Razões para (não) querermos Centeno no Eurogrupo

Ganhamos em ter Mário Centeno na cadeira hoje ocupada pelo holandês Jeroen Dijsselböem? Quanto? Consegue medir-se?

Mário Centeno já está no Eurogrupo. Não é o seu presidente, é certo, mas já lá está, como um dos ministros das Finanças da zona euro que têm assento naquele órgão informal de governação económica europeia. Ganhamos em tê-lo na cadeira que actualmente é ocupada pelo holandês Jeroen Dijsselböem? Quanto? Consegue medir-se?

É tão difícil responder a estas perguntas como foi difícil, durante dez anos, fazer as contas aos benefícios de ter um português na cúpula da Comissão Europeia. Até porque as obrigações de imparcialidade a que estes cargos estão sujeitos, e o consequente escrutínio, não deixam margem para tratar Portugal de forma diferente e, sobretudo, mais amistosa.

Há muito anos, quando a lei ainda o permitia (e mal), a minha mãe foi minha professora durante um ano lectivo inteiro. Acabei o terceiro período com nota final de cinco valores, em cinco, mas foi a nota que, nesse ano, mais me custou a ganhar. Custou-me em empenho e em harmonia familiar. Em casa, a minha mãe, que até então me ajudava a estudar, deixou de me dar apoio naquela disciplina. Na sala de aula, por mais que eu tentasse sobressair, era como se fosse invisível. A minha mãe tinha de ser apenas a minha professora, nada mais, nada menos. Uma equação impossível, que provocou grandes angústias a ambas. Balanço: perdi mais do que ganhei. Naquele ano merecia ter tido um seis.

Se Mário Centeno for presidente do Eurogrupo não deixará de ser ministro das Finanças de Portugal (o cargo é de sitting minister, ministro em funções, por enquanto). Ao seu trabalho em Lisboa, juntará as funções de líder da reunião de ministros das Finanças da zona euro (o que acontece pelo menos uma vez por mês). Estará lá para defender os interesses de Portugal como, assumo, sempre esteve, sem mais nem menos legitimidade. Mas como líder de um grupo que inclui outros 18 países, terá liberdade para tomar partido? Para colocar os interesses portugueses acima dos outros? Se bem me lembro da minha mãe-professora, dificilmente isso poderá acontecer. Haverá 18 pares de olhos e de ouvidos concentrados em Centeno.

Qual é, então, o grande interesse para o país que nos leva a discutir esta candidatura como se fosse uma questão de sobrevivência política de Portugal na Europa? Além do prestígio, claro, esse benefício tão difícil de medir.

Como eleitora e contribuinte, espero que o Governo me explique bem a importância de ter Mário Centeno na presidência do Eurogrupo, caso a decisão de avançar com a candidatura seja tomada - a data limite para decidir é o dia 30 de Novembro. O que tenho ouvido até aqui – “seria uma grande honra” [António Costa] ou “prestigiante” [idem] – não chega.

Vista daqui, a liderança do Eurogrupo é uma oportunidade de carreira excepcional, como o era a presidência da Comissão Europeia. José Manuel Durão Barroso não voltou para Portugal depois de Bruxelas. É, sim, chairman de um dos mais influentes bancos a nível mundial, o Goldman Sachs. E Jean-Claude Juncker, o primeiro presidente que o Eurogrupo teve entre 1 de Janeiro de 2005 e 21 de Janeiro de 2013, está actualmente a engrandecer o currículo como presidente da Comissão Europeia - na altura era primeiro-ministro do Luxemburgo e ministro das Finanças. O futuro de Jeroen Dijsselböem, esse, logo se perceberá. Para já, está de saída da política.

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