Washington Post conta como uma organização da alt-right o tentou enganar

Jornal norte-americano diz que recebeu denúncias de abusos sexuais falsas contra o republicano Roy Moore por parte de uma mulher que, aparentemente, colabora com uma organização que tem como objectivo descredibilizar os meios de comunicação social mainstream.

Foto
Reuters/GARY CAMERON

O Washington Post desmascarou nesta segunda-feira uma mulher que abordou o jornal para acusar Roy Moore - o republicano que é candidato às eleições especiais para o Senado no estado norte-americano no Alabama e que foi acusado de abuso sexual contra menores - de a ter violado. A história desta denunciante revelou-se falsa e o jornal acusa-a de pertencer a uma organização que tem como objectivo descredibilizar os meios de comunicação social de referência.

Foi o próprio Washington Post que primeiro publicou as denúncias contra Moore, no início deste mês. O republicano desmentiu sempre estas acusações e recusou afastar-se das eleições para o Senado no Alabama, apesar de algumas figuras do Partido Republicano o exigirem.   

Ora, depois da publicação desta história, o Post conta agora que uma das suas jornalistas foi abordada por uma mulher, que usou um nome fictício para contactar o jornal mas que se chama Jaime T. Phillips, que alegava ter informações sobre o comportamento de Moore. Num encontro com a referida jornalista, Phillips relatou episódios que o jornal descreve como “dramáticos”, alegando que manteve relações sexuais com agora candidato a senador em 1992, quando tinha 15 anos, que levaram a uma gravidez e depois a um aborto.

O jornal explica que não publicou estes relatos pois não tinham sido fundamentados. As jornalistas confrontaram depois a mulher com as inconsistências no seus relatos e com uma publicação no Facebook que colocaram em dúvida as suas motivações para acusar Moore. A resposta de Phillips foi dizer que não trabalhava para nenhuma organização que tem como alvo os jornais.

O Post publicou este artigo depois de, nesta segunda-feira de manhã, ter visto Phillips a entrar num edifício que serve de sede do Projecto Veritas. Esta organização da alt-right trabalha para atingir aquilo que chama de “comunicação social mainstream”, utilizando para isso notícias que se revelam falsas ou vídeos para comprovar a inclinação ou a parcialidade dos media.

O Post refere que tentou contactar James O’Keefe, fundador desta organização, mas este recusou-se a comentar o assunto. O’Keefe foi condenado em 2010 por ter utilizado uma identidade falsa para entrar num edifício federal no âmbito de um esquema anterior para descredibilizar a imprensa.

A campanha de Moore foi também contactada pelo jornal mas não respondeu.

O director do Washington Post, Martin Baron, explica que as declarações de Phillips foram realizadas off-the-record pelo que, em princípio, não poderiam ser divulgadas nem o seu nome referido. Mas Baron esclarece que foi tomada a decisão de divulgar essas gravações pois a conversa “era a essência de um esquema para nos enganar e envergonhar”. Além disso, diz que a “intenção do Projecto Veritas, claramente, era publicitar a conversa” se o jornal “tivesse caído na armadilha”, pelo que o acordo para que as denúncias fossem realizadas off-the-record foi feito “com má-fé”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários