses, principalmente aqueles que precisam de viajar nas épocas altas, e a indignação na Madeira subiu esta semana de tom pela forma como Diogo Lacerda Machado, administrador não executivo da TAP, desvalorizou a questão.

“Os madeirenses, todos os anos pelo Natal, pelo Ano Novo e aí pelo mês de Junho têm uma espécie de entretenimento ideal que é queixar-se da TAP”, resumiu o administrador da companhia nacional, à margem do Congresso Nacional das Agências de Viagens e Turismo, que decorreu em Macau, durante o fim-de-semana. Lacerda Machado respondia a uma questão colocada pelo Diário de Notícias da Madeira, sobre a política de preços praticada pela TAP, mas os ecos das palavras do antigo consultor do Governo de António Costa ouviram-se com estrondo no Funchal.

“Acusar os madeirenses e porto-santenses de se entreterem com esta grave situação é muito mais do que um lapsus linguae, é uma tremenda desconsideração e falta de respeito que deve ser corrigida o quanto antes”, reagiu no dia seguinte o PS-Madeira, num comunicado, assinado pelo líder regional Carlos Pereira, que fala em “mau gosto” e “desrespeito” pela região autónoma.

“Sugerimos que Diogo Lacerda Machado meta a mão na consciência e se desculpe desta falha grave porque estamos certos que não corresponde ao entendimento que o governo do PS, na República, tem da ultraperiferia e da autonomia”, escreve Carlos Pereira.

E nem as comparações que Lacerda Machado faz entre a TAP e a outra companhia na rota Funchal-Lisboa – “não os vejo [aos madeirenses] queixar-se da EasyJet que também carrega nas tarifas quando a procura ultrapassa largamente a oferta” – convencem o presidente dos socialistas madeirenses. “Ninguém em Portugal compreende que os contribuintes injectem dinheiro numa empresa para esta se comportar, em todos os momentos e em todas as circunstâncias, como um player totalmente privado e dependente exclusivamente das regras de mercado”, afirma Carlos Pereira, acrescentando: “Não foi para isso que os portugueses e os madeirenses e porto-santensesestiveram do lado da reversão da privatização”.

Lacerda Machado garante que a companhia defende que o modelo de mobilidade para a Madeira seja aligeirado – “mais simples e menos burocrático” – justificando os preços muitas vezes mais baixos de voos internacionais para o Funchal quando comparados com ligações domésticas para o mesmo destino, com questões de mercado.

Política de preços "prejudicial"

Também o governo regional não gostou do que ouviu. Numa semana em que está agendada uma reunião entre a TAP, o ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques, e o executivo madeirense, no âmbito da revisão do Subsídio Social de Mobilidade (SSM) o vice-presidente da região autónoma é cauteloso e não responde directamente a Lacerda Machado.

Mesmo assim, ao PÚBLICO, Pedro Calado não deixa de ser cáustico. “Não é preciso ser muito inteligente para fazer uma pesquisa e comparar os preços Funchal-Lisboa-Funchal com outros destinos internacionais com muito mais horas de voo, e outras condicionantes, e perceber que continuamos a assistir uma diferença muito grande com claro prejuízo para os madeirenses”, observa o vice-presidente, vincando que os madeirenses, bem como os continentais que querem viajar para a Madeira, têm sido “altamente prejudicados” pela política de preços da companhia.

O SSM, que vigora desde Setembro de 2015, estabelece que para passagens aéreas até 400 euros, os residentes na Madeira paguem no máximo 86 euros para o continente, 65 no caso dos estudantes. Os passageiros pagam o valor na totalidade e são, depois da viagem, ressarcidos pelo Estado.

Na teoria, o modelo, que deveria ser revisto após seis meses e só agora começa a ser discutido, assegura a continuidade territorial para a região autónoma. Mas, na prática, tem motivado críticas devido ao preço das passagens, principalmente nas alturas de maior procura em que não é raro um bilhete Funchal-Lisboa-Funchal ultrapassar os 500 euros.

Por isso, a Madeira defende que os residentes paguem apenas o valor do subsídio de mobilidade, fazendo o Estado o acerto de contas directamente com as companhias aéreas.

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