Laços humanos reforçam políticas

Portugal e a Suíça partilham os mesmos valores, objetivos e expetativas para o futuro.

São as pessoas que unem Portugal e a Suíça de uma forma amigável, quase que familiar. Cerca de 270.000 portuguesas e portugueses vivem na Suíça — alguns com dupla nacionalidade. Paralelamente às questões políticas e económicas, estes laços humanos também nos motivam a aprofundar as relações entre os nossos países. Daí a minha visita a Portugal.

Por ocasião da visita oficial do Presidente português à Suíça, em outubro de 2016, ambas as partes concordaram com uma cooperação estreita, em diversas áreas: intercâmbio económico, pesquisa, política energética, ambiental e climática, e cooperação no âmbito da ONU. Com a minha visita a Portugal, nesta terça e quarta-feira, gostaria de prosseguir com este diálogo. Um tema central das conversações com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e com o primeiro-ministro António Costa será a política europeia e as relações entre a Suíça e a União Europeia (UE).

Muito aconteceu nos últimos meses: em dezembro de 2016, o Parlamento suíço aprovou alterações à lei para implementação de um artigo constitucional relativo à imigração, referendado em fevereiro de 2014. As novas disposições não restringem o livre-trânsito de pessoas em países da UE/EFTA e respeitam o princípio da liberdade de circulação de pessoas. Por outras palavras, continuamos a via bilateral comprovada entre a Suíça e a UE. Estes acordos bilaterais são positivos para ambas as partes. A Suíça é o segundo investidor e o terceiro parceiro comercial mais importante na UE, sendo Portugal igualmente beneficiado com este facto.

Os trabalhadores portugueses contribuem para a prosperidade e para a diversidade cultural do meu país. Por outro lado, é impressionante que as portuguesas e os portugueses residentes na Suíça tenham conseguido enviar remessas no valor de 697 milhões de euros (2016) para o seu país de origem.

Política energética e climática como oportunidade económica. Nos últimos anos, Portugal reencontrou o caminho para um crescimento mais forte, o que eu felicito calorosamente. Este facto vem despertar a esperança de que as relações económicas dos nossos países se possam intensificar ainda mais. O setor Cleantech, por exemplo, representa um enorme potencial. Com a Estratégia Energética 2050, a Suíça decidiu melhorar a eficiência energética e aumentar a proporção de energias renováveis na combinação de fontes de energia. A estratégia energética portuguesa está também focada nestas prioridades.

A Suíça e as suas empresas podem contribuir com um grande know-how nesta área. Estou convencida de que se nos concentrarmos mais, de forma coerente, na eficiência energética e na energia proveniente da água, do vento, do sol e da biomassa, isso dará origem desde logo a mais inovação e a mais postos de trabalho. Para além disso, daremos um contributo relevante para a proteção do clima, o que é de grande importância para os nossos dois países e para o mundo inteiro.

Os incêndios devastadores em Portugal que causaram tantas tragédias humanas e danos económicos e que mereceram toda a solidariedade do Governo e do povo suíços, bem como os deslizamentos de terras e as torrentes de lama nos Alpes suíços, no Verão deste ano, provam que devemos assegurar a proteção do meio ambiente e pôr em prática uma “economia livre de carbono”.  

A estratégia para a digitalização da economia é fundamental para os nossos dois países. A Web Summit, em Lisboa, deu lugar a um dos principais encontros europeus setoriais, no âmbito das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Por sua vez, a Suíça será anfitriã do Fórum de Governação da Internet (IGF), em Genebra, em meados de dezembro de 2017. O IGF fornece aos governos, ao setor privado, à sociedade civil e à ciência uma plataforma para debater questões atuais em matéria de digitalização. O objetivo é unir as forças das diferentes partes interessadas e garantir uma Internet segura para todos os utilizadores. Muitas perguntas nos dizem respeito; devemos manter a liderança na Europa e aproveitar as oportunidades que daí advêm. 

Em conjunto, fazer face aos desafios no âmbito da ONU. No que toca a inúmeras questões, Portugal e a Suíça partilham os mesmos valores, objetivos e expetativas para o futuro. O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, expressou-os na Assembleia Geral da ONU: a migração, a Agenda 2030, as alterações climáticas, o cumprimento do direito internacional, especialmente no âmbito dos direitos humanos e da segurança — nenhum país consegue lidar sozinho com os grandes desafios da humanidade. A Suíça quer uma ONU forte, moderna e eficiente. Para que a organização mundial possa desempenhar o seu importante papel, esta deve ser constantemente renovada e o diálogo reforçado. Por isso, apoiamos os esforços, em matéria de reformas, do secretário-geral da ONU.

A Suíça pretende aproveitar a concentração singular de organizações internacionais, atores e competências, em Genebra, para ajudar a resolver os desafios globais. A luta contra o terrorismo e a migração serão igualmente tema das conversações oficiais a realizar em Lisboa.

Além das questões políticas atuais, a minha visita pretende abordar e realçar uma grande constante: o vínculo humano especial existente entre a Suíça e Portugal. Estou, desta forma, grata ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa pelo convite que me endereçou para visitar Portugal e aguardo, com expetativa, a viagem que se aproxima, bem como as etapas seguintes dum percurso comum dos nossos dois países.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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